O presidente Macron criou uma comissão encarregada de combater as teorias da conspiração que ele acredita serem um “veneno” que ameaça a sociedade francesa.

A comissão, chamada de “Iluminismo na Era Digital”, será formada por cerca de 15 acadêmicos, além de jornalistas, professores e advogados, segundo as primeiras informações.

O objetivo é produzir um relatório sobre como evitar que algoritmos da internet “escravizem” a sociedade, como os anunciantes exploram notícias falsas e como impedir que potências estrangeiras espalhem teorias da conspiração.

Teorias da conspiração já haviam sido criticadas por Macron

O presidente francês já afirmou que o “problema-chave” que a França enfrenta é a disseminação de teorias da conspiração alimentadas pelo sentimento de que “todas as visões são iguais; que as de quem não é especialista, mas tem opinião sobre o coronavírus, são tão válidas quanto as de um cientista”.

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Ao condenar o ataque ao Congresso dos Estados Unidos (EUA), quando cinco pessoas morreram em janeiro, Macron defendeu a criação de uma legislação internacional para se contrapor à disseminação de ideologias extremistas em democracias ocidentais.

O presidente francês, contudo, foi contra o banimento do ex-presidente americano Donald Trump das redes, e classificou as redes sociais como uma ameaça à democracia. “Eu não quero viver em uma democracia onde decisões cruciais são tomadas por entes privados”, afirmou.

Líderes como Trump, o russo Vladimir Putin e até mesmo o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, vêm travando uma queda de braço constante com empresas como YouTube e Facebook, na tentativa de controlar critérios de moderação e remoção de conteúdo.

Macron é criticado por suposto interesse “eleitoreiro”

Com as eleições presidenciais francesas marcadas para abril de 2022, Macron é acusado de tentar impor uma narrativa “oficial” para ajudá-lo a conquistar um segundo mandato contra populistas de extrema direita como Marine Le Pen e Éric Zemmour, o comentarista da televisão descrito como o “Donald Trump da França”.

Gérald Bronner, sociólogo nomeado para presidir a comissão, rejeitou as alegações de que ele estava no comando de uma “polícia do pensamento” (em referência ao romance distópico 1984, de George Orwell), dizendo: “Não é uma questão de censura, mas de reforço do espaço de debates comuns que são cada vez mais ameaçados por uma sucessão de opiniões”.

Quase um terço dos franceses tende a aceitar teorias da conspiração

Teorias da conspiração alimentaram o movimento antivacina, que organizou manifestações durante o verão francês e fomentou o descontentamento durante os protestos dos trabalhadores denominados “coletes amarelos”, no início de 2019. 

Em resposta a esse fenômeno, que ocorre em escala global, o YouTube anunciou nesta quarta-feira (29/9) uma política de remover qualquer conteúdo de fake news sobre todas as vacinas aprovadas pela comunidade científica.

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Uma pesquisa do governo britânico em janeiro apontou que a França era mais propensa a teorias da conspiração do que o Reino Unido. Questionados se achavam que um único grupo de pessoas “governa secretamente o mundo”, 36% dos franceses concordaram, em comparação com 28% dos britânicos.

O percentual é alto se comparado à penetração do movimento QAnon nos EUA, notoriamente adepto a teorias da conspiração como a mencionada acima, de “elites globais”, medido em pesquisa divulgada este mês. Segundo os dados colhidos no primeiro semestre deste ano, cerca de 17% dos americanos acreditam nos preceitos do grupo.

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“Elites globais” e “fontes da juventude”, entre outras fake news

Teorias da conspiração estão sempre presente em casos de disseminação de desinformação observados em diferentes países, especialmente durante a pandemia da Covid-19.

Na Austrália, a agência de checagem de informações First Draft divulgou em agosto que George Christensen, político de extrema direita com histórico de disseminação de notícias falsas e rejeição a medidas de combate ao coronavírus, estava patrocinando uma campanha conspiracionista.

O parlamentar associava restrições impostas pela pandemia a uma estratégia de controle de natalidade conduzida por “elites globalistas”.

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Teorias da conspiração também afirmaram que o furacão Ida, que gerou morte e destruição nos EUA em julho e agosto, foi um fenômeno fabricado, ou ainda, que destruiu locais que produziam secretamente uma espécie de “fonte da juventude” para seres humanos.

Depois que o furacão de categoria 4 varreu o Golfo do México, uma importante região produtora de petróleo e gás para os EUA, um canal do Telegram que frequentemente amplifica teorias de conspiração alegou sem fundamento que essas instalações estavam de fato produzindo o adrenocromo químico do sangue humano.

A afirmação remonta a uma teoria conspiratória antissemita de séculos que alega que “elites globais” torturam crianças para colher adrenocromo e permanecer jovens.

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