A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) pediu que a Polícia Federal (PF) não encerre a investigação sobre as mortes do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo sem apurar possíveis mandantes para o crime.

Em nota, a FIJ destacou que a polícia “nega que haja uma organização criminosa” por trás das mortes dos homens e diz que o órgão “pretende limitar a responsabilidade aos três detidos”.

“Enquanto a Polícia Federal pretende responsabilizar os homens detidos até agora, a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vala do Javari) aponta que máfias atuam na Amazônia e denuncia a inação do governo que ignorou  alertas anteriores, em que a entidade denunciou invasões de seu território e as ameaças sofridas”, apontou a FIJ.

Federação pede ampla investigação sobre mortes de Dom e Bruno

Dom e Bruno desapareceram no dia 5 de junho, no Vale do Javari, na Amazônia. Os corpos deles foram encontrados uma semana depois na região da floresta amazônica e os funerais aconteceram na sexta-feira e no domingo. 

A PF já prendeu três pessoas acusadas dos assassinatos. Mais cinco pessoas são investigadas por ajuda na ocultação dos corpos.

Críticas à conduta do governo brasileiro desde o anúncio do desaparecimento dos homens têm sido frequentes na imprensa nacional e estrangeira, e não cessaram com a localização dos restos mortais.  A nota da FIJ é mais uma delas. 

O texto cita a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vala do Javari) com uma das organizações que denuncia a “negligência do governo Jair Bolsonaro” e defende o envolvimento de “criminosos que atuam na área” nas mortes. 

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A organização também citou as declarações do presidente Bolsonaro, que chamou de “aventura não recomendada” a viagem dos homens à floresta, e do vice-presidente Hamilton Mourão.

“Depois que o vice-presidente do país, Hamilton Mourão, descreveu a morte do jornalista como ‘dano colateral’, a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vala do Javari) respondeu que exigirá uma investigação exaustiva no Supremo Tribunal Federal e no parlamento para encontrar os mandantes [do crime]”, disse a FIJ.

Dom, que era colaborador do jornal The Guardian, entre outros veículos estrangeiros, trabalhava em um livro sobre a Amazônia e foi ao local acompanhado de Bruno para realizar entrevistas com indígenas.

Uma declaração da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) sobre a atuação do governo federal foi acrescentada à nota da FIJ:

“[Bolsonaro] tenta isentar o Estado brasileiro de qualquer responsabilidade de garantir a segurança do trabalho de jornalistas, indígenas e ambientalistas no Vale do Javari, e praticamente admite que criminosos tomaram o controle da região.”

‘Versões conflitantes’, diz FIJ

A federação apontou a existência de “versões conflitantes” na investigação do assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira. 

Na sexta-feira (17), a PF confirmou os resultados dos exames que apontaram a identidade dos dois corpos encontrados. A localização foi feita após a prisão, em 15 de junho, de Oseney da Costa de Oliveira, que confessou o crime e levou os policiais até os restos humanos.

Antes, em 7 de junho, dois dias após o desaparecimento de Dom e Bruno, Amarildo da Costa de Olivera, irmão de Oseney, foi preso. O terceiro detido é Jefferson da Lima, que levou as autoridades ao local onde foi afundada a lancha em que os homens viajavam.

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“Organizações sociais e sindicatos de imprensa manifestaram seu apoio à pressão de ambos os poderes para que desenvolvam um plano de ação que garanta as condições de vida das comunidades e o livre exercício do trabalho jornalístico.”

Para a entidade, a polícia e o governo brasileiro estão ignorando as declarações da Univaja sobre a atuação de “máfias que têm apoio econômico” para financiar expedições de pescadores e caçadores ilegais às terras indígenas protegidas.

“A FIJ acompanha as organizações em sua demanda por uma investigação minuciosa que não termina com [a prisão] dos autores [dos assassinatos] e busca os mandantes.”

O caso Dom e Bruno mostrou a vulnerabilidade de jornalistas e ambientalistas que atuam na Amazônia. Com a localização dos corpos, o crime ganhou ainda mais destaque no noticiário internacional, mostrando como as questões ambientais atraem atenção e arranham a imagem do Brasil.

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