A sensibilidade ao capturar o contraste entre a pobreza da maior favela da África e a delicadeza do balé clássico praticado por pequenas moradoras que desafiam as dificuldades em nome da arte valeu ao italiano Mauro De Bettio o primeiro lugar no concurso de fotografia ND Awards em 2021.
Realizado pela revista internacional de fotografia ND, a competição premiou trabalhos de diversos países, com temas variados: natureza, cotidiano, arquitetura e retratos que mostram sentimentos íntimos na forma de imagens.
Entre as fotografias de arte premiadas estão a fúria do mar em imagens em preto e branco, silhuetas humanas sobre paredes coloridas na Malásia, um moderno edifício em Los Angeles tendo ao fundo diferentes tonalidades do céu da Califórnia e a arte da macrofotografia, ampliando fungos minúsculos que passam a lembrar pequenas jóias.
Conheça os vencedores do prêmio de fotografia ND Magazine
Prêmios de fotografia profissional
Fotógrafo Profissional do ano e 1º lugar na categoria Editorial: Mauro De Bettio – “Vida em equilíbrio”
Mauro de Bettio mora em Barcelona (Espanha), e retratou as crianças da maior favela da África, localizada no Quênia. Kibera ocupa apenas 5% da área total da capital do país, Nairóbi, mas reúne mais da metade de sua população. São 2,5 milhões de pessoas em cerca de 200 assentamentos.
Um crescimento constante da população provoca o aumento do desemprego, pobreza, crimes, escassez de água e infecções. Nesse cenário trágico onde a eduação é uma luta diária, as crianças são as únicas que podem sonhar.
De Bettio registrou o trabalho do projeto social Elimu, que dá oportunidade para crianças realizarem seus sonhos.
“Nesta organização sem fins lucrativos, o instrutor Michael ensina balé desde 2009 e oferece um espaço seguro para as crianças crescerem e aprenderem tanto dança quanto habilidades sociais.
O projeto oferece educação para órfãos e crianças carentes em uma das áreas mais desprovidas de recursos da África.
Elas se tornam bailarinas talentosas, e ao mesmo tempo descobrem seus pontos fortes. A maioria nem sabia o que significavva a palavra “balé”, mas isso não as impediu de descobrir sua grande paixão.”
“A dança definiu um caminho especial na vida dessas crianças, que encontraram equilíbrio. Isso lhes trouxe confiança e autoestima.
O balé é mais do que aprender movimentos de dança. Ele muda a percepção de autoestima das meninas, ajudando-as a perceber que podem se tornar o que quiserem.”
“A alegria em seus rostos conta uma história muito maior do que as palavras poderiam descrever. Apesar das complicações da Covid, que resultaram em fechamento de escolas, elas continuaram com ensaios e apresentações nas ruas.
Nem mesmo uma pandemia pode impedir essas crianças de perseguirem sua paixão.”
“A fotografia é minha forma de falar.
Tive a oportunidade de visitar lugares maravilhosos e principalmente de conhecer pessoas fantásticas. Meu objetivo é capturar a sensação do que eu “toco”, não apenas a aparência disso, reproduzindo todas as emoções, da felicidade à tristeza, do medo à excitação.
Simplesmente mostrando uma imagem que evoque uma emoção em outra pessoa, faça-a parar e pensar.”
A fotografia é um meio fantástico para contar histórias. Basta perguntar a si mesmo que história você deseja contar, e a fotografia pode levá-lo até lá”.
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Categoria Especial –Mohd Nazni Sulaiman – “As cores da rua em Banting”
Fotógrafo freelance baseado em Kuala Lumpur, Malásia, Sulaiman tem 10 anos de experiência em fotografia de casamento, e trabalha com fotos de eventos e produtos. Nas horas vagas, adora viajar e fazer imagens em lugares diferentes.
A série premiada no concurso de fotografia explorou sombras sobre as cores vivas da cidade de Banting, perto de sua casa. que tem paredes coloridas em suas vielas, por onde passam apenas veículos pequenos.
