MediaTalks em UOL

Após reprimir liberdade de imprensa, censura em Hong Kong avança sobre o cinema

Avenida bloqueada por protesto em Hong Kong. (Tanner / Marquis/Unsplash)

O alinhamento político de Hong Kong ao governo chinês, que vem se refletindo na repressão a manifestantes e jornais a favor da democracia, suprimindo a liberdade de imprensa, agora afeta o ramo do entretenimento, mais precisamente o do cinema.

Após a emissora pública de Hong Kong, a Radio Television Hong Kong (RTHK) firmar uma parceria em agosto com o Chinese Media Group — empresa controladora dos meios de comunicação estatais da China, CCTV e China National Radio, o secretário de comércio do território autônomo, Edward Yau, anunciou na semana passada que o governo local não irá permitir a exibição de filmes que violem a Lei de Segurança Nacional. 

Ao anunciar a parceria com o Chinese Media Group, em 17/8, uma executiva da RTHK explicou que o objetivo é fornecer aos telespectadores um “entendimento completo da luta e do desenvolvimento do Partido Comunista da China e nutrir um forte senso de patriotismo”.

Uma semana depois, em 24/8, o secretário Yau anunciou uma nova lei de censura retroativa permitindo às autoridades revogar a certificação de filmes com base em motivos de segurança nacional. 

A punição máxima para a exibição de um filme não licenciado será de três anos de prisão e uma multa de 1 milhão de dólares de Hong Kong (HKD), cerca de R$ 658 mil.


Leia também


Apesar das preocupações de organizações de mídia internacionais de que a nova parceria viole a liberdade de imprensa da RTHK, a rede defende que a parceria está em conformidade com o regulamento interno, informa a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ).

Governo já usa legislação para reprimir a liberdade de imprensa em Hong Kong

A mesma Lei de Segurança Nacional tem sido usada para reprimir manifestações críticas ao governo, e foi base para o fechamento do maior jornal pró-democracia de Hong Kong, o Apple Daily,  em junho. A redação foi invadida por forças policiais.

“É claro que a intrusão do governo chinês no jornalismo independente e crítico em Hong Kong continua sob o pretexto de segurança e patriotismo”, afirma a IFJ.


Leia também

Usando a lei como pretexto, empresas e cidadãos, entre eles jornalistas, são acusados de atentado contra a soberania nacional e associação a agentes estrangeiros, em moldes parecidos com a repressão à liberdade de imprensa em países como Mianmar e Rússia, onde veículos de imprensa se manifestaram recentemente contra a “lei do agente estrangeiro”. 

Os executivos do grupo Next Digital, dono do Apple Daily, foram detidos por “conluio com um país estrangeiro ou com elementos externos que ameacem a segurança nacional”.

As autoridades de Hong Kong anunciaram o congelamento das ações do grupo, e seu fundador, Jimmy Lai, foi detido também por “motivos de segurança nacional” .

Em Mianmar, uma lei de perfil semelhante tem dado base a prisões de jornalistas, com casos mais recentes de funcionários da BBC e da rádio Voice of America no país, detidos em suas casas. Danny Fenster, jornalista americano, completou esta semana 100 dias preso sem acusação formal. 

Leia também

ONGs classificam nova instituição de direitos humanos do Camboja de “jogada de relações públicas”

Sair da versão mobile