O Wall Street Journal confirmou a prisão do repórter Evan Gershkovich, na Rússia, sob acusação de espionagem. 

A notícia foi divulgada na manhã desta quinta-feira (30) pelo Serviço Federal de Segurança (FSB) em um comunicado reproduzido pela mídia estatal, mas o jornal não se pronunciou imediatamente. 

Em um comunicado, o jornal disse que “nega veementemente as alegações do FSB e busca a libertação imediata de nosso confiável e dedicado repórter”. E acrescentou: “Estamos solidários com Evan e sua família”.

Evan Gershkovich foi detido na cidade de Yekaterinburg, nos Montes Urais, por suspeita de “espionagem no interesse do governo americano”, disse o FSB.

Ele teria “coletado informações que constituem  segredo de estado sobre uma das empresas do complexo militar-industrial russo”.

Segundo a organização de defesa da liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras, o jornalista estaria apurando informações sobre as atividades do grupo de mercenários Wagner, comandado por um aliado de Vladimir Putin, Yevgeny Prigozhin. 

Uma nova lei sancionada este ano estendeu as punições a quem divulgar informações supostamente falsas ou desacreditar o Exército e a Guarda Nacional na Rússia também a “formações, organizações ou indivíduos voluntários” que prestem “auxílio no desempenho das tarefas atribuídas às Forças Armadas da Federação Russa” – os grupos de mercenários. 

No dia 10 de março, o jornalista havia publicado uma reportagem sobre as atividades de Prigozhin, sugerindo tensões entre o Kremlin e o grupo Wagner. 

Ao anunciar a prisão do repórter Evan Gershkovich, o FSB reconheceu que ele tinha credenciamento do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para trabalhar como jornalista.

Mas a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, disse que Gershkovich estava usando suas credenciais como proteção para “atividades que nada têm a ver com jornalismo”.

Em reportagem no site postada no Twitter, o jornal americano confirma a detenção do jornalista, que se condenado pode pegar até 20 anos de prisão. Na postagem, o WSJ destaca os protestos contra a prisão. 

Na nota em que informa a detenção do jornalista, a FSB não forneceu evidências ou mais detalhes sobre quando Gershkovich foi detido. Ele foi levado ao tribunal de Lefortovo, em Moscou, e ficará na cadeia até pelo menos até 29 de maio.

Embora a lei de fake news sancionada por Vladimir Putin logo após a invasão da Ucrânia tenha feito com que veículos de imprensa internacionais suspendessem cobertura local ou adotassem mais cautela, nenhum jornalista estrangeiro de um grande veículo de ocidental havia sido preso até agora. 

Gershkovich, de 31 anos, é filho de russos originários da antiga União Soviética que agora moram nos EUA.

Ele fala russo, já foi repórter da Agence France-Presse e do Moscow Times e assistente de notícias do The New York Times, segundo seu perfil no site do Wall Street Journal. 

Até agora, o governo de Vladimir Putin vinha exercendo mais perseguição contra veículos de imprensa e jornalistas russos. Um dos casos mais notórios foi o de Marina Ovsyannikova, que protestou contra a guerra em um canal estatal, saiu da Rússia, voltou, foi condenada à prisão domiciliar e acabou conseguindo fugir do país.