Londres – O  blogueiro e ativista pró-democracia Yang Hengjun, de 58 anos, nascido na China e detentor de nacionalidade australiana, foi condenado por um tribunal chinês à morte, com execução da pena suspensa, após quase cinco anos de detenção. 

A notícia foi anunciada pela ministra de Negócios Estrangeiros da Austrália, Penny Wong, que disse ter convocado o embaixador da China no país para cobrar explicações e prometeu “comunicar” sua resposta a Pequim nos “termos mais fortes”.

Yang é escritor e acadêmico, morava em Nova York e criou um blog sobre política e assuntos internacionais relacionados à China que se tornou referência, com milhares de acessos, irritando Pequim. Mas ele não foi condenado pelo que escreveu, e sim sob acusação de espionagem. 

Sua prisão aconteceu em janeiro de 2019, no aeroporto de Guangzhou, quando desembarcou de um voo proveniente de Nova York, junto com a mulher e o filho, que têm nacionalidade chinesa.

A acusação de espionagem foi formalizada em outubro de 2020. Em maio de 2021 ele foi julgado a portas fechadas. Nesta segunda-feira (5) a sentença de pena morte foi anunciada pelo tribunal, cabendo recurso da defesa. 

Antes de emigrar para a Austrália, em 1999, ele trabalhou no Ministério das Relações Exteriores da China, mas o governo nega que ele tenha tido vínculos oficiais no passado. 

Frustração com notícia do blogueiro condenado na China

O desfecho frustrou os que esperavam a libertação de Yang Hengjun após o acordo diplomático firmado entre a entre a China e Austrália em outubro de 2023 que resultou no retorno da jornalista Cheng Lei a Melbourne. 

Criada na Austrália e com nacionalidade australiana, ela era apresentadora de um programa de finanças na estatal Global China Television Network, e ficou três anos presa em solo chinês sob alegação de fornecer segredos da China ao exterior. O julgamento também foi a portas fechadas. 

As prisões de jornalistas australianos são vistas por analistas em diplomacia como relacionadas a tensões entre os dois países, que se agravaram quando a Austrália aplicou sanções à China durante a crise da covid-19. 

O caso de Yang Hengjun tem sido objeto de protestos de organizações de defesa dos direitos humanos e da liberdade de imprensa, sobretudo devido ao seu estado de saúde. 

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), ele tem gota, pressão alta, problemas de visão e um grande cisto em um dos rins. 

A associação de jornalistas Media, Entertainment and Arts Alliance (MEAA), afiliada australiana da IFJ, protestou contra o processo judicial “profundamente falho”,  e acredita que mesmo escapando da sentença de morte, é provável que Hengjun morra na prisão. 

A China é o maior carcereira de jornalistas do mundo, segundo a organização de liberdade de imprensa Repórteres Sem Fronteiras.