MediaTalks em UOL

Relatório de ONG britânica aponta preconceito contra muçulmanos na imprensa do país

Um das recomendações é aumentar representação de muçulmanos nas redações (Foto: Mufid Manjun/Unsplash)

Londres – Com base em um relatório que examinou uma vasta amostra de conteúdo jornalístico na mídia impressa e na televisão, o Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha (MCB) está cobrando de jornalistas e empresas de mídia britânicas um tratamento mais cuidadoso e justo nas reportagens envolvendo pessoas islâmicas, deixando de lado o que classifica como preconceito contra muçulmanos. 

O estudo, feito pelo Centro de Monitoramento de Mídia da instituição, considerou que quase 60% das mais de 48 mil matérias escritas e 47% de reportagens na TV veiculadas entre outubro de 2018 e setembro de 2019 associaram muçulmanos ou islâmicos a comportamentos negativos.

O trabalho é consistente com outras pesquisas que registram aumento da discriminação contra pessoas muçulmanas ou que seguem o islamismo depois dos atentados de 11 de setembro em Nova York. 

Preconceito contra muçulmanos na mídia

O Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha reúne mais de 500 organizações, como mesquitas, instituições de caridade e redes profissionais ligadas à população islâmica.

O estudo monitorou 34 veículos de mídia por meio de seus sites online e 38 canais de televisão (incluindo todos os canais regionais do país).

A Diretora do Centro de Monitoramento da Mídia do MCB, Rizwana Hamid, salientou que o relatório não tem como objetivo colocar a culpa em nenhum jornal ou emissora, nem em jornalistas ou repórteres individualmente.

E que o Conselho apóia a mídia livre “que faz seu trabalho sem medo ou favorecimento e responsabiliza aqueles em posições de poder”. 

Mas acha que a indústria deve admitir que, “às vezes, e com muita frequência, quando se trata de muçulmanos e do islamismo, as coisas estão erradas”. E disse esperar que os profissionais de imprensa coloquem em prática as recomendações feitas no relatório. 

Leia também 

Facebook lista Brasil entre os 3 países com prioridade máxima para moderação de conteúdo político

França cria comissão para combater teorias da conspiração, um “veneno” na sociedade, segundo Macron

(Jordan Bracco/Unsplash)

Os pesquisadores do CMB contabilizaram que os temas terrorismo e extremismo estavam presentes em mais de uma em cada cinco reportagens mencionando muçulmanos.

Observaram também que publicações religiosas e de direita concentraram a maior porcentagem de artigos demonstrando generalizações e discriminação contra a crença ou contra comportamento de pessoas da comunidade islâmica.  

Outra crítica foi de que as emissoras de TV nacionais apresentam mais preconceitos contra muçulmanos e contra o islamismo do que as regionais. O CMB questionou a postura dos jornalistas, que muitas vezes não questionaram entrevistados que fizeram generalizações contra os muçulmanos.

Recomendações 

O estudo faz uma série de recomendações para que a imprensa retrate os muçulmanos de forma mais equilibrada e não aprofunde as divisões. 

O Centro pede que a crença islâmica não seja vinculada a crimes, terrorismo ou extremismo, a menos que haja uma razão justificável específica para
isso. Também sugere aumentar a representação dos muçulmanos nas redações e treinar os profissionais da equipe para identificar teorias conspiratórias. 

O relatório completo (em inglês) pode ser visto aqui. 

Leia também 

11/9 disparou patriotismo e medo nos EUA; hoje Covid-19 e saúde preocupam mais do que terrorismo, mostra pesquisa

Sair da versão mobile