O que se esconde atrás das lentes dos microscópios de cientistas que pesquisam doenças e desenvolvem inovações tecnológicas pode ser muito mais do que ciência. O concurso de fotografia Nikon Small World, que chegou este ano à sua 47a edição, comprova que existe arte onde menos se imagina. 

Pode haver beleza em um piolho de porco? Ou no cérebro de um rato? Confira a seguir as imagens vencedoras e uma seleção das finalistas na edição 2021 do concurso. 

Elas foram produzidas por cientistas em laboratórios de vários países, usando microscópios poderosos, técnica fotográfica e talento artístico para enxergar a beleza da ciência. 

1º lugar – Folha de Carvalho

A grande campeã foi a imagem de uma folha de carvalho feita pelo americano Jason Kirk, que trabalh no núcleo de Imagem Ótica e Microscopia Vital do Baylor College of Medicine.

A foto, que nem de longe lembra uma folha como nossos olhos estão acostumados a ver, foi produzida usando um sistema de microscópio feito sob medida que combina luz transmitida filtrada por cor com luz refletida difusa, Kirk capturou cerca de 200 imagens individuais da folha e as empilhou para criar uma imagem impressionante.

Ele usou as luzes transmitidas e refletidas em lados opostos da folha para destacar três estruturas vitais. Com destaque em branco estão os tricomas, que são pequenos frutos que protegem uma planta contra condições climáticas extremas, microorganismos e insetos. 

Em roxo, Jason destaca os estômatos, pequenos poros que regulam o fluxo de gases em uma planta. Coloridos em ciano são os vasos que transportam água pela folha. Os três são essenciais para a vida das plantas.

“O lado da iluminação era complicado”, disse Jason. “As objetivas do microscópio são pequenas e têm uma profundidade de foco muito rasa. Eu não poderia simplesmente colocar uma luz gigante perto do microscópio e ter a iluminação direcional. Seria como tentar iluminar a cabeça de um alfinete com uma fonte de luz do tamanho da sua cabeça. Quase impossível.”

Jason editou a temperatura da cor e o matiz na pós-produção para ilustrar melhor os vários elementos retratados.


2º lugar – Rede neural

A segunda colocada do concurso foi a foto de Esmeralda Paric e Holly Stefen, que mostra cerca de 300 mil neurônios em rede neural, divididos em duas populações isoladas, com uma ponte de axônios entre eles. A foto utilizou a técnica de fluorescência e foi tirada no Dementia Research Centre, da Macquarie University, na Australia. 

Os neurônios primários foram extraídos e cultivados, depois semeados e transduzidos com um vírus. Transdução é o processo de reprodução no qual o DNA bacteriano é transferido de uma bactéria para outra por um vírus, os chamados bacteriófagos.
A imagem premiada mostra duas populações separadas, mas em ponte, com diferentes tratamentos virais. 

3ø lugar – Piolho de porco

Completando o pódio, está a imagem da pata traseira de uma garra e da traqueia de um piolho de porco, tirada pelo americano Frank Reiser, em Nova Iorque. Ele utilizou a técnica Darkfield, que faz objetos aparecerem brilhantes diante de um plano preto. Reiser é do departamento de Biologia do Nassau Community College. 


Confira os demais finalistas 

Probóscide (apêndice alongado) de uma mosca doméstica

 Oliver Dum, Medienbunker Produktion, Bendorf, Alemanha


Corte transversal do intestino de um rato

Dr. Amy Engevik, do departamento de medicina regenerativa e biologia celular da Medical University da Carolina do Sul, EUA.


Vasculatura de uma retina de rato

Jason Kirk e Carlos P. Flores Suarez, do núcleo de Imagem Ótica e Microscopia Vital do Baylor College of Medicine em Houston, Texas, Estados Unidos


Diferentes células de um organoide de mama

Jakub Sumbal. Departamento de Embriologia da Masaryk University, em Brno, na República Checa


Tecido de algodão com grãos de pólen

Dr. Felice Placenti, FP Nature and Landscape Photography, Sicília, Itália


Floco de neve

Dr. Joern N. Hopke, Waban, Massachusetts, Estados Unidos


Diatom (Arachnoidiscus)

Bernard Allard, do Clube Francês de Microscopia, em Sucy-en-Bry, na França. 


Neurônios da boca e tentáculos de uma jovem estrela do mar

Ruohan Zhong, do laboratório Gilson, do Stowers Institute para pesquisa médica, em Kansas City, Estados Unidos


Fios filamentosos de uma cianobactéria Nostoc

Martin Kaae Kristiansen, do My Microscopic World, em Aalborg, Dinamarca


Cristal de sal

Saulius Gugis, de Illinois, nos Estados Unidos


Bolor limoso

Alison Pollack, de San Anselmo, California, Estados Unidos


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