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Xi Jinping pede a líderes do Partido Comunista mais esforço na propaganda para melhorar imagem da China

Foto: Christian Lue/Unsplash

Em reunião nesta quarta-feira (2/6) com 25 líderes do Partido Comunista, o presidente chinês Xi Jinping pediu mais esforço para que seja mostrada “a imagem adorável do país”.  Ele disse que com as ferramentas de comunicação certas, a China teria mais amigos e seria vista em todo o mundo como “confiável, adorável e respeitável”, afirmou Xi.

O pedido por mais propaganda positiva ocorre num momento em que a imagem global do país vem sendo atacada por desrespeito aos direitos humanos na região muçulmana de Xinjiang, pela repressão em Hong Kong e por sua resposta evasiva à investigação do possível vazamento do coronavírus do laboratório de Wuhan. Por outro lado, o país será o centro das atenções globais no ano que vem, quando Pequim se tornará a primeira cidade a sediar as Olimpíadas de Inverno depois de já ter sediado uma edição de Verão.

Apesar de a máquina de propapaganda chinesa ter se tornado mais poderosa nos últimos anos, Xi disse que Pequim deve construir um “sistema mais sofisticado de comunicação estratégica para liderar a opinião pública global”:

“O mundo  deve aprender que o Partido Comunista está empenhando pelo bem-estar do povo, que o marxismo funciona e que o socialismo com características chinesas é bom”.

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Bilhões de dólares em propaganda

O Partido Comunista fornece ativamente notícias por meio de sua mídia estatal às nações ocidentais, principalmente dos países em desenvolvimento, para buscar uma narrativa favorável em todo o mundo. E gasta bilhões de dólares a cada ano para que o conteúdo seja veiculado em uma vasta rede de canais em línguas estrangeiras.

Nos últimos anos, diplomatas chineses foram incentivados a criar contas nas redes sociais ocidentais, que são indisponíveis na China. Além disso, tem patrocinado influenciadores estrangeiros para falarem bem do país, incluindo aqueles que moram na China. Como estes últimos não têm acesso às redes sociais, recebem permissão para postar as postagens favoráveis por meio de uma rede privada virtual que contorna o bloqueio chinês, roteando o tráfego por meio de um servidor em outro país.

O jornal britânico The Times publicou recentemente o caso de Lee Barrett e de seu filho Oli, que se mudaram do Reino Unido para a China em 2019, onde lançaram um canal de YouTube para falar bem da situação local e mal do Ocidente.

Financiados pela Chinese Radio International, eles recebem cerca de 53 mil libras por ano (quase R$ 400 mil) e desde o ano passado já publicaram 255 vídeos, que alcançaram 16,5 milhões de visualizações. O canal tem 200 mil assinantes e entre os que compartilham seus vídeos inclui-se o Embaixador da China no Reino Unido.

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Interferência no trabalho dos correspondentes

O direcionamento de Xi Jinping demonstra como o governo chinês vê a opinião mundial como um campo de batalha onde deve assumir o comando, como fez no âmbito interno, onde todos os meios de comunicação são controlados pelo Estado.

O relacionamento com a mídia estrangeira tem se tornado cada vez mais tenso nos últimos anos, com veículos de notícias locais como o Global Times frequentemente criticando repórteres estrangeiros pelo que consideram uma cobertura parcial e injusta.

Vários jornalistas que trabalham para organizações de notícias dos Estados Unidos foram expulsos no ano passado, quando as relações com o governo Trump se deterioraram. Na época, o governo de Pequim também impediu os expulsos de se mudarem para Hong Kong.

Em fevereiro, uma semana depois de o Reino Unido ter revogado a licença da China Global Television Network (CGTN) depois que uma investigação descobriu que a autorização era detida indevidamente pela Star China Media, a China baniu a BBC World News após a reportagem da emissora britânica sobre estupro e abuso sexual sistemático contra mulheres em campos de internação para uigures étnicos e outros muçulmanos na região de Xinjiang.

O canal da BBC não estava incluído na maioria dos pacotes de TV na China continental, mas estava disponível em alguns hotéis e residências. Após o anúncio, a Radio Television Hong Kong (RTHK), suspendeu a transmissão de rádio da BBC, demonstrando o controle da China sobre a emissora. Fundada em 1928 enquanto Hong Kong era colônia britânica, a RTHK era o único meio de comunicação em solo chinês com um estatuto que lhe garantiria independência editorial.

A Administração Nacional de Rádio e Televisão da China disse que a cobertura da BBC World News “violouseriamente” a exigência de ser “verdadeiro e justo”, além de ter  prejudicado os interesses da China e minado a unidade nacional.

O Clube de Correspondentes Estrangeiros da China (FCCC) distribuiu nota dizendo que a medida tenta intimidar a mídia estrangeira a seguir a linha do governo:

“A FCCC está preocupada que tal medida tenha a intenção de enviar um aviso à mídia estrangeira que opera na China de que poderá enfrentar sanções se suas reportagens não seguirem a linha do partido chinês sobre Xinjiang e outras regiões de minorias étnicas.”

O ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, classificou o banimento da BBC de “uma restrição inaceitável da liberdade de imprensa”. A embaixada da China em Londres rebateu dizendo que a liberdade de imprensa invocada “nada mais é do que um disfarce para espalhar desinformação e calúnias contra outros países”.  Num comunicado contundente, afirmou:

“A fabricação implacável de mentiras da BBC na cobertura da China vai contra a ética profissional do jornalismo e cheira a dois pesos e duas medidas e preconceito ideológico.”

O porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, aproveitou o caso para criticar a China:

“É preocupante que a China restrinja os canais e plataformas de operar livremente, enquanto usa ambientes de imprensa livre e aberta no exterior para promover sua desinformação.”

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A questão de Xinjiang e o boicote às Olimpíadas

Com o sorridente urso panda Bing Dwen Dwen como mascote das Olimpíadas de Inverno do ano que vem, o governo chinês espera alcançar o mesmo efeito positivo de propaganda que as Olimpíadas de Verão trouxeram para a imagem do país. Mas alguns países ameaçam estragar a festa, com a promoção de um boicote em protesto contra o desrespeito à população muçulmana na província de Xinjiang.

Em fevereiro, o parlamento do Canadá votou uma moção que classificou como genocídio as ações chinesas contra o povo uigur em Xinjiang e pediu que o país não envie sua delegação no ano que vem para competir em Pequim. Os Estados Unidos ainda não descartaram a possibilidade, de acordo com declaração também em fevereiro do secretário de Estado Antony Blinken. No Reino Unido, uma lei em tramitação que impõe que o comércio com a China seja condicionado à cessação do desrespeito em Xinjiang foi aprovada na instância da Câmara dos Lordes.

O desastre de relações públicas provocado pela província de Xinjiang na imagem chinesa  começou com uma visita do presidente Xi à província em 2014, a partir da qual foi adotada uma linha mais dura em relação à minoria uigur, com a erradicação gradual dos elementos de sua cultura e religião mediante a implantação de “campos de reeducação” para absorção do modo de vida chinês.

Quando necessário, filhos são separados de pais recalcitrantes, enquanto estes são encarcerados e submetidos a torturas e assédios. Para reduzir a taxa de natalidade uigur, associada a práticas culturais não chinesas, mulheres foram esterilizadas em grande número. Em janeiro, um artigo do China Daily elogiou os avanços desse programa, que teria feito as mulheres uigur ganhar “mais autonomia”, além da “erradicação do extremismo religioso”.

Mais sofisticação na comunicação

Durante a reunião com os líderes do Partido Comunista, Xi elogiou as conquistas recentes da propaganda do país no exterior, mas disse que ela deve ser aprimorada com uma melhor visibilidade de especialistas de alto nível, participação mais efetiva em fóruns internacionais, maior presença na grande mídia estrangeira e a personalização do discurso para diferentes regiões, nações e públicos:

“Temos efetivamente orientado a opinião global, elevamos visivelmente nossa voz e aumentamos nossa influência. Mas devemos estar atentos para o tom certo. Mostrar que não somos apenas abertos e confiantes, mas também humildes e modestos, para construir uma imagem que seja confiável, amável e respeitável.”

Ontem, seguindo a linha proposta pelo presidente, um esforço mais sofisticado de comunicação já foi percebido na questão de Xinjiang. O governo provincial  organizou uma sessão de Zoom apresentando inúmeros depoimentos de muçulmanos da província falando sobre o progresso econômico que experimentaram graças à condução do Partido Comunista.

Além disso, coletivas de imprensa regulares têm sido realizadas em Pequim e o governo tem organizado uma série de visitas supervisionadas a Xinjiang para contar sua história.

Pronunciamento é rara admissão de isolamento, diz BBC

Analistas ouvidos pela BBC disseram que os comentários de Xi marcam uma rara admissão do isolamento de Pequim, em meio à deterioração das relações com as principais potências globais.

A emissora considera que a reflexão de Xi Jinping, que assumiu o poder em 2012 inaugurando uma era de maior assertividade e autoritarismo, pode levar a uma mudança na abordagem diplomática da China.

Segundo a análise da BBC, os diplomatas do país têm seguido nos últimos anos uma estratégia apelidada de “Wolf Warrior”, em alusão a filmes patrióticos de grande sucesso em que as forças especiais chinesas enfrentam mercenários liderados por americanos. Nesse estilo de diplomacia, eles se tornaram cada vez mais eloquentes nos últimos anos, empregando sarcasmo e agressividade contra aqueles que desafiam suas posições.

Para Stephen McDonell, correspondente da BBC na China, é possível que Xi tenha sido persuadido por membros do Partido Comunista de que tem sido contraproducente o estilo de diplomacia adotado com mensagens abusivas e até mesmo de ataques diretos a governos estrangeiros:

“Se Xi Jinping realmente deseja que a China seja vista como “adorável”, isso exigirá uma mudança repentina de 180 graus na abordagem adotada até agora.”

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