Londres – As grandes redes sociais passaram 2001 apanhando por problemas como critĆ©rios de moderaĆ§Ć£o, denĆŗncias sobre males causados a jovens e descontrole sobre as fake news, mas o movimento de Neil Young ao tirar suas mĆŗsicas do Spotify abriu outra avenida no debate.
Menos expostas do que as Big Techs como Facebook, Instagram, Twitter e TikTok, os serviƧos de mensagem como WhatsApp e Telegram e plataformas de games e de Ć”udio foram mencionados aqui e ali em alguns relatĆ³rios como ambiente de desinformaĆ§Ć£o.
Mas vinham conseguindo escapar dos holofotes.
Neil Young, carrasco do Spotify
Em 2022 a histĆ³ria comeƧou diferente. A crise do Spotify depois da confusĆ£o armada por Neil Young em protesto contra o podcast do comediante Joe Rogan tem o potencial de chamar a atenĆ§Ć£o para o que poucos estĆ£o observando.
Ao tirar canƧƵes gigante de Ć”udio, abrindo mĆ£o de dinheiro e visibilidade, Young foi na contramĆ£o de outro astro, Eric Clapton.
Em 2021, o guitarrista virou objeto de crĆticas ao lanƧar uma canĆ§Ć£o antivacina e anunciar que nĆ£o faria shows em locais que exigissem passaporte de imunizaĆ§Ć£o.
NĆ£o teve muito apoio no mundo artĆstico, ao contrĆ”rio do que aconteceu com Young, logo seguido por seus companheiros de banda, David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash, e por Joni Mitchel.
Spotify e outras redes defendem liberdade de expressĆ£o
Nesse debate, as redes sociais apoiam-se na tese da liberdade de expressĆ£o, invocada regularmente por Facebook e Twitter para justificar decisƵes polĆŖmicas de moderaĆ§Ć£o.
SĆ³ tem um problema: no caso do podcast que virou motivo da saĆda de Neil Young do Spotify, a tese nĆ£o se sustenta.
O programa de Rogan, comprado por uma fortuna pelo prĆ³prio Spotify, nĆ£o expressa opiniĆ£o, assim como outros similares que habitam a plataforma. Ele afronta o consenso cientifico validado por estudos das maiores universidades do mundo e pela OMS.
O reality check da BBC destacou quatro barbaridades sustentadas por Rogan e seus convidados que ajudam a explicar a recusa de muita gente em tomar a vacina. A audiĆŖncia do programa Ć© estimada em 11 milhƵes de pessoas.
Ao deixar Neil Young sair em vez de remover Rogan, o Spotify arriscou sua reputaĆ§Ć£o, dando elementos aos que atribuem a decisĆ£o ao interesse comercial,sem responsabilidade perante a sociedade.
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Royal Society: desinformaĆ§Ć£o nos serviƧos de mensagem
O episĆ³dio tem o potencial de jogar mais luz sobre a necessidade de controle sobre o que se alastra discretamente em mĆdias digitais menos visadas, como Ć”udio, serviƧos de mensagem e games.
Um estudo publicado semana passada pela Royal Society de Londres salienta esse ponto.
O trabalho diz que a soluĆ§Ć£o para a desinformaĆ§Ć£o cientĆfica nĆ£o estĆ” apenas em derrubar postagens com fake news, e sim em expor internautas a fatos para neutralizar teorias conspiratĆ³rias. E afirma que o perigo maior mora no submundo dos aplicativos de mensagens.
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Games, porta de entrada no radicalismo
Outro flanco sĆ£o os jogos. Em 2021 o ISD (Institute for Strategic Dialogue), do Reino Unido, mapeou o uso de plataformas de games pela extrema direita para propagar neonazismo e discriminaĆ§Ć£o de muƧulmanos, por meio das comunidades de jogadores.
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Por ali tambƩm circulam fake news distantes do radar de quem apenas olha para Instagram, Facebook, Twitter e TikTok.
E com alcance poderoso: o ISD afirma que a indĆŗstria de games supera a da mĆŗsica e do cinema, com mais de 2,8 bilhƵes de jogadores no mundo.
Assim como Spotify, Substack abriga desinformaĆ§Ć£o
O Substack Ć© mais um canal que vem despertando atenĆ§Ć£o de organizaƧƵes preocupadas com fake news.
A ONG britĆ¢nica Center for Countering Digital Hate lanƧou na semana passada uma campanha denunciando lucro de pelo menos 2,5 milhƵes com apenas cinco newsletters de figuras carimbadas do negacionismo, como Joe Mercola e o ex-repĆ³rter do New York Times Alex Berenson, enxotado do Twitter em 2021.
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O Substack fica com 10% e os autores garantem 90%, todos enriquecendo com a desinformaĆ§Ć£o, como acusou a CCDH.
Por enquanto, o movimento contra o Substack Ć© restrito, e ele nĆ£o tem a popularidade do Spotify nem um carrasco como Neil Young para ganhar manchetes pelo mundo.
JĆ” o streaming de Ć”udio estĆ” mais exposto, por suas dimensƵes planetĆ”rias. A plataforma pode nĆ£o perder receita significativa se deixar alguns talentos partirem, mas pode perder em reputaĆ§Ć£o.
E reputaĆ§Ć£o vale dinheiro, o que Ć© atestado pela queda no valor das aƧƵes do Spotify depois do episĆ³dio.
Investidor nĆ£o gosta de confusĆ£o que possa afastar anunciantes e clientes.
Prova disso Ć© o Facebook, castigado em 2021, e que esta semana anunciou perdas e reduĆ§Ć£o de usuĆ”rios pela primeira vez na histĆ³ria.