Londres – Assim como ocorreu no período em que a delta surgiu, as fake news sobre a ômicron e teorias conspiratórias mirabolantes em torno da nova variante do coronavírus começaram a proliferar tão logo ela foi relatada por autoridades de saúde da África do Sul à Organização Mundial da Saúde (OMS), em 24 de novembro.
A agência de checagem de fatos americana First Draft divulgou um alerta sobre a desinformação associada à variante, que já fez pelo menos uma vítima fatal no Reino Unido e desencadeou uma onda de pânico devido à rapidez com que vem sem espalhando.
Nos Estados Unidos, influenciadores conservadores passaram a disseminar afirmações de que a ômicron seria parte de um plano do governo para oprimir populações não vacinadas, apontou a First Draft.
Criatividade nas teorias da conspiração sobre ômicron
As fake news e teorias conspiratórias mapeadas em língua inglesa foram encontradas pela agência em vários países, embora algumas tenham se originado nos EUA.
A imaginação de quem as inventa parece não ter limites. Algumas utilizam argumentos disparatados, sem qualquer fundamento científico, e ainda assim são propagadas.
Uma delas afirma que as letras “o”, “m” e “i” em ômicron significam “oclusão” e “infarto do miocárdio”.
A ideia foi associar, sem qualquer evidência, a nova variante a efeitos colaterais raros – como um distúrbio de coagulação do sangue e miocardite – que apareceram em um número reduzido de pessoas que tomaram a vacina contra a Covid.
O relatório da agência destacou uma transmissão ao vivo no Facebook feita no dia 30 de novembro pelo o apresentador de rádio conservador Ben Ferguson.
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Ele tem um programa gravado a partir da própria casa no Texas, e veiculado pela Radio America e ICON Radio Network. Ancora ainda um talk show na emissora de TV de extrema direita, a CRTV.
Na transmissão identificada pela First Draft, Ferguson afirmou que o governo está usando a variante Omicron para “criar medo” e para perpetuar o “racismo Covid” ao separar a sociedade entre aqueles que são vacinados e aqueles que não são.
O radialista também afirmou no vídeo, que foi compartilhado mais de 600 vezes e gerou mais de 26 mil visualizações em três dias, que o governo está pressionando para que as pessoas tomem doses de reforço por meio da suposta disseminação do medo.
O autor das fake news sobre a ômicron tem um podcast em que declara apoio a Donald Trump e condena a imprensa:
“Se você odeia a mídia liberal e ANTIFA, mas ama o presidente Trump, então este é o podcast para você. Ben Ferguson traz a você comentários sobre as notícias que a mídia tendenciosa não cobrirá.”
Figuras proeminentes da direita dos EUA difundem fake news sobre ômicron
O levantamento da agência de checagem de fatos encontrou também conteúdo de autoria de outros influenciadores conservadores, incluindo Ben Shapiro, Chuck Callesto, Kim Iversen e Candace Owens, dizendo que a variante ômicron estava sendo usada para impor outro bloqueio e assustar as pessoas para que fossem vacinadas.
Uma postagem de Owens sugerindo que a Covid-19 estava sendo usada para “inaugurar uma nova ordem mundial totalitária” foi compartilhada mais de 44 mil vezes no Facebook. O tweet original acumulou mais de 20 mil retuítes.
“Experts” told you if you complied with lockdowns, censorship, masks and vaccinations—life would return to normal.
“Conspiracy theorists” told you Covid was never going to end, and governments would use it to usher in a totalitarian new world order.Who do you believe now?
— Candace Owens (@RealCandaceO) November 27, 2021
Os pesquisadores identificaram uma narrativa falsa popular entre os defensores da substância ivermectina, já descartada pela Organização Mundial de Saúde como tratamento eficaz para a Covid, sustentando que a variante ômicron teria sido inventada ou deliberadamente lançada por desenvolvedores da vacina na África.
De acordo com essa teoria da conspiração, até a semana passada o continente africano tinha sido bem-sucedido em se defender da pandemia por causa do uso prevalente da “droga milagrosa” ivermectina, apesar de sua baixa taxa de vacinação.
O estudo aponta como um dos principais exemplos uma série de tweets da senadora republicana Marjorie Taylor Greene, da Georgia, que segundo a First Draft promove com frequencia teorias das conspiração como a QAnon.
