Um vídeo postado no Instagram, de uma cliente de um spa em Los Angeles reclamando ter visto um homem nu no espaço reservado a mulheres, se transformou em um barril de pólvora misturando a direita radical e ativistas dos direitos trans nos Estados Unidos (EUA).

O caso ilustra o poder do uso indiscriminado das redes sociais para propagar discursos de ódio, que extrapolam o ambiente virtual.

Leia também: Representação LGBTQ em desenhos animados tem boom em uma década, mostra levantamento

As reações ao post publicado no dia 24/6, que evocava valores cristãos e discurso trans/homofóbico, se transformaram em protestos em frente ao Wi Spa, local do incidente. Houve relatos de pessoas esfaqueadas, agredidas verbalmente, e um processo aberto contra a polícia de Los Angeles por brutalidade policial contra manifestantes pró-direitos transgênero.

Vídeo foi gravado em recepção de spa

Com exibições que ultrapassam 1 milhão, somados o vídeo original no Instagram a um repost no Twitter, as queixas da cliente identificada como “Cubana Angel” na recepção do Wi Spa, em Los Angeles, viraram munição para grupos conservadores dos EUA e do mundo gerarem conteúdo contra a população transgênero.

No vídeo ela se dirige a uma recepcionista e afirma ter visto um homem “mostrando o pênis” em um espaço onde havia “mulheres e garotinhas”. assista abaixo, em inglês:

O vídeo não mostra o suposto homem. E a afirmação de “Cubana” até agora não foi comprovada, o que não impediu uma mobilização online e confrontos em frente ao spa. 

A polícia local investiga o caso. Um jornal LGBTQ+ local, Los Angeles Blade, relatou que um funcionário do spa disse que não havia clientes trans com compromissos naquele dia, o que levou ao questionamento se o incidente todo foi encenado.

Dois protestos em frente ao spa, nos dias 3 e 17 deste mês, registraram confrontos entre manifestantes contra e a favor dos direitos da população transgênero. A Polícia de Los Angeles registrou em sua página de Twitter:

Alvo de fake news, ativista trans virou alvo de ameaças

O jornal The Guardian revelou o caso de Precious Child, ativista trans de Los Angeles que foi apontada como o “homem” que estava no spa. Ela afirma nunca ter frequentado o local. Após Precious fazer postagens incentivando apoiadores a comparecerem aos protestos marcados na cidade, uma foto dela foi publicada por um militante antivacina.

Conforme a falsa narrativa sobre ela se espalhou, disse Precious, ela começou a ver comentários de grupos distintos ao redor do mundo, desde uma milícia patriota dos EUA, apoiadores de Trump, ativistas antitrans na Inglaterra, Alemanha e Austrália.

Leia também: Washington Post é processado por repórter proibida de cobrir casos de assédio sexual por já ter sido vítima

Em poucos dias, contas do Twitter com grande número de seguidores identificaram explicitamente Precious como o autor do alegado escândalo, passando a ofendê-la e ameaçá-la.

O Perfil de “Cubana Angel” no Instagram passou a exibir um comunicado afirmando que Precious não é a pessoa alvo do vídeo que viralizou. A conta na rede social segue sem informar quem seria de fato a pessoa alvo da reclamação.

Leia também

Representação LGBTQ em desenhos animados tem boom em uma década, mostra levantamento