Um grupo com algumas das principais forças do jornalismo americano pediu ao presidente Biden que inclua colaboradores afegãos da mídia no Programa Especial de Vistos de Imigração. New York Times, BuzzFeed, CNN e Fox News estão entre as 21 empresas que assinaram o documento nesta terça-feira (20/7), além de organizações de imprensa.

Com a aproximação da retirada de tropas dos Estados Unidos (EUA) do Afeganistão, marcada para 11 de setembro, cidadãos do país, ameaçado por uma nova investida do Taleban, se tornarão automaticamente alvos, afirma a carta enviada à Casa Branca.

As empresas se referem a cidadãos locais, muitas vezes jornalistas, que fornecem informações para reportagens internacionais publicadas em grandes veículos. Essa atividade é chamada de fixer (consertador).

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Os fixers são utilizados pelos repórteres − sobretudo em regiões conflagradas − para ajudá-los a descobrir fontes locais, traduzir o idioma e fazer reportagens em áreas em que um estrangeiro chamaria atenção ou arriscaria a vida.

Em 2020, um estudo canadense revelou sinais preocupantes de uma dinâmica de poder que coloca os fixers em posição subserviente.  Eles enfrentam mais perigos, ganham bem menos e muitas vezes não recebem qualquer crédito sobre o trabalho de jornalismo resultante.

EUA já têm operação para retirar intérpretes do Afeganistão
O repórter fotográfico Danish Siddiqui. (Reprodução/Twitter)

Recentemente, o governo americano anunciou uma operação de resgate de intérpretes do Afeganistão que trabalharam com as tropas americanas e aliadas no país. A retirada destes profissionais será iniciada ainda em julho. 

De acordo com a agência Reuters, a evacuação inicial incluirá cerca de 2.500 pessoas que devem ser alojadas em instalações militares, seja nos EUA ou em um terceiro país, enquanto seus pedidos de visto são processados. 

A iniciativa da imprensa nos EUA sucede a morte do fotógrafo da Reuters, Danish Siddiqui, na última sexta-feira (16/7) , e procura dar uma resposta à rápida deterioração do clima no Afeganistão para os profissionais de imprensa, com ameaças crescentes contra a mídia e ocupação de veículos de comunicação no país.

O grupo de imprensa afirma haver precedentes na administração americana para dar abrigo aos colaboradores afegãos. “Em 2008, o Congresso aprovou, e o presidente Bush assinou, uma legislação estendendo consideração especial sobre imigração aos iraquianos que trabalharam com a mídia dos EUA. Esse programa alcançou jornalistas e funcionários de apoio e estendeu-se a seus familiares imediatos. O mesmo tipo de programa é necessário agora para o Afeganistão.”

Segundo a Organização das Nações Unidas, 33 jornalistas foram mortos no Afeganistão entre 2018 e 2021.

Fundamentalismo torna território afegão especialmente perigoso para mulheres

A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) aplaudiu à medida e convoca outros meios de comunicação internacionais a fazerem lobby junto aos governos para ajudar jornalistas sob ameaça:

“As organizações internacionais de mídia e os governos têm a responsabilidade de ajudar a proteger aqueles que trouxeram a história crítica do Afeganistão para o mundo. Eles não devem ser deixados expostos e em perigo por cumprirem esse dever profissional.”

O Afeganistão ocupa a posição número 122 no Mapa de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que aponta seis jornalistas e comunicadores vítimas de assassinatos premeditados desde o início de 2020 no país. 

O índice global avalia as condições de trabalho da imprensa em 180 países.

A RSF ressalta que o território afegão é ainda mais perigoso para mulheres da imprensa. “Apesar de resistirem, as jornalistas continuam vulneráveis em um país onde a propaganda fundamentalista, muito ativa em várias regiões, as torna um dos seus alvos preferidos. Há uma grande preocupação de que as liberdades fundamentais, e em particular as das mulheres jornalistas, sejam sacrificadas.”

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