MediaTalks em UOL

Príncipe Andrew é ‘cancelado’ das redes e do site real um dia após novo programa sobre abuso sexual

Príncipe Andrew em evento na China representando o Reino Unido em 2019 (divulgação Facebook)

Londres – A operação de relações públicas para proteger a imagem da família real do escândalo de abuso sexual envolvendo o príncipe Andrew teve um novo lance: o cancelamento de suas principais contas de mídia social e o esvaziamento de sua presença no site oficial da monarquia. 

As contas já eram pouco ativas. No Twitter, até a semana passada, o post fixado comunicava seu afastamento de compromissos oficiais, datado de 2019. 

Agora, as contas no Twitter e YouTube foram encerradas, e a do Instagram se tornou privada. A página do Facebook continua ativa, mas segundo os tabloides britânicos, ela já estaria em processo de remoção. 

Príncipe cancelado também no site da monarquia

As contas de mídia social dos principais membros da realeza são administradas pela equipe de comunicação do Palácio de Buckingham. Esses assessores mantêm um bem orquestrado programa de postagens para dar publicidade a fatos como aniversários, compromissos oficiais e manifestações em datas especiais.

O desaparecimento do duque de York das redes não parece ter sido uma decisão pessoal. Teria sido uma iniciativa do Palácio, em reação à repercussão negativa do processo movido contra ele pela americana Virginia Giuffre. 

Embora quase sem atualização, as contas nas mídias sociais poderiam servir para manifestações desfavoráveis de usuários, fora do controle da equipe real.

O sumiço da maioria das redes sociais coincidiu com um perfil atualizado sobre o príncipe Andrew no site oficial da família real. 

A página agora inclui na home page, em destaque, a declaração da rainha de que o duque foi destituído de suas honras militares e patrocínios reais, com toda a lista de honrarias completamente apagada da tela.

Ao clicar no perfil do príncipe, a mesma imagem aparece, e nenhuma outra atividade é mencionada. Há apenas uma declaração curta: 

“Antes de se afastar da vida pública, o Duque de York realizou uma ampla gama de trabalhos públicos, com forte foco econômico e comercial.”

Os perfis dos demais parentes continuam iguais, com longas descrições de seus papéis e de suas realizações como membros sêniores da realeza.

Há menos de uma semana, Andrew foi destituído dos títulos e cargos que ocupava desde a participação como oficial na Guerra das Malvinas. Foi o primeiro ato concreto do Palácio de Buckingham para dissociar sua imagem do caso e isolar o parente problemático.

Leia mais 

Príncipe Andrew é forçado a devolver cargos militares à rainha e não usará mais título “Sua Alteza Real”

Mais exposição negativa em programa na TV 

O cancelamento veio um dia depois de um documentário exibido pela emissora ITV na noite de quarta-feira. Na transmissão, mais personagens apareceram para comentar sobre o passado do Príncipe Andrew e revelar hábitos pessoais incomuns. 

Um desses hábitos foi ridicularizado nas redes sociais e por alguns jornais. Um ex-funcionário do Palácio, Paul Page, contou que Andrew, já na idade adulta, tinha uns 50 ou 60 bichinhos de pelúcia, e que gritava se as empregadas bagunçassem sua coleção. 

O mais grave, porém, foram as novas evidências das atividades envolvendo jovens, algumas menores de idade. 

Uma das entrevistadas que tocou no assunto foi Victoria Hervey, de 45 anos, ex-modelo de família da aristocracia britânica, que já namorou o duque de York. 

Ela contou que Ghislaine Maxwell a usou como ‘isca’ para entreter os amigos de Epstein. Hervey disse que o pedófilo utilizava a ex-socialite para “pescar’ meninas para ele e seus amigos, entre eles Andrew. 

E Andrew não foi o único figurão. Hervey afirmou que Jeffery Epstein e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton eram ‘como irmãos’, sugerindo que o político pode ter participado de algumas das festas com menores. 

O programa foi assistido por mais de 3,3 milhões de espectadores somente na primeira exibição, e continua disponível na internet.

Dois entrevistados sugeriram que Andrew e Maxwell tiveram um relacionamento no passado, pela forma calorosa com que se tratavam em público. 

Julgamento do príncipe Andrew trará mais exposição

A situação do príncipe Andrew se complicou depois que o pedido de arquivamento do processo movido pela americana Virginia Giuffre foi rejeitado por um juiz de Nova York no início deste mês.

A autora do processo afirma ter sido traficada para Londres para manter relações sexuais com o duque de York quando era menor de idade segundo os parâmetros da lei americana. Na foto, os dois aparecem juntos na casa de Ghislaine Maxwell, que aparece ao fundo. 

O duque ainda tem a possibilidade de fazer um acordo extrajudicial e pagar uma indenização para encerrar o processo, mas nesse caso não teria a chance de limpar sua biografia.

O julgamento deve acontecer no segundo semestre de 2022, e até lá muita exposição negativa deve acontecer.

As denúncias envolvendo a amizade do Príncipe Andrew com o pedófilo Jeffrey Epstein se arrastam desde 2019. Epstein cometeu suicídio na prisão em Nova York, antes de ser julgado pelos crimes a ele atribuídos. 

No fim de 2021, a ex-socialite Ghislaine Maxwell, foi condenada nos EUA a 70 anos de prisão. Ex-companheira de Epstein, ela foi considerada culpada de aliciar jovens para o companheiro e seus amigos, 

Amiga de Andrew, foi Maxwell quem apresentou o príncipe ao milionário dono de um jatinho apelidado de “Lolita Express”. O nome faz alusão às jovens que eram transportadas para as diversas propriedades do milionário ao redor do mundo. 

Popularidade de Andrew despenca 

O movimento da família real de tentar se isolar do príncipe Andrew não pode ser considerado pura maldade, a julgar pelas pesquisas.

Ele ocupa atualmente o último lugar em aprovação entre os 15 membros do núcleo principal da família real, no acompanhamento regular feito pelo instituto de pesquisas YouGov. 

A parcela dos que gostam dele é de 12%. Os que não gostam passam de 62%. Entre as mulheres, a desaprovação é ainda maior. Para piorar a situação, Andrew é conhecido por 92% da população, tornando difícil passar despercebido. 

Aos 95 anos e completando este ano seu 70º aniversário no trono, Elizabeth II continua com altas taxas de aprovação, na casa de 76%. Sua alta reputação é capaz de proteger sua imagem até do fato de ter demorado tanto a tomar uma atitude contra o filho encrencado. 

Isso tem sido tratado como uma “atitude de mãe”. Porém, seus sucessores não desfrutam da mesma reserva de boa vontade. 

O primeiro na linha de sucessão, Charles, é aprovado por apenas 45% dos súditos. Ele figura em 7º lugar na lista dos 15 pesquisados – um resquício do abalo causado pela separação turbulenta da adorada princesa Diana. 

O que o Palácio de Buckingham faz agora é uma estratégia de mitigação de danos, com o máximo de afastamento possível do Príncipe Andrew.

O desafio é que nada disso apaga o que passou. E no passado recente, quando as denúncias já eram públicas, Andrew foi sendo tolerado e acomodado, inclusive com a ajuda da realeza para o pagamento de suas despesas jurídicas.

Leia também 

Crises simultâneas no Reino Unido ameaçam cargo do primeiro-ministro e futuro da monarquia

Sair da versão mobile