Londres – Uma foto mostrando o “balé” de onze medusas na superfície da lagoa de Mar Menor, na Espanha, pouco antes de ela ser palco de uma catástrofe ecológica responsável por uma enorme matança de peixes, foi a grande vencedora do prêmio de fotografia European Wildlife Photographer of the Year.
O local onde foi tirada a foto é a maior lagoa de água salgada da Europa, que tem sido muito prejudicada pelos problemas causados pelo desenvolvimento mal planejado da agricultura e pela expansão massiva do turismo.
O autor da foto é o espanhol Angel Fitor, que com ela ganhou o título de Fotógrafo de Vida Selvagem Europeu do ano.
Depois de revelar que a imagem só foi obtida depois de seis anos de tentativas frustradas, Fitor disse acreditar no poder da fotografia para inspirar uma consciência sustentável e o amor pela vida selvagem.
Jim Brandenburg, um dos mais famosos fotógrafos da natureza do mundo e membro do júri deste ano, comentou a escolha da foto vencedora:
“A imagem poderosa falou fortemente para todos nós do júri. Após a catástrofe ecológica que ocorreu no local apenas um curto tempo depois, também fala sobre os enormes problemas ambientais que enfrentamos.”
Mais de 19 mil fotos de 36 países
O concurso, promovido pela Sociedade Alemã de Fotografia de Natureza, é um dos mais conceituados de fotografia de natureza. Realizada desde 2001, a competição deste ano recebeu mais de 19 mil imagens mostrando as belezas do mundo animal e da natureza.
Além do reconhecimento do Fotógrafo do Ano, o concurso distribuiu prêmios aos vencedores de dez categorias.
Pelo segundo ano consecutivo, foi entregue também o Prêmio em homenagem ao fotógrafo alemão Fritz Pölkink, nas versões para veteranos e para fotógrafos juniores.
As incríveis imagens vencedoras incluem o banquete de plâncton saboreado por um tubarão-baleia, o triste cativeiro de um panda gigante, um alce sacudindo a água da chuva, borboletas se confundindo com um galho de árvore, cogumelos se desenvolvendo em pinhas e um íbex soberano sobre um pico nos Alpes.
Com o auxílio da tecnologia, um bando de milhares de gansos foi fotografo em pleno voo por um drone, uma imagem aérea mostra a refeição de flamingos num lago africano e uma foto subaquática flagra o embate entre um leão marinho e um cardume de cavalas.
São fotos de tirar o fôlego. Curta cada uma com o tempo que elas merecem.
Categoria Pássaros
1º lugar – “Migração de pássaros” – Terje Kolass, Noruega
“Na primavera, milhares de gansos (Anserfabalis) descansam na região de Levanger, na Noruega, a caminho de seus criadouros em Spitsbergen, no Ártico. Provavelmente devido à mudança climática, eles chegam um pouco mais cedo a cada ano, e muitas vezes os prados e campos onde se alimentam ainda estão cobertos de neve.
Quando toda manhã os gansos voam para as áreas de alimentação, eles sempre escolhem as mesmas rotas. Então, com um pouco de paciência, fotos de drones como esta se tornam possíveis.”
2º lugar – “Uma manhã magnífica” – David Pattyn, Bélgica
“Eu trabalho em colaboração com a organização de conservação da natureza Brabants Lands Chap. Por causa disso, tenho permissão para montar minha tenda de camuflagem flutuante em uma reserva administrada pela organização.
Pelo menos uma hora e meia antes do nascer do sol, vou para meu esconderijo, para que os animais mal percebam a minha presença. É assim que observo o comportamento natural dos pássaros, sob a mais bela luz.
Aqui, consegui fotografar os filhotes alisando as penas de um grande mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus) à luz do amanhecer”.
Categoria Mamíferos
1º lugar – “Depois da chuva” – Danny Green, Grã-Bretanha
“Há muitos anos, tentava capturar a imagem de um cervo (Cervuselaphus) sacudindo a água de si mesmo. Normalmente, quando chove muito, os cervos apenas se deitam e esperam que a chuva acabe. Então, se você encontrar um cervo em tempo de chuva, você deve apenas esperar.
Assim que a chuva passa, o cervo se levanta e se sacode. Foi o que este aqui fez, mas no último segundo ele me deu as costas. No início, pensei que tinha perdido duas horas à toa. Mas então percebi que tinha conseguido a foto”.
2º. Lugar – “Sombras da noite” – Lassi Rautiainen, Finlândia
“Quando um animal morto atrai o urso-pardo (Ursus arctos), os corvos (Corvus corax) tentam perturbá-lo para que ele desista da carcaça. Para isso, na maioria das vezes, eles o bicam no pescoço, esperando que ele desista logo.
