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Redes sociais ignoram 84% das denúncias sobre ódio contra judeus, aponta pesquisa

(Reprodução/CCDH)

Uma pesquisa britânica aponta que redes sociais se omitiram em 84% das postagens antissemitas denunciadas por meio de suas próprias ferramentas de alerta de conteúdo impróprio.

Em maio e junho deste ano, a ONG britânica Center for Countering Digital Hate (CCDH – Centro de Combate ao Discurso de Ódio, em tradução livre) propõe que as empresas sejam penalizadas financeiramente por suas falhas, para obrigá-las a investir num sistema de moderação mais eficiente.

“As plataformas não removem o discurso de ódio mesmo depois de notificadas. Essa amostra é uma fração do conteúdo racista que circula nas mídias sociais e comprova o fracasso das Big Tech em lidar com o ódio que suas plataformas hospedam. As plataformas devem contratar, treinar e apoiar os moderadores necessários para remover com eficácia o discurso de ódio”, afirma o CEO da CCDH, Imran Ahmed.

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A pesquisa analisou conteúdo exposto no Facebook, Instagram, Twitter, TikTok e YouTube, e utiliza a metodologia de notificar diretamente as plataformas, para não dar margem para que as empresas que administram as redes sociais coloquem a culpa nos algoritmos.

A ONG, que tem sede em Londres e escritório nos Estados Unidos, havia apontado em outro estudo, no ano passado, que as plataformas tinham falhado em remover 95% de conteúdo impróprio antivacina reportado também por suas próprias ferramentas.

Hashtags racistas

O relatório aponta que Instagram, TikTok e Twitter permitem o uso de hashtags que promovem o conteúdo antissemita.

O material coletado pelos pesquisadores mostra que o Twitter continua a hospedar hashtags que variam de #holohoax (alusão a um “falso Holocausto”) a #killthejews (“morte aos judeus”), enquanto o TikTok permite hashtags que promovem conspirações como #synagogueofsatan (“sinagoga de Satã”), #rothschildfamily (“família Rothschild”) e #soros (alusão ao bilionário George Soros). 

O estudo recomenda o banimento desse tipo de hashtags e mostra que as coletadas foram compartilhadas 25 milhões de vezes.

Facebook teve pior desempenho na resposta a posts impróprios

Ao longo de seis semanas dos meses de maio e junho deste ano, os pesquisadores do CCDH coletaram e relataram 714 posts contendo discursos de ódio antissemita, conteúdo com um total de 7,3 milhões de visualizações.

As plataformas tomaram alguma atitude sobre 114 deles, com 63 contas removidas, 50 posts retirados e um post sinalizado.

O Facebook teve o pior desempenho, deixando de agir em 89% das notificações, a maioria delas denunciando teorias da conspiração antissemitas, apesar de a plataforma ter anunciado novas regras para enfrentar o problema e remover a negação do Holocausto.

Twitter e TikTok removem menos contas

As plataformas que menos removeram as contas denunciadas foram o Twitter e o TikTok. Essas redes retiraram apenas uma de cada 20 contas (5%) que cometeram abusos racistas contra usuários judeus.

Os pesquisadores ressaltam que apesar de o TikTok dizer que “não permite conteúdo que contenha discurso de ódio”, as seções de comentários de usuários judeus estão repletas de abusos antissemitas.  

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A remoção de contas que cometem abusos racistas e dos grupos antissemitas é outra das recomendações do relatório. O CEO Ahmed denuncia os efeitos da omissão das plataformas:

“Cada uma das postagens identificadas e sinalizadas por nossos pesquisadores claramente violou as políticas em vigor. Como resultado de não aplicar suas próprias regras, as plataformas de mídia social tornaram-se locais seguros para espalhar racismo e propaganda contra os judeus.”

Post com teoria sobre família judia controlar bancos centrais do mundo. (Reprodução/CCDH)
Posts no YouTube viralizam mais que no Instagram

As 714 postagens denunciadas foram vistas pelo menos 7,3 milhões de vezes pelos usuários do Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e YouTube, de onde foram coletadas.

Quase quatro em cada dez (38,8%) das postagens racistas analisadas pelo estudo foram observadas no Instagram.

Embora tenha apresentado o menor número de postagens antissemitas, o YouTube foi o responsável pelo maior volume de impressões, respondendo por metade do total.

Os 52 vídeos monitorados no YouTube tiveram mais de 3,6 milhões de exibições. No Instagram, 277 posts analisados tiveram 447 mil impressões.

Teorias de conspiração continuaram nas redes mesmo após alerta

As plataformas deixaram de agir em nove dos dez casos (89%) de teorias de conspiração antissemitas reportadas, permitindo que postagens responsabilizando os judeus pelos atentados de 11 de Setembro, pela pandemia da Covid-19 ou pelo controle mundial de governos e bancos permanecessem, mesmo após as denúncias.

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O segundo tema em que as plataformas mais se omitiram (em 80% das denúncias) foi o da negação do Holocausto, seguida pelas acusações (74%) de sacrifício de crianças não judias para usar seu sangue em rituais, caricaturas racistas (70%) e manifestações neonazistas (70%).

No estudo, o CCDH identificou total de 38 mil membros nos doze principais grupos antissemitas identificados, sendo o maior deles o que distribui desinformação ligando crimes ao sionismo.

Há também uma quantidade representativa de membros em grupos que atacam os mais diversos temas, como a Nova Ordem Mundial, o bilionário George Soros, a família Rothschild, Israel e o Talmude, o livro sagrado dos judeus.

Resultados ainda piores na remoção do conteúdo antivacina

Num outro estudo realizado entre julho e agosto do ano passado com a mesma metodologia, o CCDH demonstrou que as plataformas não tomaram nenhuma atitude em 95,1% das 912 postagens denunciadas como desinformação sobre vacinas.

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E dos 4,9% das postagens em que alguma atitude foi tomada, o estudo ressaltou que somente a metade foi efetivamente removida, enquanto a outra metade permaneceu rotulada como falsa, como forma de isenção de responsabilidade.

Penalidades financeiras para obrigar plataformas a agir

O CCDH pede que os governos imponham penalidades financeiras para responsabilizar as plataformas por suas falhas e assim incentivar a moderação adequada.

O CEO Ahmed acusa as plataformas de estarem mais interessadas no lucro obtido com a minoria que dissemina ódio e desinformação do que em proteger a maioria dos usuários:

“As plataformas devem sofrer sanções pelos danos que eles criam, da mesma forma que qualquer pessoa ou empresa. As penalidades financeiras garantirão que elas não continuem investindo apenas o mínimo na moderação de conteúdo.”

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