Essas teorias já tinham sido detectadas pela First Draft em associação com a variante Delta.
7. With all that is know about #Covid and all the covid studies and the known miracle of low deaths in Africa with very little vaccinations, it’s no wonder the Tyrants announce a new #covidvariant from Africa and apply travel restrictions.
They control you with irrational fear.
— Marjorie Taylor Greene 🇺🇸 (@mtgreenee) November 27, 2021
Nos tweets postados em 27 de novembro ela ampliou essa teoria da conspiração, alegando falsamente que “muitos ensaios clínicos provaram que a ivermectina é um tratamento muito eficaz, seguro e barato contra #Covid”. ‘ Esses tweets foram compartilhados milhares de vezes, afirma a First Draft.
Não parou ali. A conta da republicana no Twitter exibe diversos posts minimizando a Covid-19 e minando a confiança nas vacinas para combater a variante ômicron.
Fast tracking vaccines for Omicron covid variant makes absolutely zero sense.
For a virus that is reportedly basically the same as a cold.
Irrational fear that makes money all in the name of the false god “Science.” https://t.co/rDpsuTN2J9
— Marjorie Taylor Greene 🇺🇸 (@mtgreenee) December 4, 2021
Na Austrália, teoria conspiratória diz que ômicron foi “inventada”
A Austrália, que viveu um dos mais severos bloqueios do mundo, a desinformação sobre a ômicron também já toma conta das redes sociais.
Os pesquisadores constataram que postagens públicas no Facebook que mencionam a variante ômicron com o maior número de interações entre 22 e 29 de novembro são do parlamentar George Christensen, da representante da extrema direita Lauren Southern e do ativista antilockdown Topher Field.
Cada uma delas ganhou milhares de interações em 24 horas, identificou a First Draft.
Uma das falsas alegações mais populares é que a ômicron parece “avançada”, citando um gráfico supostamente da OMS, do Fórum Econômico Mundial (WEF) e da Universidade Johns Hopkins com um “plano” predeterminado para o lançamento das variantes.
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Porta-vozes da OMS, WEF e Johns Hopkins disseram à First Draft em declarações por e-mail que eles não estão associados à imagem. O gráfico circulou online pelo menos desde julho, e também foi desmascarado pela Reuters Fact Check , Snopes e India Today .
Outras afirmações falsas entre as postagens do Facebook incluem chamar a variante de “plantada” e culpar as pessoas vacinadas pela existência dela. Há ainda boatos sugerindo equivocadamente que as vacinas enfraqueceriam a imunidade das pessoas.
Em um grupo no aplicativo Telegram com mais de um milhão de membros, a First Draft coletou uma postagem afirmando que as vacinas contra a Covid-19 causaram a variante ômicron.
Julgamento de socialite britânica entra na onda das fake news sobre a ômicron
Até o julgamento da socialite britânica Ghislaine Maxwell, que começou em Nova York no dia 29 de novembro, entrou no roteiro das fake news sobre a variante ômicron.
Maxwell responde a processos pelo seu envolvimento nas atividades de abuso sexual de menores praticadas pelo financista Jeffrey Epstein, seu ex-marido, que cometeu suicídio na prisão antes de ser julgado.
Segundo a First Draft, uma popular teoria da conspiração em torno da ômicron associa o surgimento da nova variante ao julgamento da britânica.
Uum comentário na postagem do australiano Topher Field compartilha uma captura de tela de uma postagem do influenciador conservador Rogan O’Handley, ou DC Draino, que diz:
“Se você acha que a histeria da Omicron que apareceu dois dias antes do início do julgamento de Ghislaine Maxwell é apenas uma ‘coincidência’, então você não sabe para quem ela estava traficando meninas menores de idade.”
Comentários semelhantes igualmente foram vistos pela First Draft em posts do parlamentar George Christensen e em uma postagem do Telegram, que também vincula a Omicron à teoria da conspiração QAnon de um “governo pedófilo tirânico da Covid-19”.
A agência de checagem de fatos expressou preocupação com o que chamou de “lacuna significativa de informações” confiáveis sobre a nova variante. E reforçou a necessidade de mais reportagens fundamentadas e precisas sobre a variante para impedir que fake news sobre a ômicron e as teorias conspiratórias continuem se espalhando.
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