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Talibã prende dono de canal de TV independente no Afeganistão e programação é suspensa

Londres – Apesar das promessas do Talibã de respeitar o trabalho da imprensa no Afeganistão, as ameaças ao jornalismo no país continuam avançando desde que o grupo extremista tomou o poder, em agosto de 2021.

O mais novo caso foi a prisão do dono de uma das principais redes de TV privadas do país, que está com a programação suspensa. 

Haji Aref Noori, proprietário do canal independente Noorin Television, foi capturado no dia 26 de dezembro em sua casa em Cabul por dezenas de homens armados que se identificaram como membros de uma milícia afiliada a um distrito policial. 

Garantias para o trabalho da imprensa no Afeganistão 

Em um vídeo postado nas redes sociais na segunda-feira, um dos filhos do executivo, Roman Noori, disse que forças do grupo extremista invadiram e revistaram a casa de sua família sem um mandado e levaram seu pai para um local desconhecido.

“Não sabemos nada sobre ele e as autoridades não compartilharam nenhuma informação conosco”, afirmou. 

O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) cobrou libertação imediata e garantias para o trabalho da imprensa no Afeganistão. 

O CPJ informou que conversou com outro filho do executivo, Kashef, que confirmou o ocorrido.  

Ele relatou ao CPJ que a família contatou o Distrito Policial 4, que negou envolvimento e encaminhou o caso para a diretoria geral da área de Inteligência do Talibã. 

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A família entrou em contato com a diretoria, mas diz não ter obtido resposta.

O porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, disse à Associação de Jornalistas Independentes do Afeganistão (AIJA) que a prisão não estava relacionada às atividades jornalísticas de Noori. 

“A detenção do proprietário da mídia Aref Noori por uma milícia afiliada ao Talibã representa um sério ataque à mídia independente no Afeganistão”, disse o coordenador do CPJ para a Ásia, Steven Butler. 

“As autoridades devem libertar Noori imediatamente e parar de intimidar vozes independentes no Afeganistão”, acrescentou ele.   

Jornalismo e programação cultural sob o Talibã

Fundada em 2007, a  Noorin TV transmite programação em vídeo e em áudio, por meio de uma estação de rádio com alcance nacional.

Em sua apresentação institucional, diz ser um canal de notícias, desenhos animados, filmes, dramas e música, com objetivo de “integrar a influência ocidental na televisão afegã e criar um marco moderno para as estações de televisão no Afeganistão”. 

Essa proposta, feita antes da tomada do poder pelo Talibã, no período em que o audiovisual e a imprensa no Afeganistão desfrutavam de liberdade, pode ter desagradado ao novos líderes do país. 

Em novembro, um pacote de regras para o setor audiovisual foi anunciado no país, com restrições severas para mulheres. 

Elas não podem mais aparecer em programas ficcionais (como novelas) ou de entretenimento. E as apresentadoras de noticiários ficam obrigadas a cobrir a cabeça com o hijab (véu islâmico). 

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A linha editorial da Noorin TV também pode explicar a prisão de seu proprietário. Segundo o CPJ, a emissora acompanha questões  de segurança no Afeganistão e frequentemente exibe programas de apoio ao partido de oposição Jamiat-e-Islami.

Kashef Noori disse ao CPJ que a emissora interrompeu a programação esta semana devido a problemas técnicos.

No site, a página “Sobre Nós” está em branco. Os vídeos mais recentes – clipes de entrevistas e telejornais – são de 2020. 

Jornalista no Afeganistão é esfaqueado na rua 

Pelo menos 31 jornalistas foram detidos ou presos pelo Talibã desde que o grupo assumiu o poder, em agosto, segundo a associação de jornalistas local. 

Além de prisões, representantes da imprensa no Afeganistão sofrem ameaças e violência.

Na semana passada, quatro homens não identificados espancaram e esfaquearam o jornalista afegão Jawed Yusufi, repórter da agência de notícias independente Ufuq.

Ele cainhava para casa na região de Dashte Barchi, em Cabul, quando foi atacado. 

Os homens socaram e chutaram Yusufi repetidamente e o esfaquearam nas costas várias vezes enquanto ele tentava escapar. O jornalista teve que ser operado. 

Yusufi disse ao Centro de Proteção a Jornalistas que os homens não tiraram nada dele e, durante o ataque, um deles o chamou de “jornalista tolo”.

Após o ataque, Yusufi disse ter ligado para um porta-voz talibã a fim de relatar a violência. As autoridades talibãs culparam “ladrões armados” pela agressão. 

Imprensa dizimada 

O Talibã segue exterminando a mídia independente no Afeganistão.  

Uma pesquisa conjunta da Associação de jornalistas e da organização Repórteres Sem Fronteiras divulgada na semana passada revelou que pelo menos 40% dos meios de comunicação do país desapareceram e mais de 80% das jornalistas afegãs perderam seus empregos nos últimos quatro meses.

 O porta-voz do governo, Zabihullah Mujahid, disse à RSF que o Emirado Islâmico do Afeganistão apoia “a liberdade para a mídia na estrutura definida para preservar os interesses superiores do país, com respeito à Sharia e ao Islã”.

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