Londres – De acordo com um estudo publicado pelo Center for Countering Digital Hate, uma organização sem fins lucrativos que rastreia e analisa o ódio online e a desinformação, apenas dez fontes, a maioria baseada nos Estados Unidos, respondem pela vasta maioria do conteúdo de negacionismo climático nas plataformas de mídia social mais populares.
Entre eles estão o site de notícias de extrema direita Breitbart, a rede de TV a cabo Newsmax e o jornal The Daily Wire, de propriedade do conservador Ben Shapiro.
Esta matéria faz parte do Especial COP26 – veja o relatório
Negacionismo climático online
Esses 10 “super poluidores” receberam quase 1,1 bilhão de visitas em seus sites nos últimos seis meses a partir de postagens com links para seus conteúdos.Juntos, eles somam 186 milhões de assinantes no Facebook, Twitter, YouTube e Instagram.
Mas a maior parte de seu alcance está no Facebook, onde residem 70% do total das assinaturas do grupo e onde os links para os “Toxic Ten” respondem por 69% das interações dos usuários da plataforma com conteúdo de negação do clima.
Leia o relatório completo aqui.
Receita de US$ 5,3 milhões graças ao Google
Oito dos dez veículos vinham sendo financiados pela monetização do Google, prática que a empresa decidiu sustar para temas ligados à negação climática.
O estudo calcula que os editores alcançaram uma receita de US$ 5,3 milhões do Google Ads em apenas seis meses. O Google também lucrou, ficando com US$ 1,7 milhão do bolo, diz o estudo.
Facebook também lucrou com anúncios
A influência maior está no Facebook, que responde por 69 por cento das interações envolvendo negação da emergência ambiental.
Os pesquisadores demonstraram que oito dos “Toxic Ten” pagaram para anunciar conteúdo. O estudo pede que a empresa passe a recusar publicidade desse tipo, política que o Facebook anunciou que adotará a partir de 2022.
Os pesquisadores descobriram que mais de 99% das interações dos usuários do Facebook com material falso do grupo ocorreram com postagens sem rótulos de verificação.
“Negacionismo climático ofusca a verdade”
O Center for Countering Digital Hate (CCDH) compara a situação do negacionismo climático com a da Covid-19:
“A negação da crise do clima, como a negação da vacina, ofusca a verdade ao nos oprimir com afirmações elaboradas de má-fé para confundir o debate e atrasar a ação.
A ferramenta mais potente dos egoístas por trás disso é a mídia social, um fórum público onde o conteúdo mais extremo, conspiratório e prejudicial é recompensado com amplificação.”
De acordo com o estudo, os Toxic Ten “fazem parte de uma indústria eficiente de desinformação do clima”, que publica conteúdo sem fundamento científico, com o objetivo de aproveitar o alcance das plataformas para espalhar ceticismo e “evitar consensos sobre fatos e soluções”.
A organização critica o Facebook por não remover a maioria do conteúdo falso:
“Apesar de prometer em março de 2021 que começaria a rotular postagens que apresentem negacionismo climático com links para informações corretas, a plataforma não cumpriu. Apenas 8% das postagens mais populares no Facebook contendo informações incorretas do Toxic Ten traziam rótulos.”
Pedido para que Facebook e Google parem negacionismo climático
No relatório, o CCDH pede que tanto o Facebook como o Google parem de promover e financiar a negação do clima. Eles solicitam que as duas empresas rotulem o material falso como desinformação e parem de dar as vantagens de suas plataformas a mentiras.
“Enquanto o Facebook e o Google continuarem a fazer negócios com os negadores do clima, eles não podem alegar que sejam “verdes”. Eles devem isso a nós e ao planeta.”
Vínculos com empresas de petróleo e com a Rússia
Pelo menos dois dos “Toxic Ten” têm ligações históricas com o financiamento da ExxonMobil: Townhall Media e Media Research Center.
A mídia estatal russa aparece com o Russia Today e o Sputnik News à frente. Segundo o Oxford Internet Institute, o Russia Today é “uma das organizações mais proeminentes na atuação global da desinformação”.
Outro destaque é o Daily Wire, com alta popularidade no Facebook. Seus artigos tiveram em maio mais engajamento do que os dos New York Times, Washington Post, CNN e NBC somados.
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Também tem força o Western Journal, descrito pelo New York Times como uma “potente usina de desinformação online”, com dezenas de milhões de usuários.
Dois do grupo são ligados a Donald Trump: o Breitbart, site de desinformação já dirigido por Steve Bannon, guru do ex-presidente, e a Newsmax, fundada por Christopher Ruddy, que se apresenta como grande amigo do líder político.
O The Washington Times é vinculado à Igreja da Unificação, do autoproclamado messias Sun Myung Moon, que financia uma coalizão que desafia a ciência da mudança climática.
Completam a lista o Patriot Post, site cuja equipe se esconde por trás de pseudônimos, e o The Federalist Papers, notório por ter promovido a hidroxicloroquina como medicamento salva-vidas durante a pandemia.
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