Diante da tomada do Afeganistão pelo Taleban e as ameaças à liberdade de imprensa, Farnaz Fassihi, correspondente de guerra do jornal New York Times, fez uma thread no Twitter na qual destaca livros escritos por correspondentes estrangeiros em países em guerra.
Ela começa citando seu próprio livro, Esperando por Um Dia Comum: o Desenrolar da Vida no Iraque, publicado em 2008, que mostra a vida de iraquianos desprivilegiados após a derrubada de Saddam Hussein pelos Estados Unidos, dando voz à pessoas cujas vozes permaneceram “assustadoramente silenciosas”. Com relatos e entrevistas, a autora mostra uma triste realidade que poderia ter sido evitada.
Confira algumas das indicações de livros de Farnaz Fassihi (os títulos foram passados ao português em tradução livre).
Todo Homem neste Vilarejo É um Mentiroso: um Estudo Sobre Guerra – 2011
Algumas semanas após o atentado de 11 de setembro, Megan K. Stack, correspondente do Los Angeles Times, trabalhou no Afeganistão e no Paquistão, esquivando-se de pistoleiros, instigando senhores de guerra por informações e testemunhando mudanças que afetaram o mundo muçulmano.
O resultado do que ela viu com seus próprios olhos em zonas de combate é o livro Todo Homem Neste Vilarejo É Um Mentiroso: Um Estudo Sobre Guerra. A autora conta que, no começo estava animada com o que poderia produzir, mas tal animação foi morrendo aos poucos conforme ela percebia que o custo da violência superava a promessa de democracia.
Stack registrou a dor de atentados suicidas em Israel e no Iraque, e destacou os desaparecimentos e mortes daqueles que entrevistou na obra.
É o Que Eu Faço: a História de Amor e Guerra de uma Fotógrafa – 2016
A fotojornalista americana Lynsey Addario reuniu suas memórias em É o Que Eu Faço: a História de Amor e Guerra de Uma Fotógrafa . O título da obra refere-se ao trabalho de um fotógrafo de guerra: documentar, muitas vezes em seus momentos mais extremos, a vida complexa de pessoas. Mas este trabalho dela é muito mais do que isso, é a sua “vocação singular”, destaca o livro.
A autora mostra o povo afegão antes e depois do domínio do Taleban; vítimas e insurgentes da Guerra do Iraque; aldeias queimadas e incontáveis mortos em Darfur, no Sudão; a cultura de violência contra as mulheres no Congo; e até os detalhes de seu sequestro que virou manchete de forças pró-Gaddafi na guerra civil da Líbia.
O livro mostra, acima de tudo, o custo humano da guerra.
Os Círculos de Costura de Herat: Um Livro de Memórias Sobre o Afeganistão – 2017
Em 1992, Christina Lamb fez uma reportagem sobre a guerra que o povo afegão travava com a União Soviética. Após o 11 de Setembro, a jornalista retornou ao Afeganistão para descobrir o que havia acontecido com as pessoas e lugares que marcaram sua juventude.
O resultado desta experiência foi o livro Os Círculos de Costura de Herat: Um Livro de Memórias Sobre o Afeganistão, que mostra agora a visão de uma correspondente mais experiente e mãe sobre terras devastadas e vítimas abandonadas que sofreram com conflitos por mais de 20 anos.
Sem Volta: Vida, Perda e Esperança em Tempos de Guerra na Síria – 2019
Baseado em cinco anos de reportagem clandestina, Sem Volta: Vida, Perda e Esperança em Tempos de Guerra na Síria , de Rania Abouzeid, mostra as ideologias e alianças que compõem o conflito na no país, através das histórias dramáticas de quatro jovens em busca de segurança e liberdade.
A obra leva os leitores a acontecimentos históricos como as prisões feitas pelo governo de Bashar al-Assad, reuniões secretas onde países e organizações estrangeiras manipulavam rebeldes, níveis altos de militância islâmica e até a formação do Estado Islâmico, entrelaçando vidas de manifestantes, vítimas e assassinos implacáveis em meio aos conflitos.
Os Colecionadores de Livros: Um Bando de Rebeldes Sírios e as Histórias que os Levaram ao Longo da Guerra – 2020
Dayara, cidade fora de Damasco, foi sitiada em 2012. Por quatro anos, ninguém entrou ou saiu e a ajuda foi bloqueada. Todos os dias, bombas caíam sobre este lugar, repleto de lares, famílias, escolas e crianças, agora esvaziado e quebrado em pedaços. No meio dos escombros, sobreviventes encontraram um esconderijo recheado de livros.
Em uma semana, eles tinham seis mil volumes; em um mês, quinze mil. Nascia então uma biblioteca onde as pessoas poderiam escapar do bloqueio, com uma grande variedade de obras que iam desde poesia árabe a autoajuda americana, peças de Shakespeare a histórias de guerra em outros lugares. No local, as pessoas compartilhavam histórias de suas vidas antes da guerra e cuidavam das raízes de sua comunidade.
A jornalista Delphine Minoui, hoje colunista da revista Foreign Policy, entrou em contato com um dos fundadores da biblioteca, Ahmad, de 23 anos.
Por meio de mensagens no WhatsApp e Facebook, ela conheceu os jovens que se reuniam na biblioteca, trocavam ideias, aprendiam inglês e imaginavam como moldar o futuro, mesmo com bombas caindo no solo acima. O resultado da experiência é a obra Os Colecionadores de Livros: um Bando de Rebeldes Sírios e as Histórias Que os Levaram ao Longo da Guerra.
Irmãs na Guerra: Uma História de Amor, Família e Sobrevivência no Novo Iraque – 2011
Christina Asquith, fundadora do Fuller Project, escreveu sobre um tema pouco abordado durante a Guerra do Iraque: a tentativa de trazer os direitos das mulheres ao país, e as consequências para todos os envolvidos.
Em Irmãs na Guerra: Uma História de Amor, Família e Sobrevivência no Novo Iraque, a jornalista conta a história de quatro mulheres que defendem seus direitos em circunstâncias desesperadoras. Asquith conta a história das irmãs Zia e Nunu, que acabam virando alvos de insurgentes islâmicos e se veem presas entre suas esperanças de um novo país e a realidade violenta de uma guerra mal orientada.
A autora escreve também sobre Manal, uma ativista dos direitos das mulheres palestino-americanas, e Heather, uma reservista do exército dos Estados Unidos, que trabalham juntas para fundar o primeiro centro feminino do Iraque. Depois que uma de suas colegas é baleada, as duas precisam decidir se podem continuar lutando pelas mulheres iraquianas, mesmo que arriscando suas próprias vidas.
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