As feridas da América Latina e momentos de beleza em meio ao enfrentamento da Covid-19 foram retratados por fotógrafos de várias nacionalidades selecionados para participar do Latin American Foto Festival, uma iniciativa do Bronx Documentary Center de Nova York. A coletânea reúne o trabalho de talentos da fotografia latino-americana com foco em questões sociais. 

Os venezuelanos Andrea Hernández Briceño e Rodrigo Abd registraram a reconexão com a natureza e a força dos venezuelanos em meio aos impactos ambientais e econômicos causados pela indústria petrolífera.

Victor Peña, de El Salvador, focou na crise sanitária e política que a pandemia de Covid-19 trouxe para sua terra natal. Já a mexicana Victoria Razo abordou a força e a resiliência das mulheres, inclusive trans, vítimas de violência.

As fotografias documentam ainda o crime organizado no México, ferimentos nos olhos decorrentes da violência policial no Chile, e a repressão aos Mapuches, povo indígena da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina, perpetrada por empresas estatais e governos locais.

O  Latin American Foto Festival está em sua quarta edição. As imagens serão exibidas pelas ruas do Bronx, bairro de Nova York que tem muitos imigrantes entre a população e pessoas que conhecem de perto os efeitos da violência e da pandemia.

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Confira a seguir algumas fotos do festival:

Andrea Hernández Briceño – Venezuela
(Andrea Hernández Briceño/Emergency Fund for Journalists do National Geographic Society)

Alfred Flores, de cinco anos, segura um punhado de mamoncillos, frutas típicas das Américas, em Patanemo, na Venezuela, em 17 de julho de 2020. “Ele é um demônio”, todos dizem. Mas isso quer dizer que ele é apenas um garoto que não para quieto, e não que ele seja possuído ou algo do tipo.

Sua família vive da terra, pois eles não ganham o suficiente para comprar comida em um supermercado. Eles vendem o que caçam e plantam com outras pessoas da área. Quando ele nasceu, a vida era diferente. Essa foto faz parte do capítulo Mango Season do projeto The Nature That Inhabits Us com o coletivo Ayün Fotógrafas. 


Carlos Saavedra – Colômbia
(Carlos Saavedra)

Sharith Dayana, de vestido, no caminho para a igreja no domingo. Ela é filha de um dos líderes da comunidade em “La Isla”. 


Cristóbal Olivares – Chile
(Cristóbal Olivares)

Camilo Gálvez (24), técnico de som. Ele reside em Puente Alto, Santiago. Camilo foi atingido por um disparo de chumbinho que se alojou em seu olho direito, em novembro de 2019, próximo à Universidade Católica de Santiago. Seu diagnóstico foi uma explosão ocular com perda total do olho direito e fratura. 


Florence Goupil – Peru
(Florence Goupil)

Rusber Rucoba, deitado em meio a ervas matico. Ele é um jovem Shipibo-Konibo e um voluntário da organização de saúde “Comando Matico”.

As ervas matico, conhecidas como “Roca-roca Noi Rao” em sua língua nativa, são as plantas medicinais mais importantes da região da Amazônia peruana no tratamento para problemas respiratórios, e são agora utilizadas contra os sintomas da Covid-19. Segundo as crenças dos Shipibo-Konibo, as plantas da Amazônia são como médicos protegendo a humanidade.

Florence acompanhou Rusber Rucoba até Yarinacocha para coletar plantas nativas que crescem perto da cidade de Pucallpa. Quando Rusber colheu uma boa quantia de ervas, ele se deitou em meio as plantas para descansar. Foto tirada em 29 de julho de 2020, no lago Yarinacocha, Pucallpa, Ucayali, Peru. 


Luis Antonio Rojas – México
(Luis Antonio Rojas)

Alex (13), à direita, e outras crianças durante um treinamento de armas de fogo da força policial CRAC-PF, na cidade de Yahualtempa, Guerrero, México. Alex teve que parar de frequentar o ensino médio na cidade vizinha de Hueycantenango devido à presença do cartel de drogas Los Ardillos. Então, ele e seu pai se juntaram à polícia da comunidade. Foto tirada em 4 de fevereiro, em Yahualtempa. 


Pablo E. Piovano – Chile
(Pablo E. Piovano)

Juana Calfunao Pailalef é uma das principais autoridades do centro-sul do Chile. Ela se define como uma lutadora Mapuche para afirmar sua soberania, resistir à violência estatal e corporativa e condenar a extração de recursos naturais de suas terras ancestrais. Em novembro de 2006, ela foi condenada a 150 dias de prisão pelo Estado chileno por protestar contra a construção ilegal de uma estrada em sua comunidade. Passou quatro anos e meio na prisão.

Em outubro de 2015, Juana visitou os Estados Unidos e testemunhou perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), denunciando o governo chileno por várias formas de violência cometidas contra o povo Mapuche, incluindo apropriação de terras indígenas e maus-tratos a mulheres e crianças Mapuche. Foto tirada em 12 de fevereiro de 2019, na Comuna de Cunco, província de Cautin, IX Região de Araucânia, Chile.


Rodrigo Abd – Venezuela

 

(Rodrigo Abd /AP)

Dia 2 de dezembro de 2019. Os moradores fazem uma pausa na limpeza do óleo de caranguejos recém-capturados no Lago Maracaibo, em Punta Gorda, Cabimas, Venezuela.

A paisagem da outrora robusta indústria de petróleo do país gira em torno de pescadores e suas famílias que vivem em vilas agrupadas às margens do lago. Sua luta em uma baía salgada contaminada por vazamentos e plataformas de petróleo abandonadas estão gravadas em seus rostos e manchadas em suas roupas.


Victor Peña – El Salvador
(Víctor Peña)

Covas abertas para vítimas da Covid-19 no cemitério de La Bermeja. 


Victoria Razo – México
(Victoria Razo)

Na foto, Maria Alejandra e Kristel, duas mulheres transgênero de origem Tz’utuhil, obseram o lago Atitlan durante um dia ensolarado. Quando ainda eram pequenas crianças indígenas andando por seu vilarejo, Maria notou uma cicatriz nas costas de Kristel e perguntou o que era. Kristel respondeu que seu pai tinha batido nela, porque ele não queria que ela brincasse com homossexuais. Foto tirada em 20 de novembro de 2019, Santiago Atitlán, Guatemala. 


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