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Golaços da Eurocopa contra racismo e homofobia dão exemplo à Copa América

Foto: Thomas Serer/Unsplash

Quando o atacante Kane e o goleiro Neuer entrarem em campo hoje (29/6) com faixas de capitães com as cores do arco-íris no clássico Inglaterra x Alemanha na Eurocopa, a competição terá marcado mais um golaço nesta edição que tem sido a campeã da defesa das causas sociais. 

Além deste gesto colorido em protesto contra a homotransfobia, o espetáculo será completo porque a Alemanha também deverá se ajoelhar antes do apito inicial, acompanhando o gesto da seleção inglesa, que desde o início da Eurocopa tem seguido esse ritual em protesto contra a discriminação racial.

Ao longo da disputa, que chega às oitavas de final, a Bélgica e o já desclassificado País de Gales também se ajoelharam em protesto contra o racismo.  Alguns dos jogadores dessas seleções ergueram o punho direito. Os belgas Lukaku e De Bruyne vão além e juntam os braços, demonstrando a união que deve existir entre a raça branca e a negra.

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O ato constrange os adversários, fazendo com que várias das seleções que disputam a competição também ajoelhem ao se defrontar com elas, como foi o caso dos portugueses no último domingo (27) antes de serem derrotados pelos belgas, e dos alemães nesta partida contra os ingleses.

Os europeus têm ensinado ao mundo que um campeonato de futebol não precisa se limitar a descobrir quem faz mais gols, e pode servir de bom exemplo às demais competições, inclusive à Copa América, que se desenvolve paralelamente no Brasil.

UEFA faz malabarismo para não aplicar regulamento contra manifestações

Diante da determinação demonstrada pelos jogadores e suas seleções, a UEFA, organizadora da competição, nunca se esforçou tanto para compatibilizar seu regulamento, que proíbe manifestações de cunho político, com a reviravolta que está acontecendo em campo.

No caso dos protestos contra a homotransfobia, a UEFA usou dois pesos e duas medidas. De um lado, proibiu a Prefeitura de Munique (Alemanha) de iluminar com as cores do arco-íris o estádio da cidade, que é uma das sedes da Eurocopa, em apoio ao mês do orgulho LGBTQIA+. A intenção era fazer isso no jogo da primeira fase entre Alemanha e Hungria.

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Por outro lado, na hora de punir o capitão alemão Neuer por entrar em todas as partidas da sua seleção com a faixa multicolorida, recuou e decidiu não puni-lo por ele “estar defendendo uma boa causa”.

Da mesma forma, para não se indispor com o movimento global Black Lives Matter, que tomou o mundo desde a morte de George Floyd no ano passado, nos Estados Unidos, a UEFA decidiu que as seleções que se ajoelham antes de seus jogos não estão infringindo seu regulamento sob o pretexto de que, mais do que um ato político, elas estão defendendo os direitos humanos.

Foto: Elyssa Fahndrich/Unsplash
Nem só aplausos receberam as manifestações dos jogadores

A atitude de defender causas sociais durante as partidas tem recebido aplausos, mas também reações contrárias. O comportamento da torcida húngara está sob análise da UEFA por causa dos cantos racistas e homofóbicos entoados nas partidas contra Portugal e França.

A torcida espanhola iniciou um movimento nas redes sociais para que os jogadores de sua seleção não ajoelhem. Com a hashtag #sisearrodillanapagalatele, os torcedores ameaçam apagar a televisão e deixar de torcer pelo time.

Num jogo da Bélgica, os jogadores foram vaiados por torcedores russos quando se ajoelharam. Isso não os intimidou, e disseram que seguirão a prática até o fim da competição. 

Algumas seleções já abandonaram a competição sem terem se ajoelhado. Das que permanecem na disputa, algumas disseram que embora não adotem o ato como prática, se ajoelharão se cruzarem com adversários que se ajoelhem. Outras anunciaram que não farão isso mesmo nessa situação.

Mas o caso mais inusitado até agora foi o da Itália. A equipe optou por não se ajoelhar até se defrontar com Gales, no dia 20. Quando o adversário se ajoelhou, metade do time seguiu o exemplo e a outra metade não. Dos três jogadores nascidos no Brasil que defendem a seleção azzurra, dois se ajoelharam (Emerson Palmieri e Rafael Tolói) e o terceiro, Jorginho, optou por seguir os que ficaram de pé.

Protestos devem continuar com Bélgica e Inglaterra (ou Alemanha)

O espetáculo contra o racismo e a homotransfobia — e a discussão em torno dos atos — deverá continuar enquanto Bélgica e Inglaterra (ou Alemanha) vencerem seus jogos.

É até possível que Bélgica e Inglaterra (ou Alemanha) disputem o título da competição, já que seguem por caminhos que não se cruzam até a grande final.

Se isso acontecer, é possível que tenhamos pela primeira vez na história da Eurocopa uma final com os dois times se ajoelhando contra o racismo antes do início da partida e com o capitão de pelo menos um deles endossando uma faixa com as cores do arco-íris.

Seria um grand finale para uma competição que só perde em importância para a Copa do Mundo (quando essas manifestações certamente voltarão à tona), mas principalmente um golaço para a causa dos direitos humanos. Ainda há tempo para as seleções da Copa América seguirem o exemplo.

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