Londres – Pesquisas realizadas nos últimos dois anos pelo Facebook e que foram mantidas em sigilo confirmam que a empresa tem conhecimento de que o Instagram agrava problemas de imagem corporal entre meninas adolescentes, e que se preocupa com o efeito causado aos jovens. 

Uma apresentação interna, com slides mostrando os resultados desses estudos, foi vista pelo Wall Street Journal, que revelou a história na terça-feira (14/9).

“Tornamos os problemas de imagem corporal piores para uma em cada três adolescentes”, disse um slide de uma apresentação de 2019, vista pelo jornal americano.

“32% das meninas adolescentes disseram que quando se sentiam mal com seus corpos, o Instagram as fazia se sentir pior”, relatou uma outra apresentação em março de 2020.

Entre as descobertas mais preocupantes estava que, entre os usuários que relataram pensamentos suicidas, 13% no Reino Unido e 6% nos Estados Unidos os rastrearam no Instagram.


Leia também

TikTok é obrigado a remover mais um “desafio” depois de onda de vandalismo em escolas nos EUA


Instagram seria “tempestade perfeita” para piora na saúde mental dos jovens

Reunindo resultados de entrevistas em profundidade, enquetes online e sondagens diárias em 2019 e 2020, a pesquisa do Instagram mostra pela primeira vez como a empresa está do impacto de seu produto na saúde mental de seus usuários. 

Um dos slides afirmava: “Os adolescentes culpam o Instagram pelo aumento na taxa de ansiedade e depressão. Esta reação foi espontânea e consistente em todos os grupos. ”

De acordo com o relatório, os pesquisadores alertaram que “a página Explore do Instagram, que oferece postagens com curadoria de usuários, pode levar a um conteúdo que pode ser prejudicial”. 

E que “o aplicativo também tem a cultura de postar apenas as melhores fotos e momentos, e funciona como um produto viciante”.  

“Aspectos do Instagram se exacerbam para criar uma tempestade perfeita”, disse a pesquisa, de acordo com o Journal.

Recentemente, em março, Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, afirmou que as mídias sociais tinham mais probabilidade de ter efeitos positivos para a saúde mental. Em maio, Adam Mosseri, responsável pelo Instagram, disse ter visto uma pesquisa sugerindo que seus efeitos sobre a saúde mental dos adolescentes eram provavelmente “muito pequenos”.

Leia também

Vídeo no Instagram em que mulher diz ter visto “homem” em spa dispara ódio contra LGBTQ+ nos EUA

Instagram afirma estar estudando “experiências dos jovens”

Os altos executivos do Instagram tiveram acesso às pesquisas, de acordo com o Wall Street Journal, e ela foi citada em uma apresentação feita no ano passado a Zuckerberg. 

Os usuários jovens são fundamentais para o sucesso do Instagram. Mais de 40% das pessoas na rede social têm 22 anos ou menos, de acordo o jornal americano. 

Em uma postagem no blog, a chefe de políticas públicas do Instagram, Karina Newton, confirmou que a plataforma vem fazendo pesquisas internas “para entender as experiências dos jovens no Instagram”.

Ela critica a reportagem do Wall Street Journal, por ter “se concentrado em um conjunto limitado de descobertas e tratá-las de forma negativa”, mas admite que a rede social vem tentando “compreender questões complexas e difíceis com as quais os jovens podem estar lidando”.

“A questão na mente de muitos é se a mídia social é boa ou ruim para as pessoas. As pesquisas sobre isso dão resultados mistos: pode ser ambos.”

Leia também

Representante do Instagram sugere que rede social amplifica estado de espírito já existente

Newton diz que “o que parece mais importante é como as pessoas usam as mídias sociais e seu estado de espírito quando as usam”, e cita pesquisas que tratam das redes sociais de forma ampla, sem particularizar uma só rede, tirando o foco do Instagram.

Uma delas é um estudo do Pew Research Center sobre adolescentes nos Estados Unidos, apontando que 81% deles disseram que a mídia social os faz sentir mais conectados com seus amigos, enquanto 26% relataram que as redes sociais os fazem se sentir pior sobre suas vidas.

“Nossos resultados foram semelhantes”, afirma Newton. Ela afirma que muitos adolescentes disseram que o Instagram melhora as coisas ou não tem efeito algum sobre suas vidas, mas alguns, especialmente aqueles que já estavam se sentindo mal, disseram que o Instagram pode piorar as coisas.

Sobre o sigilo da pesquisa, revelada pelo jornal americano, Karina Newton disse que a rede social “quer ser mais transparente sobre as pesquisas que faz, tanto internamente quanto em colaboração com pesquisadores externos. 

Leia também