Alguns ursos não se importam, outros tentam pegar os corvos – geralmente sem sucesso. Os corvos costumam fazer o mesmo com os carcajus (Wolverines) e os lobos. Notei que alguns animais não apareciam no local de alimentação durante o dia por causa dos corvos. Eles preferem vir à noite quando os pássaros estão dormindo”.
Categoria Outros animais
“Enquanto navegava pelo Rio Frío, no norte da Costa Rica, examinei a margem sombreada em busca do que fotografar. Eu estava procurando principalmente animais que recebessem alguns raios de sol e refletissem a luz.
Enquanto seguia rio abaixo, avistei um dos meus animais favoritos, um lagarto basilisco verde (Basiliscus plumifrons). Ele estava num emaranhado escuro de galhos. Virei o barco e voltei. O reflexo da luz nas escamas verdes desse lagarto de aparência pré-histórica tornou a foto exatamente como eu a imaginava”.
“Há um local em uma floresta espanhola onde, nas noites frias de primavera, as mariposas lunares espanholas (Graellsia isabellae) se reúnem em torno dos postes de luz para se aquecer.
Esta fotografia mostra um macho e uma fêmea em um galho de pinheiro. Usei três unidades de flash e um fundo branco artificial para retratar os animais em seu ambiente natural”.
Categoria Plantas e Fungos
“Os ventos do sul, predominantes no final do outono, empurram as nuvens baixas da Bacia da Boêmia contra a barreira natural das cordilheiras na região da fronteira tcheca-alemã.
Enquanto os picos mais altos da cadeia montanhosa de Erzgebirgem estão geralmente acima do clima de inversão, a parte baixa permanece nas nuvens. Então, quando as temperaturas caem o suficiente, a geada espessa cobre certas gerando belas imagens, como a desta bétula nas rochas de Tisa.”.
“Após a primeira chuva, novas vidas se desenvolvem rapidamente no solo da floresta e os cogumelos começam a brotar.
O grupo de cogulemos de pinha (Mycena seynii) foi retratado em uma floresta no sul da Península Ibérica, no Parque Natural Sierra Blanca. Como o nome sugere, esse tipo de cogumelo gosta de se desenvolver em pinhas.”
Categoria Paisagens
“No início da manhã, explorei a área de Ruacana Falls, na Namíbia, em busca dos melhores lugares e temas para fotografar.
Observando o ambiente, descobri que o pôr do sol traria a sombra das falésias opostas, enquanto os raios do sol não deixariam de iluminar o baobá (Adansonia digitata) que queria fotografar. Encontrei uma posição que me permitiu ficar na mesma altura da árvore. Aí foi só esperar o momento perfeito”.
“O clima nas montanhas da Península da Crimeia, na Ucrânia, é imprevisível. Muitas vezes o outono mal tem tempo de sair, para dar lugar ao início abrupto do inverno.
Nesse período, a neve cobre suavemente as árvores, como se para embalar aquelas que ainda não tiveram tempo de adormecer, até começar o degelo na primavera. Assim, mesmo na primavera, muitas vezes ainda é possível descobrir uma lembrança do outono”.
Categoria Mundo Subaquático
“Todo inverno, incontáveis predadores se reúnem em uma época específica do ano com um objetivo comum: caçar enormes cardumes de cavalana Baja Califórnia, no Oceano Pacífico.
Atacadas por todos os lados, as cavalas cerram fileiras para dificultar que predadores como o leão marinho se concentrem em um único indivíduo”.
“Fotografei este tubarão-baleia (Rhincodon typus) de aproximadamente cinco metros de comprimento à luz da lâmpada de popa de um barco de mergulho no sul das Maldivas, no Oceano Índico.
Com a boca aberta, o animal circulava por densos cardumes de plâncton – uma fonte quase inesgotável de alimento. O desafio era encontrar o momento perfeito em que o enorme peixe emergisse da escuridão da noite para o cone de luz da lamparina”.
Categoria Pessoas e Natureza
“Os tubarões são ícones do mar selvagem e atraem mergulhadores de todo o mundo. Portanto, representam um grande trunfo para a economia local, sem falar na sua importância para a saúde do ecossistema marinho.
Por esse motivo, matar tubarões por alguns dólares é, em muitos aspectos, uma péssima ideia. Nas Bahamas, onde a foto deste tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) foi tirada, os tubarões são agora uma espécie protegida. Mergulhar com eles de forma responsável não é um problema, mas parte da solução”.
