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Protesto no Palácio de Buckingham cobra da família real britânica o reflorestamento de suas terras

Foto: Twitter/Kate Conservationist

Londres – A três semanas da abertura da conferência do clima COP26 em Glasgow, na Escócia, o movimento Rewild, que defende o reflorestamento de áreas privadas, bateu à porta da família real britânica, maior proprietária de terras do país. 

Uma manifestação em frente ao Palácio de Buckingham, liderada pelo apresentador da BBC  e conservacionista Chris Packham, realizada na manhã deste sábado (9/10) em Londres, cobrou publicamente da realeza a adoção de um novo modelo de manejo que deixe a natureza retomar seu curso. 

E que o compromisso seja anunciado antes da COP26, que terá a presença de membros da família real como o príncipe Charles, primeiro na linha de sucessão ao trono britânico. 

Uma petição assinada por mais de 100 mil pessoas, incluindo acadêmicos e celebridades, foi entregue por um jovem de 14 anos a um funcionário do palácio. Do lado de fora, alunos de escolas acompanhados dos pais fizeram uma passeata pelos jardins  usando toucas de folhas e flores, ao som de bandas de música.

A petição endossa uma carta enviada à realeza em junho pela organização Wild Card, que lidera o movimento pelo reflorestamento do país. O texto cita o Brasil no trecho em que pede à família real que dê o exemplo: 

“Como podemos condenar consistentemente a destruição da natureza no Brasil, Nova Guiné ou Indonésia, e exortá-los a manter intactas suas florestas remanescentes, enquanto na Inglaterra apenas 10% de nossas florestas permanecem – o número mais baixo de qualquer país da Europa? “

Na noite do protesto, Packham revelou que sofrera um atentado na véspera. Seu Land Rover foi incendiado na porta de casa, em Hampshire. 

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Mais um problema para a rainha Elizabeth 

O protesto cria mais um problema público para a rainha Elizabeth II, de 96 anos.

O príncipe Andrew vem ocupando as manchetes devido ao processo movido pela americana Virginia Giuffre, que o acusa de crimes sexuais. 

E Charles viu-se envolvido em denúncias de troca de títulos reais por doações aos seus projetos que levou à renúncia de seu principal assessor e líder da Prince Foundation

Falando à imprensa diante do palácio, Chris Packham disse que “o tempo para conversar acabou”. E instou a família real a dar o exemplo, melhorando as condições ecológicas de suas terras.

Foto: Rewild

Segundo a organização Wild Card, a família real britânica  possui mais de 323,748 mil hectares de terra, o que equivale ao dobro da área da Grande Londres ou 1,4% do Reino Unido.

Ele destaca que a realeza tem uma posição poderosa, e acha que por isso deve dar “um passo adiante”. 

O ativista, que apresenta um dos principais programas ambientais da BBC, o Springwatch, salientou que conforme destacado na carta assinada por diversas entidades ambientais, as terras não estão “em boas condições ecológicas” e têm menos cobertura florestal do que a média nacional. 

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Ele se referiu diretamente ao castelo de Balmoral, famoso por ser onde a rainha passa as férias de verão e recebe convidados para caçadas, como mostrado no seriado The Crown e em documentários sobre a vida da realeza. 

A carta aberta sustenta que o ideal é que a propriedade de 20.234 hectares seja coberta por floresta temperada, em vez de ser mantida livre de árvores para permitir a perseguição e caça a veados e outros animais.

O texto da carta refere-se ao histórico de apoio a causas ambientais da realeza. O príncipe Charles, primeiro na sucessão ao trono, é um defensor do meio ambiente desde que a causa não atraía tanta atenção da sociedade. 

Seu filho, William, engaja-se regularmente em campanhas e tem um projeto próprio para reconhecer iniciativas transformadoras.

Silêncio nas redes sociais

Na conta oficial da família real e nas dos Cambridge e do príncipe Charles, nenuma referência foi feita ao protesto, ainda que haja um esforço para promover  o compromisso com o meio ambiente, destacando ações como o plantio de árvores pela princesa Anne, filha de Elizabeth II – só que em uma escola primária e não nas terras próprias, como pede a campanha. 

Na conta do príncipe Charles e de sua mulher, Camilla, posts recentes endossam uma campanha pela adoção de animais abandonados 

A carta 

O manifesto é assinado por mais de 100 personalidades públicas, cientistas e organizações de defesa do meio ambiente. O texto quantifica as terras em posse da famíila real e sugere como o manejo ambiental deveria ser feito para que as florestas fossem restauradas. 

E confronta declarações feitas pelo príncipe Charles em defesa do planeta, pedindo que as ações comecem nas propriedades da família. 

Leia a íntegra: 

Na qualidade de membros da sociedade, cientistas e especialistas, respeitosamente pedimos que vocês renovem suas terras.

O Reino Unido ocupa a 189ª posição no mundo em integridade de seus ecossistemas.

Enquanto a Grã-Bretanha se prepara para receber líderes mundiais para a COP26 em Glasgow, a escassez ecológica de nosso país esvazia nossas reivindicações de liderança ambiental global, ao mesmo tempo que mina o moral e o bem-estar de seus cidadãos.

Tomados em conjunto, as propriedades reais – a Crown Estate, os Ducados de Lancaster e Cornwall e as terras de propriedade privada do Sovereign – são maiores do que as de qualquer outro proprietário de terras no Reino Unido. 

