Londres – Uma semana depois do início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, a percepção dos britânicos sobre quais países são seus aliados e rivais mudou. É o que revela uma pesquisa do YouGov, plataforma de dados e análises, divulgada na terça-feira (1º).

Em setembro, 34% dos britânicos ouvidos pelo instituto consideravam a Rússia uma ameaça hostil à Grã-Bretanha e aos países europeus. Sem surpresa, após a invasão russa a uma nação do continente, esse número quase dobrou, passando para 64%.

A forma que os britânicos enxergam os Estados Unidos também mudou. No último levantamento da plataforma, 36% descreviam os EUA como “geralmente amigos e aliados da Grã-Bretanha e de países da Europa”. Agora, o número disparou para 50%.

Guerra Rússia x Ucrânia alarma britânicos

O YouGov ouviu a opinião de britânicos sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia entre os dias 26 e 28 de fevereiro, após a invasão russa ao território vizinho. 

A pesquisa capturou o impacto da guerra para a reputação da Rússia no Reino Unido, que já não era alta. Questões como acusações de interferência no plebiscito que decidiu pela saída da União Europeia e a entrada massiva de bilionários russos comprando propriedades, empresas e times de futebol incomoda os britânicos há tempos.

Mas a guerra fez a percepção negativa aumentar em um curto período de tempo. 

A mudança na percepção da hostilidade russa veio de pessoas que anteriormente pensavam que o país comandado por Vladimir Putin era “geralmente hostil” — uma opinião que caiu de 34% para 18%. O número de respostas “não sei” também caiu nove pontos, para 11%.

Segundo a pesquisa, atualmente, 5% dos britânicos consideram a Rússia uma “amiga” ou “rival amigável” da Grã-Bretanha e dos europeus em geral, em comparação com 9% em setembro.

Eleitores dos dois principais partidos da Inglaterra mudaram suas visões sobre a Rússia de forma semelhante, apontou o levantamento.

Sete em cada dez eleitores conservadores (71%) agora veem a Rússia como uma ameaça hostil (em setembro, eram 42%). Já 62% dos eleitores do Partido Trabalhista têm essa posição — contra 32% da última pesquisa.

A diferença, de acordo com o YouGov, se deve em grande parte a uma proporção maior de respostas “não sei” dos eleitores trabalhistas, que tendem a ser mais jovens e mais propensos a responder dessa maneira a perguntas desse tipo.

Apenas 6% dos eleitores conservadores e 5% dos trabalhistas veem a Rússia como uma nação “amiga” ou “rival amigável”.

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EUA como aliados da Grã-Bretanha e dos europeus 

Os dados do YouGov mostram que não apenas o sentimento dos britânicos em relação à Rússia mudou, mas também sobre os Estados Unidos.

O aumento de 14 pontos (36% para 50%) na percepção dos britânicos dos EUA como aliados é acompanhado por pequenas diminuições nas outras respostas, sendo a maior delas o número de pessoas que consideram os EUA “geralmente um rival amigável da Grã-Bretanha e países da Europa”, que caiu de 28% para 23%.

Atualmente, apenas 7% dos britânicos dizem que os EUA são “geralmente hostis à Grã-Bretanha e países da Europa”, de 10% no ano passado, enquanto 2% consideram “geralmente uma ameaça hostil à Grã-Bretanha e países da Europa”.

Números semelhantes de eleitores conservadores e trabalhistas mudaram sua opinião sobre os EUA, segundo a pesquisa.

A proporção de conservadores que o consideram “amigo e aliado” aumentou 11 pontos, para 56%, enquanto entre os eleitores trabalhistas subiu 12 pontos, para 46%.

As percepções sobre o relacionamento entre os EUA e o Reino Unido também melhoraram — passando de 36%, descrevendo-o como “muito/bastante próximo em setembro”, para os atuais 47%.

Para os pesquisadores do YouGov, no entanto, isso pode ser mais uma reversão às atitudes anteriores – em março de 2021, esse número também havia sido de 47%, com os resultados da pesquisa de setembro potencialmente refletindo a conduta dos EUA ao lidar com retirada caótica do Afeganistão.

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Relógio do Juízo Final alerta para aumento da tensão nuclear

A invasão da Ucrânia pela Rússia e o medo de um ataque nuclear podem ter surpreendido alguns, mas não os cientistas responsáveis pelo Relógio do Juízo Final, que todos os anos quantificam as ameaças ao planeta e à humanidade empregando a metáfora de quanto tempo falta para a meia-noite – mantida em 100 segundos este ano.

A análise publicada em janeiro pelo painel do Doomsday Clock destacava a Ucrânia como “um potencial ponto de inflamação, com o envio de tropas russas para a fronteira ucraniana aumentando as tensões”.

No último domingo (27), os cientistas emitiram uma nota reiterando a probabilidade do uso de armas nucleares na região. Eles classificaram o momento como “perigoso, fluido e instável”, utilizando mais uma vez a eficiente ideia de marketing em que o relógio se transformou para aproximar a ciência do público.

Criado em 1945 por Albert Einstein e cientistas da Universidade de Chicago que ajudaram a desenvolver as primeiras armas atômicas no Projeto Manhattan, o Bulletin of the Atomic Scientists (Boletim de Cientistas Nucleares) estabeleceu o Doomsday Clock dois anos depois, usando as imagens do apocalipse (meia-noite) e o idioma contemporâneo da explosão nuclear (contagem regressiva para zero) para simbolizar as ameaças à humanidade e ao planeta.

O horário do Relógio do Juízo Final é definido todos os anos pelo Conselho de Ciência e Segurança, um grupo de especialistas que inclui 11 ganhadores do Prêmio Nobel.

O Doomsday Clock tornou-se um elemento da cultura pop e um indicador universalmente reconhecido da vulnerabilidade do mundo diante das mudanças climáticas, de tecnologias disruptivas e do que os autores chamam de “catástrofe de armas nucleares”.

Essa catástrofe, que nos últimos dias ganhou espaço nas análises sobre os planos de Vladmir Putin em sua ofensiva contra a Ucrânia, foi prevista pelos cientistas na edição de 2022 , que manteve o relógio em 100 segundos para a meia-noite do juízo final, já que “nenhum progresso significativo foi feito em 2021 para reduzir os perigos enfrentados pelo mundo”.

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