Buenos Aires – Com a aceleração do uso da IA, principalmente após o surgimento do ChatGPT, a Sociedade Argentina de Inteligência Artificial (SAIA) ganhou força no país.

A entidade reúne cerca de 300 integrantes de diferentes formações – de engenheiros e professores de IA a odontólogos – como conta ao MediaTalks o presidente da entidade, Alexander Ditzend.

Engenheiro industrial especializado em tecnologia, ele entende que as ferramentas de IA representam uma “mudança de paradigma” nos setores privado e público, mas é preciso intensificar esse debate no país.

Sociedade de IA argentina quer limitar mau uso da tecnologia 

A inteligência artificial pode ajudar a encontrar soluções para os problemas mais complexos da humanidade. Ela já está presente nos negócios, e pode ser essencial também em segmentos como saúde e mudança climática.

“Mas é importante colocar um limite no mau uso dessa tecnologia. Conectados, trocando informações, podemos evitar isso”, diz o o presidente da Sociedade de IA da Argentina. 

A IA nas corporações argentinas

“Companhias tecnológicas como Mercado Libre (Mercado Livre), Despegar (Decolar) e empresas financeiras já usam a inteligência artificial na Argentina pelo menos desde 2010.

Mas o lançamento do ChatGPT levou a inteligência artificial a todos os cantos do país. Agora, os próprios empregados começaram a usar as ferramentas por sua própria conta. Há “um antes e depois” do ChatGPT”.

O valor de uma comunidade nacional para IA

“Quanto mais organizados e conectados estivermos, melhor poderemos navegar nesta revolução. A mudança de paradigma tem que ser em várias frentes. Devemos debater essa nova era em termos filosóficos, éticos, psicológicos, sociológicos”.

O que é o mau uso da tecnologia

“Quando falamos em inteligência artificial, costumamos nos concentrar principalmente na parte mais dominante, o aprendizado automático – Machine Learning ou Deep Learning, sua versão mais moderna -, que começa a partir de um conjunto de dados.

Na busca desses dados, podem ser cometidos erros ou usados atalhos para desenvolver um produto em menos tempo ou com investimento menor, mas cometendo injustiça com algum grupo minoritário de usuários. Isso configura um mau uso ou um desenvolvimento não ético da inteligência artificial.”

Dados disponíveis não são inclusivos

“Um dos conjuntos de dados mais baratos para se fazer algum projeto, como por exemplo a detecção da mudança das emoções a partir dos traços faciais, é o dos estudantes universitários de alto poder aquisitivo do sul dos Estados Unidos.

Mas não é tão fácil conseguir este mesmo conjunto de dados de uma população na Amazônia, porque estes dados seriam muito mais caros e mais difíceis de serem obtidos.

Ninguém pode ser excluído. É preciso pensar em toda a população quando se pretende lançar alguma ferramenta de inteligência artificial”.

A IA no setor público

“Estamos fazendo a ponte entre as empresas que querem implementar a inteligência artificial e os que estão voltados para os limites éticos de seu uso. Mas também temos recursos para ajudar o governo, que poderia, com as ferramentas, melhorar a situação econômica argentina.

A IA pode contribuir para a eficiência na gestão pública e fornecer capacitação a governantes e funcionários públicos.”

O papel do Estado

“Na Argentina, há uma centralização dos debates sobre inteligência artificial nas grandes cidades, mas fala-se muito pouco sobre o desenvolvimento ético, porque não há regulamentação que iguale as regras para todos os competidores.

Neste caso, o Estado tem um papel muito importante, porque se não impuser as regras do jogo, será difícil ter produtos de IA inclusivos.”


Edição especial MediaTalks sobre Inteligência ArtificialEste artigo faz parte do Especial ‘Os desafios da ESG na era da Inteligência Artificial

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Edição Especial ESG e Inteligência Artificial MediaTalks