Londres – Um relatório da organização britânica Hope Not Hate divulgado nesta quarta-feira (13/10) constatou que o ódio contra judeus está amplamente disseminado nas redes sociais na Europa. E que uma nova geração de jovens está sendo “apresentada” ao antissemitismo pelas plataformas.
O estudo Antissemitismo na Era Digital: Ódio Antissemita Online foi feito em colaboração com organizações de combate ao discurso de ódio na Alemanha e na Suécia, e teve apoio da fundação Google.org.
O chefe de pesquisa da Hope Not Hate, Joe Mulhall, disse que foi “simplesmente espantoso” encontrar antissemitismo em todas as plataformas investigadas, após 10 anos de trabalho da entidade para erradicar o discurso de ódio das redes.
Discurso de ódio é pior em redes “de nicho”, como Parler e 4chan
A Hope Not Hate tem sido uma das vozes mais eloquentes contra a disseminação de fake news, desinformação e conteúdo ilegal nas plataformas de mídia digital, com vários estudos publicados.
A pesquisa identificou conteúdo mais extremo e violento em plataformas de nicho como Telegram, Parler e 4chan.
Mas registrou que o discurso de ódio contra judeus alastrou-se também nas outras redes, incluindo as mais acessadas por crianças e jovens, muitas vezes usando linguagem em gírias próprias ou emojis, para burlar a moderação.
De acordo com o relatório, existem “milhões” de resultados para hashtags relacionadas a teorias de conspiração antissemitas no Instagram. No TikTok, apenas três hashtags contra judeus foram vistas mais de 25 milhões de vezes em seis meses.
Os pesquisadores ressaltam que quase 70% dos usuários globais do Instagram têm entre 13 e 34 anos, enquanto 69% dos usuários do TikTok têm entre 16 e 24 anos.
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A pesquisa ressalta ainda que conteúdos bloqueados por redes sociais mais populares acabam em sites menores de compartilhamento de vídeos, por exemplo, como um documentário antissemita de 12 horas de duração que, mesmo banido por YouTube e Facebook, teve 900 mil visualizações apenas no mês de setembro.
O mesmo vídeo foi exibido por perfis públicos no Instagram, recebendo 8.000 likes e 37 mil visualizações, além de ter sido cortado em capítulos de uma hora cada e disseminado via Telegram, aponta o levantamento.
Para Joe Mulhall, o mais preocupante é o acesso a conteúdo de ódio por jovens:
“Uma nova geração de usuários de rede social foi apresentada a ideias antissemitas que dificilmente encontraria em outro lugar.”
Redes sociais criaram espaço para antissemitismo florescer, diz pesquisador
Mulhall afirma que a dificuldade de as plataformas de tecnologia lidarem com o problema no passado não apenas expôs as pessoas ao discurso de ódio, “mas criou espaços online onde o antissemitismo pode florescer, com efeitos trágicos e duradouros, deixando as comunidades judaicas expostas ao risco do terrorismo”.
O estudo reconhece os esforços feitos por algumas, mas afirma que as plataformas que adotaram uma abordagem mais robusta para combater o antissemitismo nos últimos anos ainda têm um longo caminho a percorrer.
“Constatamos que algumas plataformas foram bem-sucedidas na remoção de organizações antissemitas, mas ainda lutam para remover o conteúdo de ódio contra judeus gerado por movimentos descentralizados e não formalizados.”
Para a Hope Not Hate, com o crescimento de redes sociais ativamente projetadas para hospedar, defender e disseminar discursos de ódio, é preciso adotar uma legislação eficaz para lidar com o problema.
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Covid-19 e discurso de ódio
A pandemia ajudou a agravar a situação, com crescimento de conteúdo de ódio após o início da crise do coronavírus, segundo a Hope Not Hate.
As pesquisas do Google por uma teoria da conspiração que afirma que uma elite global secreta está controlando os eventos mundiais atingiram seu nível mais alto em 15 anos em março de 2020, no início da crise do coronavírus.
E um fórum no site de quadro de mensagens Reddit dedicado a conspirações, muitas contendo motivações antissemitas, cresceu em 500 mil usuários entre fevereiro e novembro de 2020, segundo a pesquisa.
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Moderação das mídias sociais
A Hope Not Hate observou que embora todas as formas de antissemitismo possam ser encontradas em todas as plataformas, a quantidade e o grau de extremismo estão diretamente ligados à intensidade de moderação e ao rigor dos termos de uso da plataforma. Ele critica a falta de ação:
“Quanto mais frouxa a política e mais leve a moderação, mais o antissemitismo extremo é encontrado”.
As empresas de tecnologia têm a capacidade de afetar a quantidade e o nível extremo de antissemitismo em sua plataforma e muitas delas estão falhando completamente em resolver o problema.”
Uma observação do estudo frisa que as teorias da conspiração com foco antissemita foram o tipo de conteúdo mais encontrado, em todas as plataformas pesquisadas.
“Uma explicação provável é que, diferente de um antissemitismo mais explícito (que em muitos casos constitui uma ofensa criminal), o antissemitismo conspiratório é frequentemente menos fácil de reconhecer como ódio e, portanto, é mais presente em plataformas com maior esforço de moderação, como Facebook e YouTube.”
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Facebook e TikTok respondem
Em reação ao estudo, Facebook e TikTok divulgaram comunicados afirmando combater o antissemitismo em suas redes sociais.
Um porta-voz do Facebook disse:
“O antissemitismo é completamente inaceitável e não o permitimos em nenhum lugar do Instagram”.
“Sempre removemos ataques contra pessoas com base em sua religião e, no ano passado, fizemos atualizações importantes em nossas políticas, para remover qualquer conteúdo que negue ou distorça o Holocausto, bem como discurso de ódio mais implícito, como estereótipos prejudiciais de que os judeus controlam o mundo.”
O TikTok publicou um comunicado no site condenando o antissemitismo e dizendo trabalhar “agressivamente para combater o ódio, removendo proativamente contas e conteúdo que violam políticas e redirecionando pesquisas por ideologias de ódio para as diretrizes da comunidade”.
Ambas se disseram dispostas a continuar trabalhando com a Hope Not Hate para combater o problema.
O relatório completo pode ser visto aqui, com detalhes de cada rede social pesquisada: Antissemitismo na Era Digital: Ódio Antissemita Online
Plataformas sob pressão
O relatório da Hope Not Hate é mais um elemento a agravar a crise enfrentada pelo Facebook, desde que o Wall Street Journal começou a revelar documentos secretos mostrando que a empresa tinha conhecimento de danos à saúde mental de jovens usuários do Instagram.
Na semana passada, a ex-funcionária que passou os documentos internos ao jornal, Frances Haugen, mostrou o rosto e deu um depoimento no Senado americano, em que acusou a rede social de colocar os lucros acima do bem-estar de seus usuários.
O TikTok também enfrenta problemas. Teve que remover vários desafios perigosos, como o das caixas de leite, que causava acidentes, e o que desafiava alunos a depredarem banheiros de escolas nos Estados Unidos.
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Há duas semanas, publicou uma nova política para combater conteúdo sobre suicídio e automutilação, depois de vários casos envolvendo usuários que tiraram a própria vida e a exibição de um vídeo mostrando um ato suicida.
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