Londres – Nas primeiras horas como novo dono do Twitter, Elon Musk deu razão aos que se preocupavam com mudanças radicais na plataforma, demitindo os três principais executivos – o CEO, Parag Agrawal; o CFO (diretor financeiro), Ned Segal, e a chefe de assuntos jurídicos e de políticas, Vijaya Gadde.

Cortes na cúpula da empresa que bateu de frente com o bilionário, primeiro contra a tentativa de compra e depois acionando-o judicialmente para obrigar a completar a operação de US$ 44 bilhões eram esperadas, mas talvez não tão rápido. 

Nesta quinta-feira, Elon Musk trocou sua descrição no Twitter para “Chief Twit”, movimento interpretado como um recado de que ele pretenderia comandar as operações pessoalmente – e alarmando os que temem o relaxamento das regras de moderação para dar espaço a figuras controvertidas e conteúdo associado a teorias conspiratórias e discurso de ódio. 

Musk gosta de mandar recados. Na véspera da confirmação da compra, no prazo que havia sido estabelecido pela Justiça para a conclusão do negócio, ele entrou na sede do Twitter com um lavatório nas mãos, e postou a mensagem “let that sink in!”, uma expressão informal para “cair a ficha” ou “absorver” uma informação. 

Com a demissão e as primeiras falas de Musk, a ficha já caiu para muitos, sobretudo os que trabalham na empresa. Há algumas semanas ele informou a investidores que poderia cortar severamente a força de trabalho, em 75%. 

Em conversa com funcionários, o bilionário não assumiu o plano. Mas a demissão dos três executivos, que teriam sido escoltados para fora da sede da empresa de forma abrupta na noite de quinta-feira, mandou ondas de choque. 

Outros executivos também foram demitidos, e mais cortes devem estar a caminho, sobretudo nos que têm cargos de comando e eram alinhados aos antigos chefes e ao modo de operar do Twitter até hoje. 

A novela da compra do Twitter por Musk 

A chegada de Elon Musk ao Twitter coloca fim a uma novela que começou em janeiro, quando ele começou discretamente a comprar ações da plataforma em grandes volumes, tornando-se dono de 5% da empresa em dois meses. 

Já como maior acionista do Twitter, em abril foi fechado o acordo de compra da plataforma por US$ 44 bilhões, mas dias depois a história mudou. 

O bilionário tentou voltar atrás, alegando que o número de contas falsas ou spam era muito maior do que o que havia sido informado pelos executivos, o que reduziria o valor do negócio. Em julho ele desistiu de vez, mas a essa altura, o Twitter alegou que a volta atrás seria prejudicial para a empresa. 

Um processo judicial foi movido pelo Twitter, iniciando-se uma troca de farpas pública, com ambos os lados acusando o outro de mentiras e ma-fé. 

A audiência estava marcada para outubro, mas talvez por ver suas chances de vitória se desvanecerem, Elon Musk anunciou no início do mês que estava disposto a honrar o acordo desde que os processos fossem suspensos.  A Corte deu um prazo para que ele concluísse, caso contrário o processo seguiria adiante. 

O tom de Elon Musk sobre o Twitter mudou nos últimos dias. O empresário que parecia desanimado com o futuro do negócio dá sinais de que encontrou um novo brinquedo – ele é dono da Tesla, empresa de carros elétricos, e da operadora de satélites SpaceX,  que o fizeram o homem mais rico do mundo. 

O Twitter não deve aumentar sua fortuna, mas sim sua influência, e nem todos gostam da ideia.

Organizações de direitos humanos, de liberdade de imprensa e celebridades que se posicionam contra a liberdade excessiva nas plataformas digitais declararam preocupação sobre o futuro do Twitter, que não é a maior rede social do mundo – está longe da audiência do Facebook e do Instagram – mas é a mais influente em temas políticos e para o jornalismo. 

Dias antes da confirmação da compra, a Repórteres Sem Fronteiras fez uma nota condenando a compra de plataformas sociais por “divas”, a propósito do anúncio de que Kanye West vai comprar a Paler. 

Elon Musk se diz um defensor da liberdade de expressão. Outra de suas mensagens foi o tweet em que confirmou a compra: “o pássaro está solto”. 

No tumultuado processo de compra da plataforma, houve rumores de que Donald Trump seria readmitido no Twitter, embora o ex-presidente tenha criado sua própria rede, a Truth Social. 

A tese de Elon Musk sobre relaxamento da moderação e admissão de figuras controvertidas por fake news ou discurso de ódio foi explicada em um tweet com um texto dirigido aos “caros anunciantes da plataforma”. 

Ele diz ter adquirido o Twitter “porque é importante para o futuro da civilização ter uma praça digital comum”, e porque “ama a humanidade”.

Para o bilionário, há um grande perigo de que as mídias sociais se fragmentem em câmaras de extrema direita e extrema esquerda, gerando mais ódio e divisão na sociedade.”

Ele diz que o Twitter não vai se transformar em um refúgio totalmente livre onde tudo pode ser dito sem consequências, mas será “receptivo a todos” – uma combinação difícil de alcançar na vida real. 

Em um dos trechos, o empresário afirma que o Twitter aspira ser a mais respeitada plataforma do mundo. Considerando que ele já era o principal canal para o jornalismo, jornalistas e figuras importantes da política e da sociedade, essa aspiração não é exatamente uma mudança. 

A interrogação agora é sobre se as transformações esperadas terão efeito contrário.