Em agosto, a rede social de vídeos tinha  retirado do ar o “desafio da caixa de leite”, que motivava as pessoas a escalarem pilhas enormes de caixas de leite. Médicos protestaram contra o desafio, que causou ferimentos graves em alguns tiktokers. 

A brincadeira agora foi mais longe, provocando destruição em escolas por todo o país. Inspirados pelo desafio, os alunos entupiram vasos sanitários de banheiros, quebraram espelhos e pisos e roubaram mobiliário, publicando as imagens no TikTok. 

Na última quarta-feira, a plataforma emitiu um comunicado confirmando que baniu o conteúdo relacionado ao desafio, mas alguns  ainda continuam acessíveis. Em um deles, compartilhado quase 27 mil vezes, o aluno remove uma pia ao som de música eletrônica. 

https://www.tiktok.com/@devious.sink/video/7006316461333433606?sender_device=pc&sender_web_id=6942005440058820101&is_from_webapp=v1&is_copy_url=0

“Esperamos que nossa comunidade crie com responsabilidade – online e (na vida real)”, disse o TikTok em um tweet. “Estamos removendo conteúdo e redirecionando hashtags e resultados de pesquisa para nossas Diretrizes da comunidade para desencorajar esse comportamento. Seja gentil com suas escolas e professores.”

Por que Devious Lick?

Em tradução livre, devious lick seria o equivalente a “lambidas desonestas”. De acordo com dicionários de gírias urbanas, a expressão “hit a lick” (acertar uma lambida) significa “ganhar dinheiro em um curto espaço de tempo”, sugerindo um  roubo.

O  “devious lick” no TikTok teria então o sentido de algo roubado sorrateiramente, embora o que é roubado não tenha valor. 

O Devious Lick começou no início de setembro pela conta @ dtx.2cent no TikTok, pela qual foi compartilhado um vídeo mostrando o roubo de um dispensador de sabonete.

A legenda na tela dizia: “Apenas um mês depois de entrar na escola e ganhei essa “devious lick”. O vídeo teve mais de sete milhões de visualizações em apenas dois dias, e não está mais disponível.


Escolas em alerta 
Alarmados com a situação, diretores escreveram e foram às redes sociais cobrando que os pais contenham seus filhos, como a diretora de uma escola em Barlow, na Florida. Ela escreveu no Facebook:

Estamos experimentando a destruição do banheiro e da escola, o que os alunos estão chamando-o de uma “devious lick”,  ou apenas “lick”. Uma “lick” nas redes sociais envolve roubar, quebrar ou destruir propriedade escolar. Esta é uma tendência de dano que está acontecendo nas escolas – os alunos não percebem o impacto desses atos.

Como diretora, não consigo entender por que os alunos iriam querer destruir sua própria escola. Isso é algo que tem acontecido em muitas outras escolas e estou desanimado porque a escola foi alvo várias vezes. 

Investigaremos cada vídeo, monitoraremos e usaremos imagens de mídia social para capturar os alunos responsáveis ​​e solicitaremos a intervenção da polícia em todas as situações, ao mesmo tempo em que utilizaremos disciplina escolar no nível máximo permitido. “

Segundo a rede de TV Fox News, um jovem (não identificado) foi detido na cidade. Ele é acusado de fraude e roubo. O suspeito disse aos investigadores que fez o estrago para parecer “descolado” e participar do desafio do TikTok.

As escolas estão utilizando vídeos de segurança para responsabilizar os autores dos atos de vandalismo. 

Audiência do TikTok já supera a do YouTube em alguns países

A rede social TikTok, de propriedade da empresa chinesa ByteDance, começou em 2017 como uma plataforma de inocentes vídeos com dancinhas e dublagens engraçadas postados por crianças. Mas ela avançou, e já passou o YouTube nos Estados Unidos e no Reino Unido em tempo de vídeos assistidos por seus usuários. 

Em maio, segundo relatório da empresa de monitoramento de aplicativos App Annie , o usuário médio passava 24,5 horas por mês no TikTok nos EUA e quase 26 horas mensais no Reino Unido. 

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Riscos de suicídio e de agravamento de transtornos alimentares

A audiência da plataforma aumentou, e seus problemas também. No dia 14/9, a empresa anunciou um pacote de medidas para lidar com duas questões recorrentes a ela associadas: suicídio e transtornos alimentares. 

Em busca de validação, o TikTok fez parcerias com entidades dedicadas a auxiliar pessoas com tendências suicidas e com distúrbios alimentares para oferecer conteúdo informativo e direcionar para serviços de apoio.  

Um dos casos mais graves relacionados à plataforma foi a exibição do vídeo de um homem americano cometendo suicídio, em 2020. As imagens tinham ido originalmente ao ar no Facebook, mas viralizaram no TikTok. 

Outro caso, este ano, foi o de uma jovem australiana com muitos seguidores no TikTok que tirou a própria vida depois de uma mensagem relatando seus problemas emocionais. 

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