Mais um grande veículo de imprensa global sofre constrangimento devido a postagens de seus profissionais em redes sociais. Desta vez a vítima foi a CNN, que dispensou no domingo (16/5) o jornalista paquistanês Adeel Raja depois de postagens elogiando Adolf Hitler e suas tentativas de aniquilar o povo judeu. 

 

A rede americana agiu rápido. Horas depois da postagem infeliz, em um ambiente de ânimos acirrados devido aos conflitos na Faixa de Gaza, divulgou um comunicado dizendo que Raja “nunca foi funcionário da CNN”, minimizando sua participação na empresa. E anunciou que ele não mais faria colaborações. 

“Como freelancer, suas reportagens contribuíram para alguns esforços de apuração em Islamabad. No entanto, à luz dessas declarações abomináveis, ele não trabalhará com a CNN novamente em qualquer posição”. 

Na verdade as colaborações não eram tão esporádicas como o comunicado deu a entender. Raja assinou mais de 50 matérias para a CNN. 

E não foi a primeira vez que se envolveu em controvérsias raciais. Em 2014, durante a Copa do Mundo, o jornalista comentou que apoiaria a Alemanha nas finais porque “Hitler era alemão e se deu bem com aqueles judeus!”.  Seu feed está repleto de elogios a Hitler.

Adeel Raja não acusou o golpe. Depois de ser demitido, postou: “um único tweet contribuiu para a causa da Palestina e trouxe-a para os holofotes junto com a minha perda do emprego”. Ele ainda reclamou que o Ocidente apoia a liberdade de expressão e os direitos humanos, mas diz ter sido demitido  por causa de seus tweets pró-Hitler.

Uma linha tênue entre opinião pessoal e profissional 

A CNN não foi a primeira e nem deve ser a última empresa (jornalística ou não) a ser confrontada com a necessidade de equilibrar a liberdade de expressão de seus profissionais com a opinião corporativa. No caso de organizações jornalísticas, a situação se agrava porque muita vezes a opinião manifestada em redes sociais é interpretada como quebra da imparcialidade ou associada a causas controversas. 

A britânica BBC tem sido alvo de críticas a esse respeito, por ser uma emissora pública. Em 2020, a direção baixou um pacote de regras para tentar por fim a polêmicas envolvendo postagens nas redes. 

Vários casos recentes envolvendo veículos de imprensa estão relacionados a racismo. Foi o que ocorreu com a Vogue em março. A jornalista Alexi McCammond tinha sido apontada como a nova editora-chefe da Teen Vogue, mas renunciou antes de assumir o cargo após posts preconceituosos contra asiáticos feitos por ela em 2011 virem à tona. Na época em que as mensagens foram postadas, ela tinha apenas 17 anos e era caloura na Universidade de Chicago. 

Outro caso que ganhou repercussão foi a saída de Donald McNeil Jr do New York Times, em fevereiro. O repórter especializado em ciência, um dos mais renomados do jornal, fez comentários racistas e sexistas durante uma viagem educacional com estudantes do ensino médio.  Chegou a usar a “palavra com n”, que em inglês é uma ofensa racial. Cerca de 150 funcionários enviaram uma carta à direção exigindo medidas mais duras contra o jornalista, que acabou tendo que deixar o cargo. 

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