Em meio a uma troca de agressões diplomáticas entre Reino Unido e Rússia, a jornalista da BBC em Moscou Sarah Rainsford afirmou que está sendo expulsa do país. A notícia foi inicialmente veiculada pela mídia russa e confirmada pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, que postou uma declaração em sua conta pessoal no Telegram dizendo que o visto de Rainsford foi “retirado indefinidamente”, declaração republicada na conta oficial do ministério.
“Estou sendo expulsa — não é uma falha na renovação do meu visto, embora tecnicamente seja isso que é. Estou sendo expulsa e me disseram que não posso voltar, nunca”, afirmou a correspondente à BBC. Ela afirma ter informações de que está sendo vítima de retaliação russa após boicotes do Reino Unido a jornalistas e veículos russos.
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A tese é confirmada pela porta-voz do ministério. Zakharova escreveu que a não-renovação do visto de Rainsford, que está permanentemente em Moscou desde 2014, foi um revide pela negação das autoridades britânicas de uma extensão do visto a um jornalista em uma agência de notícias russa não identificada em 2019.
Zakharova também fez referência a um “fluxo” de supostas recusas a jornalistas russos no Reino Unido para cobrir grandes eventos.
Atrito entre Reino Unido e Rússia respinga na imprensa
“Recebi razões distintas, incluindo sanções do governo britânico contra cidadãos russos — por violações dos direitos humanos na Chechênia–, e também uma lista de pessoas sancionadas por corrupção. Mas é claramente no contexto de uma grande deterioração das relações entre a Rússia e o Reino Unido e, mais amplamente, a Rússia e o Ocidente”, avalia Rainsford.
A jornalista comentou de sua experiência na Rússia desde o início dos anos 1990, quando os sinais da pobreza eram evidentes, com o comércio bastante precário. Rainsford afirma que assistiu a uma abertura e uma ampliação de liberdades na sociedade russa, espaço democrático que volta a se apertar na visão da correspondente.
“A realidade é que eles não querem pessoas assim [correspondentes experientes] aqui. É muito mais fácil ter menos pessoas aqui que entendam e possam falar diretamente com as pessoas e ouvir suas histórias. É muito mais fácil, talvez, ter pessoas que não falam a língua, não conhecem o país tão profundamente. Eu realmente acho que é indicativo de um ambiente cada vez mais difícil e repressivo.”
A porta-voz do ministério afirmou que “as autoridades russas alertaram repetidamente aos seus homólogos britânicos que iriam ‘responder na mesma moeda’ se as suas queixas não fossem atendidas”. Zakharova negou que Rainsford tivesse sido informado de que ela nunca poderia retornar à Rússia, escrevendo no Telegram que “se eles [o Reino Unido] derem um visto para o correspondente russo, nós o daremos para Sarah”.
O jornalista russo em questão não foi identificado.
Veto britânico a sites russos em evento em Londres teria irritado Moscou
Em 2019, o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido proibiu os veículos estatais Russia Today e Sputnik de participarem de uma conferência global sobre liberdade de mídia em Londres por seu “papel ativo na disseminação de desinformação”
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O Departamento de Estrangeiros, Comunidade e Desenvolvimento do Reino Unido declarou que “os jornalistas russos continuam a trabalhar livremente no Reino Unido, desde que ajam de acordo com a lei e a estrutura regulatória”, relatou a agência Associated Press.
Em um comunicado divulgado na sexta-feira (13/8), o diretor-geral da BBC, Tim Davie, disse: “A expulsão de Sarah Rainsford é um ataque direto à liberdade de mídia que condenamos sem reservas.”
“Sarah é uma jornalista excepcional e destemida. Ela fala russo fluentemente e fornece reportagens independentes e aprofundadas sobre a Rússia e a ex-União Soviética. Seu jornalismo informa o público da BBC de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo.”
O Comitê de Proteção aos Jornalistas se manifestou, pedindo a imediata renovação do visto de Rainsford.
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A imprensa independente vem denunciando perseguições do governo Putin contra jornalistas, com prisões, processos e operações policiais.
Sites como o Proekt (Projeto, em português) faz parte de uma nova onda de publicações “de guerrilha”, que operam sem redações tradicionais e são financiados por doações públicas de organizações estrangeiras que apoiam o jornalismo investigativo.
Integrantes do Proekt tiveram as casas vasculhadas pela polícia.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou a ideia de que as batidas dirigidas a jornalistas investigativos possam ser vistas como uma retaliação ao seu trabalho, dizendo que “existem bases legais para tais ações”.
Vladimir Putin é considerado pela organização Repórteres Sem Fronteiras como um dos “predadores” mundiais da liberdade de imprensa, lista da qual também faz parte o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.
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