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Sophi, a inteligência artificial que mudou a maneira do The Globe and Mail editar suas páginas

Divulgação

A edição de primeira página dos portais como é conhecida hoje pode estar com os dias contados. Após quase uma década sendo produzido, o software Sophi, do grupo canadense The Globe and Mail, se coloca como peça de alta eficiência na escolha de quais notícias uma página deve exibir à sua audiência, bem como quais notas devem ir para a newsletter aos leitores.

O jornal The Globe and Mail começou a enfrentar desafios ao lançar o modelo de assinatura digital, em 2012. Era difícil para os jornalistas entender quais artigos eram de fato valiosos, uma vez que o acesso pago não trazia muitas visualizações de página. Além disso, as ferramentas de dados eram muito complexas para os jornalistas, que não conseguiam interpretar com precisão as informações obtidas. 

Em entrevista à Associação Mundial de Editores de Notícias (WAN-IFRA), Sonali Verma, gerente sênior de produtos do The Globe and Mail, contou que, antes da Sophi, o Globe usava todos os tipos de ferramentas analíticas que mostravam qual era o conteúdo mais popular.

“Nenhum deles realmente respondeu à pergunta que Sophi respondeu, que é: Qual é o conteúdo mais valioso?”

The Globe and Mail
Divulgação/Sophi
Software analisa matérias e as indica para home pages

Para lidar com esses problemas, o jornal contratou uma equipe de cientistas de dados dos setores de tecnologia e bancário. Eles desenvolveram um método de classificar cada conteúdo de acordo com o valor que ele traz para o jornal, bem como o interesse que atrai da audiência, que mais tarde se tornaria a Sophi.

A cada 10 minutos, a Sophi analisa todo o conteúdo publicado no The Globe and Mail, em todas as editorias, observando de que forma o público valoriza esses conteúdos. O software percebe quais são os textos que merecem maior atenção e atualiza as páginas do site de acordo. A Sophi também consegue determinar os melhores conteúdos para as redes sociais e newsletter do jornal.

Com a Sophi em ação, os editores do The Globe and Mail colocam manualmente apenas as três principais histórias na página inicial e na página de negócios. O software lida com a programação para todos os outros slots e widgets nas propriedades digitais do The Globe and Mail, e ajusta as páginas com base em sua análise. Apesar disso, os editores ainda podem substituir manualmente as escolhas da inteligência artificial.

Isso, porém, é raro de acontecer, pois os próprios editores definiram a combinação dos artigos que desejam ver na página (por exemplo, até quatro artigos sobre política, até dois artigos sobre esportes, etc.), e eles também treinaram Sophi para entender quais artigos são melhores para cada contexto (por exemplo, o que aparece na página inicial e na página de negócios) e para evitar que  conteúdo inadequado seja publicado. David Walmsley, editor-chefe do The Globe and Mail, contou que “nenhum leitor reclamou ou perguntou se um computador estava por trás do site”. 

Divulgação/Sophi
Sophie aumentou assinaturas e diagrama capa do jornal em segundos

Após um período de teste, foi possível perceber um aumento de 17% no número de “cliques” fora da página inicial. Além disso, a taxa de novos assinantes cresceu um total de 10%. Atualmente, 99% das páginas do site do The Globe and Mail são analisadas e reajustadas pela Sophi. Outro fator importante foi que o layout de impressão do jornal, que antes era feito por duas pessoas em cerca de duas horas, é agora feito pela IA em questão de segundos, o que economiza tempo valioso dos profissionais.

“A redação do futuro é aquela em que os jornalistas podem se concentrar em encontrar e contar ótimas histórias – algo que as máquinas não podem fazer”. – David Walmsley, editor-chefe do The Globe and Mail

Devido ao sucesso da Sophi, o The Globe and Mail começou a licenciar a IA para outras organizações de notícias, abrindo um novo fluxo de receita para o jornal no processo. 

Desenvolvimento em conjunto com a redação

Para se adaptarem ao funcionamento da Sophi, os jornalistas do Globe tiveram um treinamento sobre a Sophi. Cada interação da inteligência artificial foi construída em colaboração com a redação, o que acabou dando ao software a capacidade de responder às perguntas dos editores e repórteres. Todo esse processo ajudou a construir a confiança nos dados obtidos pela aplicação.

A Sophi mostrou para os jornalistas por exemplo, se um artigo foi promovido de forma excessiva em uma determinada página do site, se estavam desperdiçando pixels ao ocupar um espaço valioso da página, ou se de fato a promoção estava valendo a pena. Foi possível também detectar por que um artigo foi bem-sucedido, para que os jornalistas pudessem aplicar os mesmos atributos em futuros textos.

O Globe afirma que hoje todo repórter e editor do jornal já é capaz de entender se seu conteúdo ajuda a impulsionar as assinaturas, a reter os assinantes existentes ou a trazer novos leitores para a publicação, seja através de acessos diretos ou por meio das redes sociais. Consequentemente, foi possível determinar que tipo de conteúdo fazer mais, e qual fazer menos.

A aplicação de inteligência artificial venceu este ano o Prêmio de Jornalismo Online por Inovação Técnica no Serviço de Jornalismo Digital, concedido pela Online News Association (ONA). E em maio do ano passado, a IA ganhou o Prêmio Norte-Americano de Mídia Digital 2020, da Associação Mundial de Editores de Notícias (WAN-IFRA), na categoria de Melhor Start-up de Notícias Digitais.

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