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Facebook derruba redes de influência que incluíam até falso biólogo suíço criado pela China para atacar EUA

Imagem do falso biólogo (fonte: relatório Meta)

Londres – A Meta, controladora do Facebook e Instagram, anunciou na quarta-feira (1/12)  que retirou do ar mais de 600 contas, páginas e grupos conectados a uma operação de influência da China que espalhava desinformação sobre a Covid-19, comprovando a extensão dos esforços do país para persuadir a opinião pública global a seu favor registrado em diversos estudos acadêmicos

Foram removidas também operações na Palestina, Polônia e Belarus, Vietnã e na Europa, onde a empresa encontrou uma rede de ligada a um movimento antivacina que assediava médicos, autoridades e jornalistas no Facebook e em outras plataformas de mídia social. 

Mas a operação chinesa foi destacada no relatório, pelo tamanho e pela tática de usar um personagem falso – um suposto biólogo suíço – para postar conteúdo que depois foi amplamente reproduzido imprensa estatal do país. 

Influência da China sobre EUA e Reino Unido

Segundo a Meta,  a operação teve origem principalmente na China e se destinava a usuários de língua inglesa nos Estados Unidos e Reino Unido, e também a  públicos de língua chinesa em Taiwan, Hong Kong e Tibete. 

“Começamos a investigar essa atividade depois de analisar conteúdo sobre a única conta falsa no centro desta operação. 

Nossa investigação encontrou links para indivíduos na China continental, incluindo funcionários da Sichuan Silence Information Technology Co, Ltd, uma empresa de segurança da informação, e  para pessoas associadas a empresas de infraestrutura estatais chinesas localizadas em todo o mundo.

A dimensão do esforço não é novidade. A China foi um dos destacados em um amplo estudo sobre o tema realizado pelo Oxford Internet Institute (OII), publicado no início deste ano.

Os pesquisadores afirmaram que a  desinformação industrializada se tornou mais profissionalizada e produzida em cada vez maior escala pelos principais governos, partidos políticos e firmas de relações públicas por eles contratadas. 

O documento revela as maneiras como agências governamentais e partidos políticos têm usado de forma crescente as mídias sociais para espalhar desinformação política, poluir o ecossistema de informação digital e suprimir a liberdade de expressão e de imprensa.

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O que a investigação da Meta encontrou foi uma operação de influência da China como aquelas descritas pelo OII. Ela começou em julho, quando a conta de um falso biólogo que ganhou o nome de Wilson Edwards, com direito a foto de perfil, publicou posts no Facebook e no Twitter afirmando que os Estados Unidos estavam pressionando os cientistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) a culpar a China pela criação do vírus.

Mídia estatal chinesa repercutiu posts

A conta postava comentários em resposta a posts oficiais da OMS nas redes sociais, incluindo o canal principal da OMS e o do diretor-geral da entidade. 

As afirmações do biólogo inexistente repercutiram imediatamente na mídia estatal chinesa, incluindo o Global Times e o People’s Daily, que publicaram artigos alegando “intimidação” dos EUA, disse a Meta.

Um mês depois, a Embaixada da Suíça em Pequim verificou que a pessoa não existia e a conta foi removida do Facebook como falsa. 

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“O processo funcionou como uma sala de espelhos online, refletindo incessantemente a falsa persona original e sua desinformação anti-EUA”, disse Ben Nimmo, que lidera as investigações sobre desinformação na Meta.

A investigação da rede de influência da China identificou centenas de contas não autênticas e algumas contas autênticas, incluindo algumas que pertenciam a funcionários de empresas estatais chinesas de infraestrutura e da empresa de tecnologia. 

A operação descobriu que vários funcionários do regime chinês começaram a interagir com o conteúdo menos de uma hora depois que ele foi inicialmente postado e, horas depois, os “grupos de amplificação começaram a dar likes e a compartilhá-lo”.

Foram removidas  524 contas do Facebook, 20 páginas, quatro grupos e 86 contas do Instagram. 

Movimento antivacina Covid na Europa

A operação chinesa foi um exemplo do que Meta chama de “comportamento inautêntico coordenado”, em que os adversários usam contas falsas para operações de influência, como os agentes russos fizeram ao se passar por americanos no Facebook na corrida para a eleição presidencial de 2016 nos EUA.

Mas o trabalho foi expandido para erradicar contas de pessoas reais que usam as redes sociais para promover teorias da conspiração e discurso de ódio. 

É o caso de outra rede de contas removida pela Meta, na Itália e na França, conectadas a um movimento antivacinação conhecido como V_V. Os dois países têm registrado conflitos de rua, com manifestações violentas protagonizadas por grupos negacionistas da Covid-19 e contra a vacinação e o isolamento social. 

De acordo com um relatório da empresa de pesquisa Graphika, o grupo coordena amplamente no aplicativo de mensagens Telegram, mas “parece ter como alvo principal o Facebook, onde seus membros exibem o símbolo de duplo V do grupo em suas fotos de perfil e enchem as seções de comentários de postagens que defendem vacinas contra a Covid-19 com mensagens abusivas”.

(Gerd Altmann/Pixabay)

A Meta disse que a rede utilizou contas reais, duplicadas e falsas para comentar as postagens do Facebook em massa e intimidar as pessoas, o que representa violação das regras da plataforma.

Mas a empresa informou que não baniu todo o conteúdo V_V, embora tenha prometido outras medidas se encontrar nova violações. 

Redes em outros países  

A rede de contas derrubada pela Meta no Vietnã violou a política de comportamento inautêntico contra reportagens em massa, informou a empresa. A operação fez denúncias falsas de violações às regras da plataforma contra ativistas e outras pessoas que criticaram publicamente, na tentativa de remover esses usuários do Facebook. 

Segundo o relatório, as pessoas por trás da atividade usavam contas autênticas e duplicadas para enviar centenas – em alguns casos, milhares – de reclamações contra seus alvos por meio das ferramentas de denúncia de abusos. 

Na Palestina, foram removidas 141 contas do Facebook, 79 páginas, 13 grupos e 21 contas do Instagram da Faixa de Gaza, que segundo os investigadores da Meta buscavam atingir principalmente palestinos, e em menor medida, usuários no Egito e em Israel. A atividade foi vinculada ao grupo Hamas, segundo o relatório. 

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Na Polônia e em Belarus, as redes se concentravam no conflito de fronteira entre os dois países. No primeiro foram eliminadas 31 contas do Facebook, quatro grupos, dois eventos do Facebook e quatro contas do Instagram, que a Meta afirma terem se originado na Polônia e serem direcionadas a públicos em Belarus e no Iraque. 

Em Belarus caíram 41 contas do Facebook, cinco grupos e quatro contas do Instagram, criadas para influenciar usuários das redes sociais no Oriente Médio e na Europa. Elas foram associadas pela Meta à agência de ingeligência KGB do país. 

A empresa reconheceu que, embora se torne mais rápida na detecção e remoção de contas que violam suas regras, está “jogando um jogo de gato e rato” diante de operações sofisticadas como a rede de influência da China:

 “Construímos as nossas defesas partindo da expectativa de que as operações não pararão, mas sim que se adaptarão e experimentarão novas táticas”, escreveu Nathaniel Gleicher, chefe de política de segurança da Meta.

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