“O sol poente produz um efeito de luz e sombra nas paredes. Todos que passam pela rua criam figuras formadas por suas sombras.”
“É tão linda a combinação do colorido da parede com as sombras das pessoas que passavam! “
Fotografia de Arquitetura –Louis-Philippe Provost – “Curves in colours”
O trabalho do fotógrafo canadense Provost retrata diversos da fachada do Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles (EUA), com seus painéis de aço inoxidável e curvaturas.
“Decidi usar como fundo o lindo céu da Califórnia em cores diferentes ao longo da série para enfatizar a relação do edifício com seu ambiente”, disse o fotógrafo, que estuda belas artes e gosta de explorar as formas de edifícios e paisagens, criando contrastes entre o colorido e o preto e branco.
Fotografia de Belas Artes – Fang Tong – “Soap Opera”
Tong é canadense nascida na China. Atualmente mora em Vancouver, no Canadá. Com formação em arte, ela se descreve como uma fotógrafa cinematográfica, dedicada a criar “um clima e um ambiente e talvez algum mistério” em suas produções cuidadosamente planejadas.
A série premiada no ND Awards retrata cenários de novelas (sopa operas):
“O palco está sempre cheio de charme para mim. As estruturas cênicas condensadas e ligeiramente ásperas ao fundo permitem que as pessoas olhem com expectativa a continuação da cena como um reflexo da vida real.”
“A aspereza dos fundos deliberamente construídos produz um efeito visualmente não-autêntico, com significado simbólico. A beleza da concentração dos elementos da vida também está integrada a a um sentimento abstrato. Sempre tive um amor entre o real e o surreal, que produz uma sensação de liberdade.”
“A tentativa foi construir o palco como meio de atuação, com a câmera fixada no mesmo ponto de vista. A câmara registra cada cena, composta por atores e fundos artificiais em uma performance do cotidiano, formando uma série cinematográfica.
O público está imerso na cena e, ao mesmo tempo, parece um espectador, buscando suas próprias respostas.”
“O mundo imaginário é estranhamente familiar, enquanto o arco narrativo leva o público a um passeio hipervisual pelo subconsciente. Eu amo esse equilíbrio entre o real e o surreal que atrai o público para o meu mundo”.
Fotografia de Natureza – Paolo Lazzarotti – “Anfiteatro Poseidon”
Fotógrafo autodidata, Lazzarotti deu os primeiros passos nessa arte aos 19 anos, com uma câmera compacta que ganhou do pai. “Isso me inspirou a olhar para o mundo ao meu redor de uma maneira diferente”, disse.
Ele mora em uma pequena vila perto de alguns dos lugares mais bonitos, da Itália, como Cinque Terre e o Golfo dos Poetas, na Liguria.
“Meus assuntos favoritos são paisagens, pôr do sol e todas as coisas do mundo natural. Eu cultivei um amor por tempestades marítimas, e às vezes enfrento riscos ao fotografar ondas enormes e chuvas fortes”
A série vencedora do concurso de fotografia retrata o que Lazzaroti chama de “anfiteatro Poseidon”, onde se pode apreciar “majestosas exibições do deus do mar da mitologia grega”.
Fotografia de pessoas – Laurentina Miksiene – “Capturando um momento”
A fotógrafa vive no País de Gales, no Reino Unido, e é especializada em fotografia de arte.
Ela criou esculturas “vestíveis” feitas com uma mistura de metais preciosos, tecidos, papel e madeira compensada, unindo valores materiais com processamento digital e analógico, por antigas câmeras SLR.
“Minha fotografia explora diferentes níveis de realidade: a realidade de quem ou o que é descrito pela imagem, a realidade da experiência e sentimento – seja do sujeito, do espectador.”
Prêmios de fotografia amadora
Fotografia de Natureza : Barry Webb – “A beleza etérea dos fungos viscosos”
O vencedor em fotografia de natureza mora no Reino Unido e se especializou em macrofotografia, desde que descobriu “o fascinante mundo dos fungos viscosos”.
