Londres – Após pressão de autoridades e de organizações de defesa da segurança online, a Meta (holding do Facebook) anunciou o neste domingo (21/11) o adiamento da adoção da criptografia de ponta a ponta no Facebook Messenger e no Instagram pelo menos até 2023.
Há um mês a empresa já tinha adiado o lançamento do Instagram for Kids, depois da crise aberta com revelações da ex-funcionária Frances Haugen que ficaram conhecidas como “Facebook Papers”.
A criptografia de ponta a ponta protege o sigilo da comunicação, que só pode ser vista pelas pessoas que fazem parte da conversa, mas é condenada por órgãos de segurança pública e entidades que combatem assédio e discurso de ódio online, por dificultar a investigação de crimes.
Criptografia de ponta a ponta continua no WhatsApp
Apesar do recuo em relação ao Facebook e Instagram, o WhatsApp (também da meta) continua com a criptografia de ponta a ponta, assim como o outros serviços de mensagem, como o Telegram.
O Facebook começou a implementar a criptografia em seu serviço Messenger em 2016, mas ela só funciona quando os usuários usam o recurso Secret Conversation.
No início deste ano, a empresa havia anunciado que a criptografia estaria disponível no Instagram e no Messenger “no mínimo em 2022”, mas agora voltou atrás.
A líder de Segurança da Meta, Antigone Daves, disse que continuará trabalhando com especialistas para lidar com o abuso, mas insistiu que em casos anteriores a empresa ainda estava em posição de ajudar as autoridades, apesar dos serviços serem criptografados.
Em um artigo publicado no jornal britânico Sunday Telegraph em que a novidade foi divulgada, ela disse:
“Nossa recente análise de alguns casos mostrou que ainda teríamos sido capazes de fornecer informações importantes às autoridades, mesmo se esses serviços tivessem sido criptografados de ponta a ponta.
‘Embora nenhum sistema seja perfeito, isso mostra que podemos continuar a deter os criminosos e apoiar a aplicação da lei.
“Continuaremos a trabalhar com especialistas externos e a desenvolver soluções eficazes para combater o abuso porque nosso trabalho nesta área nunca termina.
Estamos investindo tempo para fazer isso da forma certa, e não planejamos terminar a implementação global da criptografia ponta a ponta por padrão em todos os nossos serviços de mensagens antes de 2023.”
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Plataformas digitais pressionadas no Reino Unido
Enquanto a Austrália concentrou sua pressão sobre as plataformas digitais na luta pela remuneração de empresas jornalistas pelo conteúdo – e conseguiu impor o pagamento – , o Reino Unido elegeu como principal bandeira a proteção das crianças e de pessoas vulneráveis.
Várias organizações do país têm feito estudos e relatórios demonstrando riscos para crianças e o crescimento de teorias conspiratórias e de ataques a minorias nas redes sociais.
E o tema virou pauta do governo. Uma rigorosa lei de controle sobre as plataformas (Online Harm Bill) tramita no Parlamento. A secretária nacional do Home Office (pasta responsável por justiça e segurança pública) não perde uma oportunidade para criticar as Big Techs e aumentar a temperatura do debate.
O fundamento da nova lei é o conceito de duty of care, o dever de cuidar dos vulneráveis, credenciando o Estado a interferir em práticas que coloquem pessoas em risco. A legislação dará ao Ofcom, agência que já controla as telecomunicações, poderes para impor multas de bilhões de libras aos gigantes da mídia social que não cumprirem os requisitos de segurança sobretudo em relação a crianças.
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Priti Patel ataca frontalmente os planos criptografia de ponta no Messenger e no Instagram, que agora foram adiados.
Em um encontro promovido em abril pela Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade contra Crianças (NSPCC), a secretária pediu que as empresas de tecnologia, incluindo o Facebook, “cumprissem seu dever moral” e fizessem mais para proteger as crianças.
A NSPCC afirma que as mensagens privadas são a “linha de frente do abuso sexual infantil online”, e critica o debate que coloca em oposição a privacidade de adultos e segurança infantil.
70% de denúncias de abusos podem ser perdidas
Uma pesquisa da organização conduzida pela YouGov, mostrou que o apoio público à criptografia ponta a ponta quase dobraria se as plataformas pudessem demonstrar que a segurança das crianças não seria comprometida.
Há estimativas de que 70% das denúncias globais de abuso infantil podem ser perdidas se o Messenger e o Instagram adotarem a criptografia de ponta a ponta, de acordo com o NSPCC.
No fim de março, a ONG lançou a campanha “Ajude-nos a acabar com a Web do Faroeste”, buscando acelerar a tramitação danova Online Harm Bill (Lei de Danos Online) para fazer frente aos 90 casos de abuso infantil online que acontecem por dia no país.
Com base em registros policiais a que teve acesso por meio da Lei de Acesso à Informação, a organização conseguiu comprovar que as três plataformas do Facebook responderam por 52% dos 9.477 casos de crimes sexuais ou de imagens de abusos sexuais cometidos online contra crianças, registrados no período entre outubro de 2019 e setembro de 2020, nos quais a plataforma de comunicação era conhecida.
Foram 11 abusos online por dia considerando apenas as três plataformas do Facebook combinadas. Os números foram coletados em 35 unidades policiais, a maior parte na Inglaterra e no País de Gales.
Serviço Secreto M15 entrou na briga
Em maio, o novo chefe do M15, Ken McCallum, o chefe do MI5, acusou o Facebook de dar um ‘passe livre’ para terroristas e abusadores de crianças com seu plano de implantar a criptografia de ponta a ponta no Instagram e no Messenger.
Ele alertou para o impacto sobre a segurança das pessoas em todo mundo. Em sua primeira entrevista no cargo, o líder de uma das principais agências de inteligência do país afirmou que os planos do presidente executivo do Facebook Mark Zuckerberg permitiriam aos terroristas planejar ataques pelo Messenger e pelo Instagram sem serem visíveis aos serviços de segurança:
“Se você tem criptografia de ponta a ponta sem absolutamente nenhum meio de decodificar essa criptografia, você está, na verdade, dando a terroristas e abusadores um passe livre com o qual eles sabem que ninguém poderá ver o que estão fazendo.”
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