Londres – De tempos em tempo surge uma nova rede social com a proposta de oferecer alternativas aos que andam cansados dos excessos das grandes plataformas.

No Reino Unido, a novidade da vez é Morale, que se apresenta como um antídoto para as redes tradicionais. A ideia é enviar mensagens de encorajamento (chamadas “boosts”) logo de manhã aos amigos cadastrados no aplicativo, que funciona como um serviço de mensagens. 

Quem teve a ideia não foi uma grande empresa de tecnologia. O criador da Morale é Aldwyn Boscawe, um pedicuro interessado em saúde mental que se inspirou em mensagens trocadas com amigos para desenvolver o app. 

Nova rede social sem provocações 

O mecanismo da nova rede social lembra o dos grupos de WhatsApp da família ou de amigos, onde tem sempre alguém postando flores, sol nascendo e frases inspiradoras.

A diferença é que na Morale não tem espaço para o que também aparece nesses grupos, como provocações e notícias negativas. Na apresentação, diz acreditar na interação positiva, simplificando as mensagens e “colocando o humor e o bem-estar dos usuários em primeiro lugar”.

O aplicativo está disponível para download gratuito na Apple Store e Google Play em dispositivos do Brasil.

Apesar de existir uma opção para cadastro sem convite, o app não reconhece números de celular com nove dígitos como os usados no país, não sendo possível criar um perfil de forma direta, apenas mediante convite de um usuário. 

Se a ideia é boa, a tecnologia ainda precisa de ajustes. Mesmo no Reino Unido, depois de baixar o app não foi possível adicionar amigos, nem por meio de convites enviados diretamente aos seus telefones nem pelo link copiado. 

Se Boscawe conseguir resolver os problemas tecnológicos, tem um bom negócio nas mãos, em um momento em que muitos estão cansados e irritados com trolagem nas redes sociais ou com a polarização em grupos de WhatsApp, embora seja quase impossível rivalizar com os gigantes tecnológicos. Ele não seria o primeiro a tentar isso. 

De pedicuro a dono de rede social 

A rede social Morale é mais um dos projetos nascidos na pandemia. Aldwyn Boscawe, que estudou na sofisticada escola inglesa Eton, foi um dos primeiros a abrir um salão dedicado exclusivamente ao tratamento de pés masculinos e ficou famoso por isso. 

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Aldwyn Boscawe (foto: divulgação Aldwyn & Sons)

Antes, formou-se em uma faculdade de agronomia e trabalhou no mercado financeiro e em marketing. Desiludido, teve a ideia de entrar no mundo da beleza masculina, vendo ali uma oportunidade pouco explorada. 

A Aldwyn & Sons foi fundada em 2018, quando ele tinha 28 anos, tornando-se rapidamente um sucesso. Dezoito meses depois, a covid fez com que tivesse que fechar o estabelecimento, que ficava no sofisticado bairro de Fitzrovia, região central de Londres. 

Agora, Boscawen decidiu dar outra guinada na carreira. Ele se uniu a um desenvolvedor web que conheceu ao alugar seu apartamento para criar a rede social que só permite mensagens de encorajamento. 

A proposta é combater a negatividade das plataformas tradicionais, com o objetivo de contribuir para a melhoria do bem-estar e da saúde mental. 

Morale, nova rede social que só permite elogios

Esse é um ponto nevrálgico para muitas delas. O Instagram enfrentou uma tormenta ano passado depois que uma ex-funcionária denunciou a existência de pesquisas internas comprovando danos ao estado emocional de jovens usuários. 

“Meus amigos e eu sempre compartilhamos piadas e mensagens otimistas em nossos bate-papos em grupo logo de manhã”, contou o empresário em entrevista ao jornal Daily Mail.

Ele disse que percebeu o efeito positivo desse hábito, capaz de colocar um sorriso no rosto. E acrescentou que com a Morale, quer que os usuários sintam-se como ele e seus amigos ao trocar mensagens positivas.

A rede social permite o envio de cinco mensagens por dia — e todas anônimas. Além do encorajamento, vale também mandar uma piada ou frase de música capaz de animar o amigo.

Para o criador, o app funciona como uma “rede de apoio de bolso”. 

“É uma maneira simples de mostrar a alguém que você se importa, melhorar o dia da outra pessoa e receber isso de volta também”, disse Boscawen ao Daily Mail.

Foto: Divulgação

À semelhança do WhatsApp, os usuários só se conectam na Morale com quem tiver seus números de telefones.

Dessa forma, é reduzido o risco de se deparar com desconhecidos ou os temíveis “trolls” — anônimos que enviam mensagens negativas, pejorativas ou com xingamentos — enquanto rola o feed.

E quem encontrar uma mensagem indesejada que fuja do “ciclo de positividade” proposto, pode denunciá-la e bloquear os usuários que postaram.

BeReal, outra rede para insatisfeitos 

A ideia de redes sociais menos estressantes da Morale não é a única. A francesa BeReal também ganhou espaço com a promessa de ser uma antítese do Instagram. 

O app só permite a publicação de uma foto por dia, sem qualquer filtro, no momento em que o usuário recebe uma notificação.

E diferentemente da Morale, está disponível para uso no Brasil. 

Nova rede social pode ajudar a diminuir riscos online

A Morale e a BeReal surgem em um momento de amplo debate sobre os riscos que as redes sociais representam para a sociedade, em especial para os jovens.

Em casos recentes nos Estados Unidos, desafios do TikTok são relacionados a morte de crianças.  Há duas semanas, famílias entraram em conjunto com um processo contra a plataforma chinesa após duas meninas, de 8 e 9 anos, morrerem ao realizarem o “desafio do apagão”.

A “brincadeira”, que consiste em prender a respiração até desmaiar, viralizou no TikTok em 2021 e já foi apontada como a causa da morte de outras crianças.

A situação não é favorável para as outras grandes plataformas de mídia social.

A Meta, proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, vive grande pressão dos legisladores americanos para provar que não causa efeitos negativos nos adolescentes — apesar de inúmeras pesquisas dizerem o contrário, principalmente para meninas com problemas de autoestima.

Pensando em amenizar as críticas, o Instagram está testando novas formas de verificar a idade de adolescentes que se cadastram na plataforma. Uma delas é o vídeo selfie, que usa inteligência artificial para estimar a idade com base nas expressões faciais.

Outra face dos problemas é a propagação desenfreada de fake news nas redes.

Estudo recente do Institute for Strategic Dialogue (ISD) mostrou como as mentiras espalhadas por conspiracionistas sobre a covid-19 foram adaptadas para replicar as mesmas falsas teorias sobre a varíola dos macacos, em apenas um exemplo de como as plataformas têm pouco controle sobre a desinformação.

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