2º lugar – “Em cativeiro” – Marcus Westberg, Suécia
“Este panda gigante (Ailuropoda melanoleuca) está sentado atrás das grades em um centro de reprodução no sul da China. A reprodução em cativeiro de espécies ameaçadas de extinção pode ser uma parte importante para garantir sua sobrevivência, mas é muito fácil desvirtuar essa intenção.
Neste caso – embora não tenha motivos para questionar a dedicação da maioria dos funcionários – observei que não havia planos de preparar este ou as futuras gerações de pandas para a vida na natureza, o que levanta questões sobre os verdadeiros objetivos de tais instalações”.
Categoria Estúdio da Natureza
“Quando os gansos patola, espécie também conhecida como atobá boreal (Morus bassanus), voltam da caça aos peixes, eles gostam de descansar nas rochas por um tempo.
O espécime fotografado parece ser o chefe da colônia, observando as atividades das outras aves do bando com um olhar crítico. A foto foi tirada nas ilhas Saltee, na Irlanda. Para obter o efeito de alienação, mudei a distância focal da lente de zoom durante o disparo do obturador”.
“Esta vista aérea mostra um bando de flamingos-pequenos (Phoeniconaias minor) se alimentando nas águas alcalinas de um lago no Vale do Rift africano, que são um habitat das diatomáceas (algas) e pequenos crustáceos, principais fontes de alimentação dessas aves.
A água vermelha vem de um rio que deságua no lago. Nas últimas décadas, os lagos do Vale do Rift aumentaram, o que também afeta a salinidade da água e, portanto, de todo o ecossistema”.
Categoria Jovens Fotógrafos até 14 anos
“Esta foto foi tirada ao pôr do sol perto do Parque Natural Sierra de Grazalema (Espanha). O ambiente cheirava a flores, as temperaturas eram agradáveis e gostei do clima primaveril.
Da janela do carro, eu pretendia fotografar uma família de corujas naquela noite. Mas então ouvi o canto dos pássaros do outro lado da estrada. Era uma melodiosa felosa-poliglota (Hippolais polyglotta), que escolhera um girassol para marcar seu território”.
“Depois de uma longa caminhada e de buscas intermináveis, finalmente encontrei esta coruja pigmeu (Glaucidium passerinum) que eu havia seguido por dois meses.
A espécie é curiosa e não é tímida. A corujinha pousou perto de mim, levantei a câmera e tirei a foto com que sonhava há tanto tempo. Fiquei incrivelmente feliz”.
Categoria Jovens Fotógrafos de 15 a 17 anos
“No inverno passado, fui a Kuusamo (Finlândia) para fotografar gaios siberianos (Perisoreus infaustus) no bosque nevado. Primeiro, procurei o local perfeito e observei o comportamento dos pássaros. Também testei diferentes configurações de câmera e, claro, os pássaros tiveram que se acostumar com a câmera na neve e com o som do obturador.
Eu finalmente consegui essa foto colocando um pouco de queijo em certos galhos para fazer os pássaros voarem sobre minha câmera. Minha sessão de fotos durou quatro dias e para chegar a esse resultado tirei um total de 1.500 fotos”.
“Fotografei essa raposa no inverno passado, quando fortes nevascas cobriram a paisagem com um espesso cobertor branco. Muitas raposas também caçavam durante o dia nessa hora, e fiquei impressionado com a capacidade de rastrear e capturar presas escondidas sob a neve.
Um dia, quando estava nevando muito forte e a visibilidade estava diminuindo, avistei uma raposa caçando em uma campina. Fotografei o animal em seu habitat, solitário na imensidão desse inverno rigoroso em que era preciso caçar para sobreviver, aconteça o que acontecer”.
Prêmio Fritz Pölking
“Nsenene é o nome dado em Uganda a um tipo de grilo (Ruspolia differens). Presos em um tambor de óleo, eles tentam escapar. Quando, em meados da década de 90, alguns residentes de Masaka tiveram a ideia de usar potentes lâmpadas elétricas para atrair os insetos, esses tambores se enchiam rapidamente.
Agora, os tambores permanecem quase vazios durante a noite. Os pântanos de Uganda, o habitat mais importante do nsenene para botar ovos, diminuíram em mais de 40% desde 1994. Perto de Masaka, poços de areia, arrozais e áreas de assentamento invadiram gradualmente os pântanos circundantes”.
Prêmio Fritz Pölkink Junior
“O íbex é uma espécie de mamífero bovídeo caprino, que vive em estado selvagem na Europa. Eles habitam as regiões montanhosas dos Alpes, em zonas de vegetação esparsa. Também são conhecidos pelo nome de íbex-dos-alpes
Na foto, o íbex que observa as nuvens é o senhor indiscutível do lugar”.
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