O temor após uma série de ataques no México fez com que o velório do locutor Allan González acontecesse sob escolta armada no domingo (14), em Ciudad Juárez.

A cidade no estado de Chihuahua viveu uma onda de violência que deixou 11 mortos na semana passada.

González foi um dos quatro profissionais da rádio Switch FM que foram assassinados durante o conflito que começou entre duas gangues rivais e se espalhou pela região. O veículo suspendeu as transmissões em protesto contra os crimes.

Onda de violência no México atinge imprensa 

O México registra uma letalidade sem precedentes entre jornalistas e comunicadores. Com as últimas mortes, ao menos 17 profissionais da mídia já morreram no país somente neste ano.

O locutor e os colegas Lino Flores, da área de promoções da rádio, Armando Guerrero, gerente de operações, e o segurança Alex Arriaga estavam realizando uma transmissão ao vivo em frente a uma pizzaria quando foram atingidos por tiros dos criminosos.

Gonzalez era um locutor popular na região, com passagens por várias rádios. Ele tinha um programa diário chamado “Persistente e Completo”.

Embora o ataque aparentemente não tenha sido relacionado ao seu trabalho de jornalista, como em outros casos recentes no México, o crime chocou o país, já abalado com as demais mortes de profissionais de mídia que tiveram como suspeitos integrantes do crime organizado. 

Familiares e colegas de Allan González usaram o velório do locutor para protestar contra a violência na cidade que faz fronteira com os Estados Unidos e cobrar das autoridades investigação para o caso.

A violência de quinta-feira (11) teve início dentro de um centro de detenção em Ciudad Juárez.

Membros da gangue Los Mexicles se encontraram e atacaram rivais do grupo Los Chapos. No total, 20 presos ficaram feridos e dois morreram, segundo informações do site Infobae.

Ainda de acordo com o portal, foi por causa desse conflito que se desencadeou uma série de ataques contra a população civil na cidade.

Empresas foram saqueadas e incendiadas e, no total, houve 11 vítimas fatais, incluindo uma criança e os quatro profissionais da rádio Switch FM.

“Devido à infeliz situação de nossos colegas da Megaradio, foi tomada a decisão de suspender a programação, até segunda ordem, agradecemos suas demonstrações de apoio à nossa família, a dor que aflige a todos nós é imensa. Esperamos sua compreensão e lhe enviamos força para enfrentar essa onda de violência”, disse a emissora nas redes sociais.

Inocentes vítimas de ataques no México, diz Obrador

O presidente do México, López Obrador, disse que os comunicadores, assim como as demais vítimas, foram alvos de “retaliação” das gangues:

“A população civil inocente foi atacada como uma espécie de retaliação.

Não foi apenas o confronto entre dois grupos [rivais]. Chegou um momento em que eles começaram a atirar em pessoas inocentes. Essa é a parte mais infeliz.”

Segundo a imprensa local, as duas gangues estão ligadas ao cartel de Sinaloa, comandando pelo traficante Joaquín “Chapo” Guzmán, que cumpre prisão perpétua nos EUA.

O corpo de um dos presos executados durante o motim na prisão foi velado no mesmo local de Allan González. Por causa disso, policiais realizaram a escolta da cerimônia do radialista. 

Durante uma coletiva de imprensa, a empresa Mega Radio, dona da emissora Switch FM, comunicou que estava suspendendo suas transmissões em protesto contra os ataques a seus funcionários.

“É triste estarmos aqui quando deveríamos estar trabalhando”, disse o diretor de notícias da rádio, José Loya, em entrevista à agência EFE no velório de González.

Entidade presta suporte às famílias das vítimas de ataques no México

O governo mexicano informou na sexta-feira (12) que a morte dos quatro profissionais da Switch FM serão investigadas pelo programa federal de Proteção aos Jornalistas, apesar de apontar que os assassinatos se deram como “parte da violência generalizada”.

Ao menos 10 pessoas já foram presas suspeitas de participação nos atentados, segundo a agência EFE.

A Comissão de Direitos Humanos (CNDH) manifestou solidariedade às famílias das vítimas dos ataques no México e disse que dará todo o apoio necessário a elas.

A entidade ainda entrou em contato com a rádio para acompanhar o caso de perto e pediu que o governo faça uma análise de risco e, se for o caso, aplique as medidas de proteção necessárias para garantir a segurança dos profissionais do veículo.

“A CNDH pede às autoridades competentes do estado de Chihuahua que realizem uma investigação diligente, sem omitir nenhuma possibilidade, considerando a atividade profissional das vítimas como um dos possíveis motivos da agressão”, instou o órgão mexicano em comunicado.

Mortes de jornalistas na América Latina

Puxado pelo México, o número de mortes de jornalistas disparou em 2022 na América Latina, ano que já é considerado um dos mais trágicos para a imprensa da região.

Ao menos 17 profissionais da mídia mexicana foram assassinados neste ano. Haiti (3), Equador (2), Honduras (2), Brasil (1), Guatemala (1) e Chile (1) também tiveram crimes, somando pelo 27 atentados letais contra comunicadores.

O número alerta organizações de jornalismo, que monitoram de perto os casos e pressionam o governo mexicano a proteger o trabalho da imprensa.

Um dos casos mais recentes foi o de Antonio de la Cruz, de 47 anos, que trabalhava há quase 30 anos no jornal regional Expresso.

Ele foi atingido por tiros quando deixava sua casa em Ciudad Victoria, no nordeste do país, em 29 de junho. Sua filha de 29 anos também foi atingida e morreu no hospital.

De la Cruz fazia reportagens sobre questões rurais e sociais na cidade localizada na fronteira do estado de Tamaulipas, que enfrenta questões de violência e crime organizado.