“Esses corpos frutíferos do fungo viscoso (Myxomycetes) – nem plantas nem fungos – passam a maior parte de seu ciclo de vida escondidos. Sua breve aparência, como corpos frutíferos, é muitas vezes esquecida devido ao seu tamanho diminuto.”
As imagens foram capturadas em toras de madeira em processo de decomposição, em uma floresta no Reino Unido. Todas usam luz natural, criando um efeito brilhante que lembra a cintilância de pedras preciosas.
Prêmio ND Discovery do Ano e 1º Lugar na categoria Pessoas: Ezra Bohm – “The identity of Holland”
A série retrata pessoas usando os trajes tradicionais da Holanda, para celebrar e valorizar a velha cultura holandesa.
“Esses grupos têm algo em comum que muitas vezes sentimos falta na sociedade moderna: solidariedade, genialidade e orgulho coletivo”, disse a fotógrafa, que lamenta a desconexão das pessoas modernas de suas raízes.
“Eu romantizo um mundo do qual quero fazer parte. As pessoas nas fotos são heroínas. Elas inspiram outras a olharem para trás e aprenderem com o passado.”
Fotografia de Arquitetura- Sergio Ferreira Ruiz – “A trapped light”
O fotógrafo espanhol é outro que aprendeu sozinho a arte da fotografia.
“Aos 16 anos comecei a sentir uma atração especial pelo mundo da imagem.
Aos 22 anos tornei-me membro da Associação Fotográfica de Cartagena. Este fato foi determinante na escolha dessa linguagem como forma de expressão artística, pois me ajudou a crescer como pessoa e como fotógrafo.”
“A Trapped Light” é uma visão pessoal, minimalista e sugestiva da relação entre arquitetura, fotografia e luz natural, que tem um papel fundamental na criação.
Foram vários anos de intensa atividade fotográfica e criatividade com outros colegas e amigos. No entanto, com o passar do tempo, a situação mudou. Ruiz conta que a crise industrial que atingiu sua região levou-o a abandonar a atividade da Associação Fotográfica por falta de apoio público.
Mas retomou, realizando exposições e participando de treinamentos com fotógrafos renomados para se aperfeiçoar.
Categoria Especial –Wendy Timmermans – “Hipnose no meio da selva”
Timmermans nasceu em Roterdã (Holanda), e desde jovem escolheu a água como seu elemento. Primeiro passando as férias em locais praianos, e depois tornando-se mergulhadora e instrutora de mergulho.
A série premiada no concurso de fotografia ND Awards foi produzida no México.
“No meio da selva, na Península de Yucatán, descemos muito no subsolo por um conjunto estreito de escadas e entramos em um poço subaquático. No interior do sumidouro, um feixe de luz hipnotizante penetrou nas águas límpidas até ao fundo arenoso.”
“Ao mergulhar na água nossa mente pode entrar em outra dimensão. Uma dimensão de serenidade e magia, que é muito difícil de explicar em palavras. Nessas fotos, tento transmitir essa sensação de perfeição e tranquilidade, e a harmonia entre o mergulhador e esse deslumbrante ambiente subaquático.”
“Sou apaixonada por explorar a beleza do reino subaquático e capturar isso na câmera. Tenho fotografado debaixo d’água desde 2006, primeiro com uma pequena câmera compacta e capturado imagens da vida marinha, focando mais nas pessoas debaixo d’água.
Minhas fotos são tiradas de forma natural, em uma respiração durante o mergulho livre. Dessa forma, posso me mover livremente e não perturbar ou causar impacto no ambiente subaquático. Procuro simplicidade e harmonia e tenho uma forte preferência pela luz natural.”
Fotografia de arte – Leila Forés – “I’m sorry”
Leila Forés nasceu em Benicarló, na Espanha, em 1972. Uma oficina de fotografia na escola fez com que descobrisse a magia da câmara escura e buscasse formação superior para se aprimorar.
Virou uma fotografa premiada internacionalmente, com trabalho marcado pelo uso de ferramentas de digitalização para fazer com que as imagens se confundam com filmes. O uso exclusivo do preto e branco, as cenas borradas e a sensação de movimento acentuam a emoção em suas composições.
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