Londres – Após protestos até do governo dos EUA, Israel devolveu na noite de terça-feira (22) a câmera e os equipamentos de geração ao vivo que haviam sido confiscados da Associated Press em uma base no sul de Israel, permitindo que as transmissões de imagens de Gaza fossem retomadas na manhã desta quarta-feira, informou a agência de notícias em nota. 

A ação do governo israelense foi ousada: a abordagem foi feita durante uma transmissão ao vivo na cidade de Sderot, interrompida pelos agentes do Ministério das Comunicações com o confisco. A agência divulgou as cenas da visita, mostrando a recusa dos funcionários em suspenderem a transmissão. 

De acordo com a AP, Israel justificou a decisão dizendo que a agência violou a lei que baniu a rede árabe Al Jazeera, uma vez que a rede de propriedade do governo do Catar está entre os milhares de clientes que recebem suas transmissões ao vivo, em contratos de fornecimento de conteúdo jornalístico. 

“A decisão de Israel de restringir o trabalho da AP  é extremamente preocupante e um claro ataque à liberdade de imprensa”, disse Phil Chetwynd, diretor global de notícias da AFP.

Pouco antes de o equipamento ser apreendido, a AP transmitia imagens do norte de Gaza, alvo de ataques aéreos e de onde relatos de fome da população estão sendo divulgados pela mídia internacional.

Os representantes do Ministério das Comunicações entregaram à AP um documento assinado pelo Ministro das Comunicações, Shlomo Karhi, alegando violação da lei de emissoras estrangeiras do país. 

AAP transmitiu as imagens da apreensão dos equipamentos. É possível ouvir o momento em que o microfone é descontectado. 

Reações fazem Israel devolver equipamentos à Associated Press 

Lauren Easton, vice-presidente de comunicações corporativas da AP, condenou a medida e salientou que a interrupção da transmissão não se baseou no conteúdo, mas sim no “uso abusivo por parte do governo israelense da nova lei de emissoras estrangeiras do país”.

A Casa Branca classificou apreensão dos equipamentos da AP por Israel como “preocupante”. A secretária de imprensa do governo dos EUA disse que o país “continua acreditando firmemente que os jornalistas tenham as condições e o direito de realizar seu trabalho”.

Após as reações negativas, o Ministro anunciou via Twitter que estava devolvendo os equipamentos, e informou que o Ministério da Defesa realizará uma revisão do posicionamento dos meios de comunicação de vídeo ao vivo em Gaza.

AP afirma que cumpre determinações de Israel 

Em seu comunicado, a AP afirma que cumpre as regras de censura militar de Israel, que proíbem a transmissão de detalhes como movimentos de tropas que possam colocar os soldados em perigo.

“A imagem ao vivo geralmente mostra fumaça subindo sobre o território sitiado”, explicou a agência. Era o caso da imagem no ar quando os agentes chegaram ao local. 

O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) se disse “profundamente perturbado” com a apreensão de equipamento de transmissão usado pela Associated Press, “um meio de comunicação internacional que fornece cobertura crucial da guerra em curso entre Israel e Gaza”. 

““Israel iniciou a sua campanha de silenciamento dos meios de comunicação proibindo a Al Jazeera e agora está usando isso como desculpa para obstruir a AP”, criticou Carlos Martinez de la Serna, diretor da organização.

No início deste mês, Israel invadiu e fechou os escritórios da Al Jazeera e proibiu o funcionamento dos canais da rede na internet e suas transmissões.