Buenos Aires – Com a pandemia do novo coronavírus, os problemas econômicos e sociais dos países da América do Sul ficaram ainda mais evidentes. A escassez de planejamento e de investimento em bem-estar provocou cenas como aquelas das longas filas de peruanos para comprar cilindros de oxigênio.

Empresários e analistas contaram, sem muita cerimônia, nas longas conversas telefônicas, que tinham estocado cilindros porque temiam ter que ser atendidos em um hospital ou clínica local.  A falta de ar foi um dos dramas peruanos na pandemia. Estas emergências tiram o foco de outra emergência – a do meio ambiente.


Este artigo faz parte do Especial COP26 – veja o relatório 


Mineração no alvo 

O Peru, o Chile e a Bolívia estão entre os principais produtores mundiais na área de mineração. E as exigências internacionais têm levado ao maior cuidado nessa área, mas “longe ainda do ideal”, disse um especialista chileno. 

O Chile quase foi o palco da COP25, em 2019, antes da pandemia do novo coronavírus. Mas por problemas internos, como uma das séries de protestos, a realização do encontro ocorreu em Madri, na Espanha.

 O chamado ‘estallido social’ resultou na convocação da Assembleia Constituinte para a primeira constituição em tempos democráticos no Chile. A atual é da era do ex-ditador Augusto Pinochet e data de 1980. 

Porém, a baixíssima popularidade do presidente Sebastián Piñera e as denúncias de irregularidades na venda da empresa de mineração Minera Dominga, revelada na investigação Papéis de Pandora, complicaram ainda mais seu cenário político. 

O caso provocou a aprovação do seu pedido de impeachment por parte da Câmara dos Deputados e o processo deverá ser definido pelo Senado, quando falta pouco para o primeiro turno da eleição presidencial (21 de novembro). Como no caso da Argentina, o contexto interno afetou a bandeira chilena do meio ambiente em Glasgow.

Impopularidade do presidente

“O governo Piñera teve uma série de iniciativas na área de energias renováveis, mas sua impopularidade acabou ofuscando essa área de seu governo”, disse ao MediaTalks o analista politico Guillermo Holzmann, professor da universidade de Valparaiso. 

Durante a COP26, o ministro chileno de Energia, Juan Carlos Jobet, foi visto, por diplomatas estrangeiros, como um dos mais atuantes.

 “Teremos poucas possibilidades de sucesso na luta contra a mudança climática se os países e as empresas não trabalharem conjuntamente”, disse. 

Segundo reportagem da Reuters, ele está entre as autoridades que assinaram a carta em que se pede aos negociadores da COP26 que fosse estabelecido um “preço real às emissões de carbono”. 

Em agosto, o Ministério fez a entrega pública dos primeiros 50 táxis elétricos do país. 

A ministra de Meio Ambiente do Chile, Carolina Schmidt, disse, em Glasgow, que existe “espaço enorme” para se chegar à emissão “neutral” de carbono. Um caminho para esta meta, disse ela, é o “transporte elétrico, limpo”. Mas falta muito ainda. 

A natureza encolhe no Chile

O Chile é um país com problemas hídricos históricos. Uma pesquisa revelou que os lagos chilenos estão perdendo suas águas de forma acelerada. 

O estudo de três universidades chilenas mostraram que os lagos andinos da Zona Central do país, como a Lagoa do Inca (Laguna del Inca), estão encolhendo, como detalhou o geógrafo Marcelo Lagos, no noticiário 24Horas, da TVN. 

“Estes dados nos ajudam a entender a importância da mudança do clima. Em sua programação, a TVN costuma abordar assuntos ligados ao Meio Ambiente. 

Por exemplo, que alguns restaurantes de Santiago já começaram a substituir o abacate (tão simbólico da cozinha chilena, peruana e mexicana) porque sua produção requer água em abundância (‘harta agua’, como dizem eles). 

Foto (Gil Ndjouwou/Unsplash)

Os dados foram mostrados quando, na Escócia, a COP26 já chegava ao final. Mas essa promete ser uma preocupação que continuará entre os chilenos, muito além do encontro das Nações Unidas. 

Quem já esteve em determinadas localidades do Chile (e em Mendoza, na Argentina, também) sabe que a água é um bem mais que precioso, principalmente nas áreas desérticas. 

O Chile possui desertos, bosques nativos e glaciares. A Argentina também tem uma biodiversidade apontada como privilegiada – recomendo viagem por suas estradas (geralmente seguras) de uma ponta a outra do país, de Salta, no Norte, na fronteira com a Bolívia, à Patagônia, na fronteira com o Chile.

Paraguai definiu proteção de áreas naturais 

No Paraguai, por sua vez, áreas naturais, imensas e intactas, foram definidas no discurso que o ministro da Agricultura, Santiago Bertoni, levou para a COP26. 

Ele acabou não fazendo o discurso publicamente, mas, dizem seus assessores, que defendeu a “bandeira do meio ambiente” paraguaio nas reuniões que participou em Glasgow. 

O Paraguai é um dos países do riquíssimo ‘Aquífero Guarani’, que envolve também o Brasil, o Uruguai e a Argentina e é definido como um dos maiores do planeta. 

Unsplash

Nesta nossa região de desertos, florestas, geleiras….admirada natureza, falta e muito para a conscientização geral e ambiental de seus líderes e de suas populações da América do Sul. 

O aquecimento global é um tema vital. Mas como escreveu o jornalista Pablo Vaca, um dos editores do Clarín, de Buenos Aires, a COP26 “não esteve entre as matérias mais lidas da imprensa escrita e também não gerou ibope nas coberturas de televisão”. 

Em síntese, ainda há muito a informar, a explicar e a alertar para que os males do clima ganhem o merecido epicentro das atenções da região. Quem sabe nas futuras COPs?

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