Sua Alteza Real o Príncipe de Gales falou de um ‘dever para com o planeta que é absoluto’. E Sua Alteza Real o Duque de Cambridge disse que é nossa ‘responsabilidade’ evitar ‘cruciais … pontos de inflexão’, enquanto Sir David Attenborough apelou nós para ‘reflorestar a terra’. 

Os membros da família real, como figuras de referência moral e como embaixadores de nossa nação, estão perfeitamente posicionados para liderar agora a grande tarefa de nossa era: a reparação do planeta.

Acreditamos que vocês têm uma oportunidade única e histórica de abordar radicalmente o estado de degradação da natureza nessas ilhas. 

Assumir um compromisso público de restaurar a biodiversidade das propriedades reais por meio do reflorestamento enviaria um sinal de que um novo capítulo começou: um capítulo em que a natureza é honrada e valorizada, em vez de erodida e explorada. 

Dos maiores proprietários de terras do Reino Unido, vocês já estão entre os líderes da restauração de habitats, com uma série de projetos inspiradores já sendo realizados em terras reais, principalmente nas propriedades do Ducado da Cornualha.

Mas comprometer-se publicamente com a ideia de enriquecimento da biodiversidade, como um primeiro princípio de gestão de longo prazo da terra em todas as suas terras, seria inovador e revolucionário. 

Outros, sem dúvida, os seguiriam. Para tomar apenas dois exemplos, grandes partes de Dartmoor, propriedade do Ducado da Cornualha, e de Balmoral, propriedade privada de Sua Majestade, seriam, se a natureza seguisse seu curso, cobertas por rara floresta temperada.

Hoje, apenas pequenos fragmentos desse habitat precioso e diverso ainda existem, em locais como Wistman’s Wood em Dartmoor e Ballochbuie em Balmoral. 

Somos uma nação florestal privada de florestas – e necessitando desesperadamente de uma liderança que mostre como ela pode ser restaurada.

Por toda a Grã-Bretanha, em terras pertencentes às propriedades reais também pudemos ver a restauração de pastagens ricas em flores, charnecas repletas de pássaros, pântanos e rios sinuosos.

Em qualquer outro lugar do mundo, reconheceríamos muitas das paisagens exauridas da Grã-Bretanha hoje pelo que realmente são: zonas de desastre ecológico. 

Como podemos condenar consistentemente a destruição da natureza no Brasil, Nova Guiné ou Indonésia, e exortá-los a manter intactas suas florestas remanescentes, enquanto na Inglaterra apenas 10% de nossas florestas permanecem – o número mais baixo de qualquer país da Europa? 

Ficamos desesperados quando vemos plantações de óleo de palma e fazendas de carne no que antes era uma floresta tropical intocada. Mas romantizamos as monoculturas bio-despojadas de nossos próprios pântanos desmatados e terras altas com pastagens de ovelhas.

A boa notícia é que uma análise detalhada recente da organização Friends of the Earth demonstrou que proporções significativas das propriedades reais são perfeitas para reflorestamento e restauração. 

Mesmo depois de excluir terras agrícolas de alta qualidade […], as propriedades reais contêm milhares de hectares de terras  idealmente adequadas para serem transformadas em áreas selvagens voluntárias ou manejadas para restauração de habitat de baixa intervenção. 

A pesquisa também sugere que esses benefícios podem ser obtidos sem um impacto significativo na produtividade alimentar. 

Há um consenso crescente de que o reflorestamento e a restauração são ferramentas críticas para mitigar o aquecimento global. Além de sequestrar carbono, os benefícios para a biodiversidade seriam enormes. 

Em uma análise de 89 restaurações de habitat em todo o mundo, locais restaurados tinham uma vez e meia mais biodiversidade do que locais degradados, e tinham quase tanta biodiversidade quanto locais intocados (86%).

Reconhecemos que restaurar os ecossistemas da forma como eram originalmente nem sempre será possível. Ecossistemas  podem levar muitos séculos para encontrar equilíbrio e, em certas circunstâncias, uma abordagem de gestão de terras mais ativa pode alcançar benefícios de biodiversidade e captura de carbono em prazos mais curtos exigidos pelas crises de hoje. 

Como tal, mais pesquisas são necessárias para medir os ganhos comparativos para as pessoas e o planeta de diferentes caminhos de reflorestamento e restauração. Os Royal Estates podem ser instrumentais no desenvolvimento dessa base de evidências e na liderança de outras.

A evolução das pesquisas também demonstrou os benefícios para a saúde mental do acesso à natureza selvagem. Reconstruir as propriedades reais complementaria perfeitamente o bom trabalho que está sendo feito por suas Altezas Reais para lidar com a epidemia de saúde mental.

Coletivamente, corremos o risco de esquecer as maravilhas naturais quase perdidas dessas terras. Mas os jovens de hoje estão nos exortando a não deixar isso acontecer. 

Com clareza de visão e propósito, eles estão determinados a enfrentar as mudanças climáticas e reconstruir a beleza de que todos precisamos para nos ajudar a prosperar. Mas eles não podem fazer isso sem a ajuda daqueles que possuem e controlam a terra e podem realizar essa mudança.

À medida que nossa nação se recupera da crise da Covid-19 e olhamos para o mundo fora de nossas janelas para nos alimentar e inspirar, pedimos a vocês para liderarem o caminho na cura de nossa terra. 

Pedimos que aproveitem este momento para restaurar e reassumir as propriedades reais, trazendo a esperança de renovação e crescimento para o povo deste país. Proteja-nos, guie-nos, renove-nos.”

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