Londres – Jornalistas, advogados e personalidades públicas relacionadas ao ataque à jornalista maltesa Daphne Garuana Galizia, assassinada em um atentado a bomba em 2017, passaram a ser vítimas de uma campanha de desinformação nas últimas semanas. A ação inclui emails falsos e até a criação de sites fraudulentos, despertando preocupação sobre a liberdade de imprensa no país. 

A ação coincide com o indiciamento, no dia 18 de agosto, do empresário do setor de cassinos Yorgen Fenech, envolvido em denúncias de lavagem de dinheiro e corrupção. Se condenado, pode pegar prisão perpétua. 

O empresário sofreu recentemente nova derrota no caso Galizia, com o juiz recusando um pedido de adiamento de audiência. Fenech voltou a ser notícia em Malta ao sofrer acusações de crimes financeiros, além da investigação sobre o ataque à jornalista. 

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“Métodos covardes”

A campanha virou manchete em jornais de alcance nacional no país, que passaram a desmentir páginas falsas e revelar que as redações estavam recebendo conteúdo falsificado em nome de figuras conhecidas nacionalmente.

O blogueiro e ativista Manuel Delia alertou que e-mails estavam sendo enviados a jornalistas e veículos de notícias em seu nome e que um site fraudulento havia sido criado. A Federação Europeia de Jornalistas (EFJ) manifestou apoio, denunciando a situação.

“Esses métodos são covardes. Eles são pura manipulação da opinião pública em benefício de interesses particulares. Mas também mostram o quão indispensável é o trabalho dos jornalistas quando se trata de servir ao interesse público”, afirmou o secretário-geral da EFJ, Ricardo Gutiérrez.

Campanhas de ódio 

Outros conteúdos falsos estão denunciando supostas campanhas de ódio que seriam da autoria de jornalistas de Malta.

Jason Azzopardi, advogado da família de Daphne Garuana Galizia e parlamentar do Partido Nacionalista, teve e-mails falsos em seu nome enviados ao diário The Malta Independent, assim como Delia.

Os e-mails seriam uma falsa confissão de “insanidade” do próprio blogueiro e de Azzopardi. Ambos publicaram artigos questionando a independência do juiz no julgamento de Fenech no caso do assassinato de Galizia.

O jornal The Malta Independent vem desmentindo publicações e e-mails falsos que estão chegando a redações, como no post do último dia 26  no Twitter, onde alerta sobre mensagens falsas atribuídas ao primeiro-ministro Robert Abela e a Delia, mas que na verdade teriam origem de um site tcheco usado para falsificar e-mails.

“Embora os e-mails dos remetentes usados ​​sejam os verdadeiros, uma diferença foi o fato de os dois homens assinarem seus e-mails formalmente com nome completo e sobrenome. O fato de Azzopardi ‘usar’ seu endereço de e-mail oficial do Parlamento foi outro sinal de que os e-mails eram falsos”, explica a publicação.

“A redação examinou o código-fonte do tópico de e-mail e o rastreou até um site chamado ‘Emkei’s Fake Emailer’, que é baseado na República Tcheca.”

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Campanha de ataque a jornalistas atinge também políticos e meios de comunicação

Vários meios de comunicação de Malta foram atacados, com artigos publicados em sites falsos criados em seus nomes. Até o momento, os sites Newsbook, NET News, TVM, Lovin Malta e StradaRjali  foram afetados. Os sites fraudulentos agora aparecem inacessíveis. 

O presidente do Instituto de Jornalistas Malteses (IGM) e jornalista do Times of Malta, Matthew Xuereb, também foi vítima de histórias falsas que alegavam que ele havia criado contas falsas no Facebook para insultar pessoas.

Xuereb disse que o IGM está “muito preocupado” com os ataques sistemáticos a jornalistas e ativistas da sociedade civil:

“O instituto está acompanhando de perto os desenvolvimentos e escreveu formalmente ao primeiro-ministro e ao comissário da polícia para levar esses ataques a sério e investigar a sua origem.

Os ataques a jornalistas são desprezíveis e são uma ameaça ao quarto pilar da democracia. O IGM exortou seus membros a permanecerem unidos contra esta nova forma de intimidação.”

 Anthony Bellanger, secretário-geral da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), disse que “a organização condena essa campanha de desinformação que está interferindo seriamente na liberdade de imprensa e no direito do público se informar”.

Segundo Bellanger, essa campanha deve ser levada muito a sério pelas autoridades, que devem garantir a segurança dos alvos e que os cidadãos tenham cuidado com o que leem e com o que enviam. “Não vamos deixar esta campanha desacreditar os jornalistas que estão apenas tentando dizer a verdade”, afirmou.

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