Londres – O Ministério da Informação da Síria revogou o credenciamento de dois jornalistas que trabalhavam para a BBC no país sob alegação de terem feito reportagens “falsas” e “politizadas”, segundo informou a rede. 

Os profissionais não foram identificados. O comunicado do ministério disse que um jornalista trabalhava como repórter de rádio e o outro como repórter e operador de câmera. 

Também não foram especificadas as reportagens que levaram à revogação. A nota diz que disse a BBC foi “advertida mais de uma vez” sobre “reportagens enganosas baseadas em declarações e testemunhos de autoridades terroristas e anti-sírias”.

“O governo sírio há muito restringe a mídia, e a revogação do credenciamento de dois repórteres da BBC mostra que o governo continua determinado a sufocar as vozes independentes”, disse Sherif Mansour, coordenador do Comitê de Proteção a Jornalistas para o Oriente Médio e Norte da África, em Washington.

“ As autoridades devem reverter esta decisão e permitir que todos os membros da imprensa trabalhem livremente e sem medo de represálias”.

Segundo o CPJ, no fim de junho a BBC veiculou uma reportagem investigativa associando o comércio da anfetamina captagon à  família do presidente Bashar al-Assad e às Forças Armadas da Síria. A revogação foi anunciada no dia 8 de julho. 

Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a União Européia culpam o governo da Síria pela produção e exportação da droga, citando Maher Assad – o chefe da Quarta Divisão do Exército e irmão do presidente – como uma figura-chave.

A Síria, em guerra civil desde 2011, nega ter participado do comércio de anfetaminas.

A BBC disse que o canal “continuará a fornecer notícias e informações imparciais para o público em todo o mundo de língua árabe”.

O CPJ enviou um e-mail ao Ministério da Informação da Síria para comentar, mas não recebeu resposta.

Jornalistas presos e perseguidos na Síria 

Pelo menos cinco jornalistas estavam presos na Síria na época do censo carcerário de 2022 da organização. 

A Síria ocupa a 175ª posição entre 180 nações no índice de liberdade de imprensa compilado pela organização Repórteres Sem Fronteiras. 

O governo impõe limites rigorosos à cobertura da mídia e exige credenciamentos e permissões para jornalistas trabalharem. 

Segundo a organização, a imprensa estatal retransmite a propaganda do Estado sob orientação da todo-poderosa agência de notícias SANA.

Para os demais meios de comunicação, o Facebook e as redes sociais continuam sendo a principal ferramenta de distribuição das publicações, por serem de difícil controle, embora monitorados. Um terço da mídia independente ou da oposição está agora no exílio.

A Lei de Cibercriminalidade de 2021, alterada em 2022, permite que as autoridades sancionem jornalistas por “divulgação online de notícias falsas que prejudicam o prestígio da nação”