O Índice de Percepção da Democracia, o maior estudo do gênero realizado este ano em 53 países, mostra o Brasil entre as onze nações nas quais a população mais teme que restrições à liberdade de expressão afetem a democracia local. A pesquisa, realizada pela consultoria internacional Lotana sob encomenda da Aliança das Democracias, foi debatida na Cúpula das Democracias, encerrada no dia 11 de maio em Copenhagen, na Dinamarca.

A preocupação sobre limites à liberdade de expressão é vista como a segunda maior ameaça à democracia global, perdendo apenas para os riscos gerados pela desigualdade econômica. O Brasil aparece entre os onze mais preocupados com o tema.

O percentual de brasileiros que apontam a liberdade de expressão como ameaça ao Estado democrático, de 60%, é superior ao da média global, que é de 53%. Entre os países latino-americanos, Colômbia e Venezuela são os países onde a população mais teme que barreiras à livre expressão afetem o Estado democrático. 

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Desigualdade econômica, a maior ameaça

A grande maioria dos brasileiros (81%) considera a desigualdade econômica a maior ameaça à democracia do país, bem acima da média global, de 64%. É o segundo maior índice de preocupação do mundo, empatado com Ucrânia e Quênia, e a apenas um ponto percentual da Nigéria, a primeira colocada.

Somente sete países não consideraram a desigualdade econômica como a principal ameaça à sua democracia. O país menos preocupado com esse risco é a Noruega, com praticamente metade do índice dos líderes do ranking (42%).

O perigo das Big Techs

A pesquisa apontou ainda o crescimento do poder das gigantes tecnológicas como uma das maiores ameaças à democracia global. E incluiu o Brasil entre os seis países onde é maior o desejo por uma maior regulamentação das mídias sociais, embora o país apresente um dos 12 índices mais baixos de temor à ameaça das Big Techs

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Brasileiros entre os seis povos que mais veem governo servindo a uma minoria

O estudo aponta que quanto mais a população considera que o governo age a favor de uma minoria, maior a sua preocupação com a ameaça da desigualdade econômica à democracia. E os rankings apontam que essa correlação vale para o Brasil.

Três quartos dos brasileiros consideram que o governo atua em favor de uma minoria. O índice está bem acima da média global, de 49%.

O percentual de brasileiros que considera que o governo serve aos interesses de uma minoria é o sexto maior do mundo entre os 53 países pesquisados, empatado com a Polônia.

 

No ano passado, o percentual do Brasil estava entre os quatro piores. A ligeira subida não se deve a uma melhoria de percepção por parte dos brasileiros – que aliás piorou em relação ao ano passado.

O fato é que Ucrânia, Romênia e principalmente o Peru pioraram ainda mais, enquanto o Chile, que estava numa situação pior que o Brasil, melhorou.

 Brasil é um dos dezesseis mais preocupados com impacto de fraude nas eleições à sua democracia

Abaixo da desigualdade econômica e dos limites à liberdade de expressão, o medo de fraudes nas eleições é visto como a terceira principal ameaça à democracia tanto pela população global como pelos brasileiros. 

Metade da população global (49%) vê o risco de fraude nas eleições como ameaça à sua democracia local. O índice brasileiro é maior do que a média global e demonstra que o risco de fraude nas eleições é uma ameaça à democracia para a maioria dos brasileiros.

Devido aos empates, o percentual brasileiro é o nono mais alto, igual ao da Índia. Os mais preocupados são Nigéria, Quênia e Ucrânia e os menos preocupados são Alemanha, Noruega e Dinamarca.

Brasil é um dos doze que mais veem sua democracia ameaçada por interferência estrangeira nas eleições

A ameaça da interferência estrangeira nas eleições não é vista como uma ameaça à democracia pela maioria da população brasileira. Mesmo assim, o índice brasileiro é maior do que a média global (42%) e o coloca o país entre os 12 mais preocupados com a questão.

Respondendo a outra questão do estudo, o medo de que essa influência possa afetar as próximas eleições importantes do país aumentou 8 pontos percentuais em relação ao último ano, com 75% dos brasileiros julgando possível que possa haver interferência de poderes estrangeiros.

Brasileiros entre os 13 povos que mais valorizam democracia

A grande maioria da amostra global (81%) valoriza a democracia, e o percentual de brasileiros que considera importante que seu país seja uma democracia é um dos treze maiores entre os 53 países pesquisados.

    

Brasileiros entre os quinze povos que mais consideram que seu país não seja uma autêntica democracia

Apesar da importância global dada à democracia, apenas metade da população mundial (53%) está satisfeita com a democracia em seu país. E os brasileiros estão entre as 15 populações que mais consideram que seu país não seja uma autêntica democracia.

Os dinamarqueses, suíços e noruegueses são os mais satisfeitos com a democracia que vivenciam. Os mais insatisfeitos são os húngaros, iranianos e venezuelanos.

Brasil é um dos 10 países que menos correspondem às expectativas democráticas de seus cidadãos

O déficit global entre a democracia desejada e a percebida é grande e vem crescendo – aumentou 6 pontos no último ano, indicando uma maior insatisfação geral.

O ranking aponta que nenhum país atende totalmente às expectativas democráticas de seus cidadãos – o que exigiria um déficit igual a zero. O que mais se aproxima é a Suíça, com 9 pontos de déficit.

A pesquisa mostra que o Brasil é um dos países que menos atendem a essas expectativas, com um déficit de 40 pontos entre os índices de democracia desejada e percebida. Só nove países têm uma performance pior, liderados pela Polônia, com 55 pontos de déficit.

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Brasil entre os oito que mais consideram não ter democracia suficiente

O percentual de brasileiros que acham que a democracia que vivenciam não é suficiente é um dos 8 mais altos dos 53 países pesquisados. O índice brasileiro, superior a 60%, é bem maior do que a média mundial, de 40%.

Dos sete países em pior situação, três são sul-americanos: Colômbia, Peru e Venezuela. No ano passado, o Chile estava em pior situação que o Brasil, mas foi um dos três únicos países em que a população local achou que a situação melhorou no último ano. O Peru fez o caminho inverso: estava melhor do que o Brasil no ano passado, mas foi o país que mais despencou no ranking desta edição.

A Nigéria é o país com o maior número de cidadãos que consideram que não têm democracia suficiente. Os vietnamitas têm o maior percentual dos que acham que têm democracia no tamanho certo. No lado oposto, os sauditas detêm o maior índice dos que consideram ter democracia demais.

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