O repórter Anatoly Kurmanaev, correspondente do jornal The New York Times no México e na América Central, teve sua entrada na Nicarágua negada por autoridades. O jornalista não chegou a entrar no avião que o levaria ao país. Em nota publicada sobre o ocorrido, o Times destacou Kurmanaev cumpriu todos os requisitos legais e de saúde estabelecidos e que o episódio aconteceu em meio a “uma ofensiva nacional contra a mídia e a sociedade civil no país centro-americano”.
Em seu Twitter, o jornalista destacou que perguntou a Rosa Murrillo, esposa do presidente Daniel Ortega, a razão pela qual sua entrada no país foi negada. A resposta dela foi apenas “Obrigada pelo seu interesse”. Ele escreveu que já cobriu Venezuela, Cuba, Rússia, entre outros países, mas nunca antes teve sua entrada negada para fazer seu trabalho.
O que é especialmente chocante sobre a repressão na Nicarágua é a rapidez com que está se desenrolando. Todos os dias alguém com quem você falou é preso. A cada semana, um novo setor da sociedade é atingido. Você começa a escrever para alguém e percebe que acabou de ser cobrado. Nunca vi nada assim.
What's especially shocking about the crackdown in Nicaragua is how fast it is unfolding. Every day someone you spoke with is arrested. Every week a new sector of society is targeted. You start writing someone, and realize they've just been charged. I never saw anything like this.
— Anatoly Kurmanaev (@AKurmanaev) June 18, 2021
Michael Slackman, editor-gerente assistente do Times para a editoria de internacional, declarou que o ocorrido é mais um dos diversos obstáculos que os jornalistas enfrentam para garantir uma sociedade informada: “Os esforços para silenciar os jornalistas devem ser motivo de preocupação para todos”.
A negação da entrada de Kurmanaev é mais um caso de perseguição à imprensa na Nicarágua promovida pelo governo Ortega.
No final de maio, o procurador público do país intimou, na qualidade de testemunhas ou de investigados, pelo menos 16 jornalistas em um suposto caso de lavagem de dinheiro envolvendo a fundação Violeta Barrios de Chamorro – uma ONG que promove a liberdade de imprensa e o jornalismo independente no país.
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A organização encerrou as atividades em fevereiro por recusar-se a se submeter à Lei de Agentes Estrangeiros, que controla os recursos externos que pessoas e organizações civis recebem de fontes internacionais. Cristiana Chamorro, ex-diretora da fundação, foi intimada na qualidade de investigada pelo suposto delito de lavagem de dinheiro. Além de jornalista, Chamorro também é uma das principais vozes da oposição na Nicarágua.
Entidade de direitos humanos pede proteção de jornalista ameaçada
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (IACHR, na sigla em inglês) adotou medidas de precaução a favor da jornalista Kalua Salazar e de sua família, pois estão “em uma situação de risco urgente de danos irreparáveis no que se refere a seus direitos na Nicarágua”, diz a nota da entidade. Kalua, que é diretora da empresa de mídia independente La Costeñísima, estaria sendo vítima de ameaças e vigilância por parte de autoridades do Estado.
A IACHR pede que o governo da Nicarágua adote medidas para proteger a integridade da jornalista e de seu núcleo familiar.
Em seu Twitter, Kalua escreveu sobre o ocorrido, que classificou como “tortura psicológica”.
“Você não pode mais ter paz em sua casa, com prisões arbitrárias, qualquer jornalista pode ser o próximo, eles montam falsos julgamentos, eles te vinculam ao terrorismo, te colocam na prisão … é assim que o jornalismo sobrevive na Nicarágua.”
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