O time dos que defendem o paywall como modelo de sustentabilidade da mídia ganhou mais uma adesão.  A agência Reuters anunciou nesta quinta-feira (15/5) que o acesso ao seu noticiário passará a custar US$ 34,99 por mês.  O ínicio da cobrança não tem data anunciada.

O objetivo é atrair o público corporativo, interessado em uma cobertura mais aprofundada do mundo empresarial e de setores como jurídico, de saúde e automotivo. 

Ao anunciar a mudança, a Reuters fez questão de lembrar que não está sozinha. Ressaltou que ao adotar o paywall iguala-se a outras empresas jornalísticas que já cobram pelo conteúdo. E citou os preços de alguns concorrentes no nicho do noticiário de negócios.

Entre eles, o rival de notícias financeiras Bloomberg.com cobra US$ 34,99 por mês antes dos descontos, enquanto o Wall Street Journal, que em 1996 se tornou o primeiro a lançar um acesso pago, cobra US$ 38,99.

Foto: David Smooke/Unsplash

Entre os grandes jornais globais, a maioria cobra pelo conteúdo, como New York Times, Washington Post e Financial Times. Geralmente, o acesso é livre para algumas matérias por mês. E têm sido oferecidos cada vez mais pacotes de assinatura promocionais, sobretudo depois da pandemia.

O líder mundial é o New York Times. O jornal ganhou 2,3 milhões de assinantes digitais em 2020, mais do que em qualquer ano anterior. E ultrapassou 7,5 milhões de assinaturas para seus produtos digitais e jornais impressos. 

O site Reuters.com atrai 41 milhões de visitantes únicos ao mês, de acordo com a empresa. Quando a mudança entrar em vigor, os usuários poderão ler cinco matérias por mês gratuitamente. O valor da assinatura é mais caro do que o do The New York Times (US$ 18,42 / mês nos Estados Unidos). 

Não é a única novidade da agência de notícias. Em 13/4 foi anunciada a promoção de Alessandra Galloni para o cargo de editora-chefe. Será a primeira mulher a liderar a agência de notícias em seus 170 anos de história.

Nascida em Roma, Galloni tem 47 anos e vai comandar uma equipe de quase 2,5 mil jornalistas distribuídos pelo mundo. Ela substituirá Stephen J. Adler, que está se aposentando este mês. 

A maior transformação em uma década 

A adoção do paywall foi classificada pelo diretor de marketing da Reuters como “a maior transformação digital da Reuters em uma década”. Ele disse:

 “Os profissionais precisam de acesso direto ao conhecimento da indústria, dados e percepções de fontes especializadas. A Reuters vai oferecer cobertura confiável, imparcial e precisa por meio de uma oferta premium.”

A matéria da Reuters que anunciou a novidade ouviu o analista de mídia Ken Doctor, que caracterizou a introdução do paywall como “tarde, mas não tarde demais”. Ele observou que a Bloomberg começou a cobrar por seu site em 2018. Mas levantou dúvidas sobre o sucesso. 

“A questão crítica para um consumidor de notícias de negócios é: que valor agregado eu obtenho da Reuters que não recebo da Bloomberg ou da Dow Jones?” 

A empresa informou que gera metade da sua receita com a empresa de dados financeiros Refinitiv, e também fatura alto com publicidade online. A empresa diz que planeja investimentos em segmentos como notícias jurídicas e transmissões ao vivo de seus eventos.

Os caminhos da sustentabilidade da mídia 

A cobrança por conteúdo não é unanimidade, embora venha sendo a solução adotada por grandes organizações em todo o mundo como caminho para a sustentabilidade. Diversos estudos mostram os riscos de perda de audiência, tanto pela limitação de recursos do público quanto pelo hábito de não pagar por notícias. 

Em pesquisa que ouviu cerca de 600 pessoas nos Estados Unidos e no Reino Unido para a edição do ano passado de seu relatório sobre Digital News, o Instituto Reuters concluiu que a principal motivação que leva um usuário a fazer uma assinatura é a convicção de que receberá informações com qualidade melhor do que as obtidas pelas fontes gratuitas.

 

Porém, o caminho é árduo. Outra pesquisa para o mesmo relatório, desta vez ouvindo mais de 8 mil pessoas nos Estados Unidos, Reino Unido e Noruega, mostrou que metade dos respondentes ingleses e 40% dos norte-americanos disseram que nenhum argumento os convenceria a pagar por conteúdo. A motivação do conteúdo é relevante, mas o preço oferecido mostra-se fundamental, principalmente entre os noruegueses.

Assinatura é a tendência em 2021

Na última pesquisa anual, com 234 líderes digitais em 43 países, para ver as principais tendências que influenciarão o jornalismo em 2021, o Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo avaliou como as organizações de notícias estão se adaptando em face da pandemia e quais as principais fontes de receita esperadas para os próximos 12 meses.

A principal conclusão: o modelo de negócios mais importante para as empresas em 2021 passou a ser a assinatura, no lugar da publicidade.

Nic Newman, pesquisador sênior do Instituto, destacou essa tendência em suas previsões para 2021. Ele acha que “vamos ficar bastante irritados com isso este ano”. Mas lembra que a diversificação de receita é importante.

“Não há bala de prata. Podemos esperar uma combinação de assinaturas e publicidade.”

Ele disse que os entrevistados mencionaram quatro fontes como importantes este ano:  os eventos, o e-commerce e o pagamento direto feito pelas plataformas, que a seu ver será muito mais significativo este ano por causa das iniciativas do Google e do Facebook. “E essa vai ser uma história muito interessante para assistir em 2021”, previu. 

Newman está certo. As plataformas digitais têm sido cada vez mais pressionadas a compensar os editores de notícias, passando a remunerá-los pelo conteúdo. Na Austrália isso foi acelerado devido a uma lei aprovada em fevereiro de 2021 para regulamentar o pagamento

O debate em torno da lei fez com que as maiores empresas de mídia digital, Google e Facebook, fechassem acordos milionários. O Google já lançou seu produto Google News Showcase em nove países – o último foi a Itália. E o Facebook acaba de ampliar a abrangência de seu Facebook News no Reino Unido, que passou a incluir também a mídia regional do país. 

 

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