Londres – Os alertas sobre riscos trazidos pela variante Omicron da Covid-19 estão acelerando mudanças na opinião dos britânicos sobre as medidas de controle do coronavírus, com 62% do público a favor de proibir pessoas não vacinadas de comparecerem a eventos ou entrarem em lojas consideradas não essenciais – que incluem boa parte do comércio de compras de Natal.
De acordo com a mais nova pesquisa do instituto YouGov, restrições severas como as que foram impostas na Áustria e na Alemanha nas últimas semanas são bem-vistas sobretudo pela população mais velha do Reino Unido. O uso de máscara em lojas e transporte público tem 83% de aprovação.
Mas há limites para o que a maioria dos britânicos aceitaram sem reclamar: outra pesquisa, publicada na semana passada pelo mesmo instituto, apontou que o fechamento de bares e restaurantes não é admitido por 68% dos entrevistados, enquanto 55% apoiam o fechamento de boates e casas noturnas.
Natal da variante Omicron virou briga de família
A nova pesquisa, que entrevistou 1.639 britânicos entre os dias 30 de novembro e 1º de dezembro, vem em um momento em que mais uma vez a Covid-19 virou objeto de disputas familiares no país. E que apesar das campanhas incentivando a vacinação, muitos ainda se recusam a se imunizar.
No total, 46,5 milhões de pessoas no Reino Unido receberam duas doses da vacina Covid-19, o equivalente a 80% da população. Quase 20 milhões receberam a terceira dose, pouco mais de um terço dos habitantes do país. Nas redes sociais e nas ruas, militantes antivacina protestam contra as campanhas oficiais.
Até agora, o governo sinaliza que não imporá limites para as reuniões familiares no Natal e Ano Novo, como em 2020, medida altamente impopular. Mas autoridades transmitem impressões confusas em entrevistas, com alguns “sugerindo” evitar as festas.
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Mesmo sem proibição formal de encontros ou quantidade limitada de participantes, o debate que se instalou no país é se parentes que se recusaram a tomar a vacina serão “desconvidados”, devido ao risco de contaminarem pessoas mais velhas.
Como a maior parte desses encontros acontece em locais fechados devido ao inverno, os riscos de contaminação acabam sendo altos.
Embora a pesquisa do YouGov não tenha indagado especificamente sobre as festas de fim de ano – a pergunta era sobre comércio e restaurantes – o impedimento de pessoas não-vacinadas é apoiado pela maioria dos entrevistados mesmo na faixa etária mais jovem.
Aqueles entre 18 e 24 anos que aprovam a ideia somam 51%, taxa que sobe para 79% entre pessoas acima de 65 anos. Não há variações significativas por gênero, região do país ou faixa de renda.
Na Alemanha, restrições para não-vacinados
Em um de seus últimos atos como Chanceler da Alemanha, Angela Merkel promulgou medidas para impedir que aqueles que permanecerem não vacinados contra Covid-19 em grande parte das atividades públicas. As medidas visam conter uma quarta onda de infecções – que até agora está entre as piores da Europa. Merkel descreveu as restrições como um ato de “solidariedade nacional”.
Embora uma política semelhante não tenha sido anunciada para o Reino Unido, 62% do público apoiaria banir aqueles que não foram vacinados contra a Covid-19 de visitar locais públicos – isto inclui 32% que “apoiariam fortemente” fazê-lo. Somente um quarto das pessoas (26%) se oporia a tais medidas.
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No Reino Unido, variante Omicron não justifica bloqueio total
Segundo o YouGov, mesmo com as notícias alarmantes sobre a variante Omicron, por enquanto a Inglaterra não está disposta a retornar às regras de bloqueio total. As restrições mais impopulares para reintroduzir seriam o fechamento de bares e restaurantes, com dois terços (68%) do público inglês contra a ideia.
Mais do que locais para beber, os pubs fazem parte da tradição cultural do país e funcionam como ponto de encontro nas comunidades, sobretudo para quem vive sozinho. Além disso, eles são uma importante atividade econômica, contando com um forte lobby empresarial para defender a abertura.
Uma das discussões é sobre a imposição do uso de máscaras em pubs e restaurantes. O governo mantém-se firme em não adotar a política, que já é utilizada em vários países europeus, com as pessoas tirando-as apenas quando estiverem à mesa.
Permitir que as pessoas saiam de casa apenas para fazer compras, exercícios e trabalhar em atividades essenciais não é aceito por 64% dos entrevistados. Outros 61% se opõem a proibir visitas em casa.
A maioria do público (56%) também se opõe a limitar encontros ao ar livre a seis pessoas, mas as opiniões são mais divididas sobre a ‘regra dos seis’ aplicável em ambientes fechados (49% apoiam e 41% se dizem contrários).
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Em parte do lockdown, era permitido receber até seis pessoas em casa ou em locais fechados, o que também gerou discórdia e ressentimentos entre famílias e grupos de amigos, com alguns tendo que “escolher” os convidados e criando mal-estar com os que ficaram de fora da lista.
Em relação aos grandes eventos esportivos e de entretenimento, as opiniões em um país que ama futebol e tem uma forte indústria cultural são divididas: 46% se opõem a suspendê-los, e 45% são favoráveis.
Já as boates não contam com tanta simpatia: só 34% dos entrevistados se mostram contrários a interromper seu funcionamento para conter a expansão da variante Omicron.
Entre os jovens até 24 anos a oposição é maior, de 41%, mas mesmo assim não atinge a metade do público nessa faixa etária. Já os acima de 65 anos contrários a paralisar as boates somam apenas 30%.
A pesquisa apontou que as restrições que os britânicos provavelmente apoiariam incluem o distanciamento social, ou pessoas tendo que manter 2 metros de distância das pessoas com quem não vivem, com 60% a favor da reintrodução da regra. Mais de dois terços dos adultos do país (69%) apoiam o distanciamento social em pubs e restaurantes.
O YouGov comparou os resultados com pesquisas anteriores e demonstrou que todas as políticas capazes de controlar a expansão do coronavírus ganham apoio em comparação a julho.
A aprovação de limite de seis pessoas para encontros em ambientes fechados, da suspensão de eventos esportivos e do fechamento de boates tinha chegado a cair em outubro, mas voltou a subir em dezembro, na pesquisa feita após as notícias sobre a variante Omicron.
O apoio a permitir que as pessoas saiam de casa apenas para se exercitar, fazer compras essenciais e para trabalhar foi o que mais cresceu: 65% desde julho. Em segundo lugar aparece a aprovação do fechamento dos pubs e restaurantes, que subiu 50% no mesmo período.
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