Londres – Os países-ilhas, como Tuvalu, Barbados e Maldivas, que são os que mais vêm perdendo com o avanço das mudanças climáticas, saíram entre os grandes vencedores da guerra de imagem da COP26, em Glasgow.
E nessa guerra midiática, o grande destaque ficou para Tuvalu, que apresentou durante a conferência a peça de comunicação governamental mais impactante. Trata-se de um vídeo que passa bem a mensagem de que quem pode ser engolido pelas águas tem pressa, que viralizou durante a COP26.
Esta matéria faz parte do Especial COP26 – veja o relatório
Gravação com água pelos joelhos
No vídeo exibido durante a COP26, o Ministro da Justiça, Comunicação e Relações Exteriores, Simon Kofe, começa dizendo aos delegados da conferência que enquanto eles o assistem, Tuvalu vive a realidade das mudanças climáticas e faz um apelo:
“Não podemos esperar por discursos enquanto o mar se eleva em torno da gente sem parar.”
O objetivo foi provocar maior urgência e uma postura mais agressiva dos líderes mundiais para limitar o impacto das mudanças climáticas.
In a video shown at #COP26, Tuvalu's foreign minister Simon Kofe stands knee-deep in seawater to demonstrate the "realities of climate change" and rising sea levels.
"We are sinking, but so is everyone else."
📸:Tuvalu Ministry of Justice, Communication and Foreign Affairs pic.twitter.com/lqRotTJjyg
— Human Rights Watch (@hrw) November 9, 2021
Kofe ressalta que a realização de compromissos somente em 2050, daqui a três décadas, pode ser inútil para as ilhas do Pacífico, que correm o risco de desaparecer na metade desse tempo com a subida do nível do mar.
Para ilustrar como esse perigo é iminente, ele gravou o vídeo num púlpito dentro mar, com as calças arregaçadas e as águas até os joelhos, num local que era terra firme há algumas décadas.
Início com câmera fechada dá impressão de Ministro estar em seu gabinete
O vídeo, gravado pela emissora pública TVBC no extremo de Fongafale, principal ilha da capital Funafuti, começa com a câmera fechada no Ministro.
Num primeiro momento, a imagem dá a entender que ele está em seu gabinete, diante de um fundo azul e ao lado das bandeiras de Tuvalu e das Nações Unidas.
Logo no início, ele lança uma forte frase de efeito:
“Nós estamos afundando, mas todos também estão.”
Câmera abre e mostra Ministro – e Tuvalu – sob as águas
Kofe alerta que as mudanças climáticas e a subida do mar são ameaças mortíferas para a existência de Tuvalu e de outros países com orlas costeiras baixas, enquanto a câmera vai se afastando, mostrando a real situação em que ele – e seu país – se encontram.
O local da filmagem não foi escolhido por acaso. A locação foi feita bem em frente a uma estrutura de concreto construída pelos norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial para servir de base a um canhão.
O canhão era operado em terra firme pelos soldados, durante a década de 40. A filmagem mostra que a base onde ele ficava apoiado atualmente já foi engolida pelo mar, e passou a ficar a uma distância de mais de 20 metros do que hoje é terra.
Todos serão afetados
Tuvalu fica na Polinésia, bem ao sul da Oceania, e é composto por oito ilhas, onde vivem 12 mil pessoas.
O Ministro diz que as ilhas são sagradas para seu povo, por terem sido o lar de seus ancestrais e explica que o vídeo é mais do que um manifesto político:
“É um chamamento que reverbera de nossas ilhas e de nosso povo para a comunidade internacional.”
Ele alerta que se nada for feito, mais cedo ou mais tarde os efeitos mortais da crise climática não pouparão ninguém:
“Não importa se hoje, como nós em Tuvalu, ou daqui a 100 anos, todos serão afetados”.
Inviabilização de Tuvalu pode ser prenúncio do que pode acontecer com o mundo
Enquanto aguarda uma mudança de mentalidade global, Kofe diz que seu país já se prepara para o pior cenário, em que a população será obrigada a se mudar porque o seu território terá submergido.
Ele alerta que a inviabilização de seu país pode ser um prenúncio do que pode acontecer com o planeta:
“Todos precisamos olhar para além das prioridades econômicas isoladas e focar no bem estar do mundo.”
Leia também
COP26 | As imagens e fatos mais marcantes da conferência do clima em Glasgow