O CEO global da CNN, Jeff Zucker, anunciou sua saída da emissora norte-americana nesta quarta-feira (2), após o relacionamento amoroso com uma colega de trabalho vir à tona. O romance foi descoberto durante as investigações sobre o caso do âncora Chris Cuomo.

“Como parte da investigação sobre a permanência de Chris Cuomo na CNN, me perguntaram sobre um relacionamento consensual com uma colega, alguém com quem trabalhei por mais de 20 anos”, disse Zucker aos funcionários da rede em comunicado divulgado pelo site CNN Business.

“Reconheci que o relacionamento evoluiu nos últimos anos. Deveria ter divulgado quando começou, mas não o fiz. Eu errei . Como resultado, estou me demitindo hoje.”

Relacionamento do CEO com diretora de marketing

Em 2021, o executivo conduziu o complicado caso do âncora Chris Cuomo, que acabou sendo desligado da rede por comportamento considerado antiético. Ele tinha ajudado o irmão, o então governador de Nova York, a se defender das acusações de assédio sexual. 

Dessa vez o próprio Zucker, que estava no cargo desde 2013, foi o pivô de um problema de conduta.

O CEO da CNN não revelou o nome da colega na nota enviada aos funcionários. No entanto, segundo o CNN Business, o relacionamento amoroso do ex-chefão da emissora é com Allison Gollust, vice-presidente executiva e diretora de marketing da CNN. Ela permanece no cargo.

Em comunicado assinado por Allison, a profissional confirma o relacionamento e lamenta por eles não o terem revelado antes.

“Jeff e eu somos amigos íntimos e parceiros profissionais há mais de 20 anos.”

“Recentemente, nosso relacionamento mudou durante a pandemia. Lamento não termos divulgado no momento certo. Estou incrivelmente orgulhosa do meu tempo na CNN e ansiosa para continuar o excelente trabalho que fazemos todos os dias”, diz o texto enviado internamente.

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Zucker e Gollust começaram a trabalhar juntos na NBC, em 1998. Eles cresceram profissionalmente na rede concorrente da CNN juntos e, quando Zucker ingressou na CNN, Gollust esteve entre suas primeiras contratações.

Pouco antes de ir para a CNN, Gollust havia trabalhado brevemente como diretora de comunicação de Andrew Cuomo — irmão do ex-âncora do canal Chris Cuomo.

Apesar da sugestão de que o envolvimento teria começado durante a crise da Covid-19, fontes da CNN disseram que o caso era anterior. 

O jornal britânico Daily Mail informou que eles moravam no mesmo prédio de apartamentos com suas respectivas famílias e que agora ambos agora estão divorciados. 

O email enviado pelo CEO da CNN aos funcionários foi tuitado pelo jornalista da própria rede especializado em mídia Brian Stelter.

CEO da CNN sai após polêmica com Chris Cuomo

O anúncio de Jeff Zucker veio menos de dois meses depois que ele demitiu o âncora do horário nobre Chris Cuomo por aconselhar indevidamente seu irmão, o então governador de Nova York Andrew Cuomo, sobre como lidar com alegações de má conduta sexual.

A demissão já era esperada – e para alguns demorou mais do que deveria.

No meio do ano o CEO da CNN havia considerado satisfatórias as explicações dadas pelo âncora a respeito da natureza de sua ajuda ao irmão, e perdoou o que julgou um caso difícil por envolver a família. 

Em dezembro, Cuomo foi formalmente desligado dos quadros da empresa, seis meses depois de ser envolvido no escândalo que levou à renúncia de seu irmão do cargo de governador de Nova York (EUA).

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Um comunicado da CNN na época disse que uma “respeitada firma de advocacia” foi contratada para investigar os esforços de Chris Cuomo para ajudar seu irmão político.

Mas enquanto essa revisão acontecia, “novas informações vieram à tona”, levando a rede a rescindir seu contrato, “com efeito imediato”.

Cuomo ainda tenta receber US$ 18 milhões da CNN – o restante de seu contrato – mas Zucker teria se recusado a pagar, citando o conflito de interesses entre o relacionamento de Chris com seu irmão e suas reportagens no ar para a CNN.

Segundo o site Politico, a equipe jurídica de Cuomo, que ainda está negociando sua saída da rede, sinalizou a relação entre Zucker e Gollust.

Um repórter da startup de mídia Puck News também afirmou que a CNN recebeu uma carta dos advogados de Cuomo pedindo que todas as comunicações entre Zucker, Gollust e Cuomo fossem preservadas.

Efeitos para a CNN 

O momento dessa rutpura não é bom para a CNN nem para a indústria de mídia.

A emissora perdeu audiência depois que Donald Trump deixou o cargo, pois o clima de guerra entre republicanos e democratas amainou com a posse de Joe Biden.

O caso de Chris Cuomo deixou a empresa sob os holofotes durante boa parte do ano passado, e muitos criticaram uma suposta proteção ao âncora, que liderava um programa de enorme audiência e repercussão. 

Episódios como esses são um presente para os que se dedicam a desconstruir a credibilidade da grande imprensa, como Donald Trump, alvo regular de Chris Cuomo e da CNN.

O ex-presidente não perdeu a oportunidade de mandar seu recado.

Como tem feito para burlar o banimento das redes sociais, ele mais uma vez usou uma conta alheia no Twitter para postar sua opinião sobre o caso, tripudiando sobre a baixa audiência da rede, que atribuiu ao “desprezível de classe mundial” Zucker. 

A saída abrupta do executivo pode também ter impactos sobre os planos futuros da CCN. 

A rede é uma das jóias da coroa da WarnerMedia, que vai se  fundir com a Discovery. E prepara o lançamento do CNN Plus, um serviço de streaming, projeto que tinha Jeff Zucker como um dos maiores entusiastas. 

Zucker havia dito no ano passado que o CNN Plus “ofereceria aos consumidores um produto de streaming que aumenta o alcance e o escopo da marca CNN de uma maneira que ninguém mais está fazendo. Não existe nada assim.” 

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Com sua saída, outro executivo terá a missão de concluir o que ele começou a construir, em mais um episódio da longa série de líderes empresariais com carreiras interrompidas devido a falhas de conduta. 

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