Londres – As mortes de jornalistas durante o trabalho ou vítimas de crimes em represália a reportagens contendo denúncias continuam fora de controle no mundo, com três novos casos nos primeiros dez dias de fevereiro.
O Brasil, que não havia registrado nenhuma morte violenta de jornalista em 2021, entrou este ano para a lista de fatalidades com o caso de Givanildo Oliveira, assassinado em Fortaleza no dia 7 de fevereiro.
As outras duas vítimas são o indiano Rohit Biswal e o mexicano Heber López, quinto profissional de imprensa morto no país em 2021.
Mais crimes contra jornalistas, menos incidentes em guerras
Dois dos casos seguem o novo padrão nos crimes contra jornalistas observado em 2021, segundo o relatório divulgado esta semana pela Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês).
O documento aponta que 75% das mortes de profissionais da imprensa em 2021 foram resultado de ataques direcionados, e não fruto da cobertura em zonas de conflito, com os correspondentes de guerra atingidos acidentalmente em bombardeios ou fogo cruzado como era comum no passado.
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Crime registrado por câmeras no Brasil
Esse foi o caso do brasileiro Givanildo Oliveira, conhecido como Gigi, criador do site de jornalismo independente Pirambu News, na periferia de Fortaleza.
Ele foi morto com tiros na cabeça no dia 7 de fevereiro. O crime ocorreu em uma avenida próxima à sua casa e foi registrado por câmeras de segurança.
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A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, na sigla em espanhol) emitiu uma nota protestando pelo ocorrido. Jorge Canahuati, presidente da SIP, comentou o caso.
“Expressamos nossa solidariedade aos familiares e colegas do jornalista. Pedimos às autoridades que realizem suas investigações com urgência para descobrir se o motivo do assassinato estava ligado ao exercício do jornalismo”.
Oliveira publicava notícias relacionadas a crimes na região em que morava. Após sua morte, o portal anunciou que irá deixar de publicar notícias policiais.
No México, quinto crime contra jornalista em 2021
Na noite de quinta-feira (10), o jornalista Heber López Vázquez tornou-se o quinto jornalista a perder a vida no México este ano. Em janeiro tinham sido assassinados José Luiz Cabezas, Margarito Esquivel, Lourdes Maldonado e Roberto Toledo.
Vázquez trabalhou em vários meios de comunicação impressos, televisão e rádio na região de Oxaca, sul do México, antes de fundar seu próprio site, o Noticias Web.
O jornalista denunciava irregularidades praticadas por governos e funcionários públicos da região em suas reportagens. O Ministério Público anunciou a prisão de dois homens associados ao crime.
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A ousadia da violência contra a imprensa no México atinge até as famílias dos profissionais.
No dia 7 de fevereiro, Marco Ernesto Islas Flores foi morto a tiros em Tijuana, Baja California. Ele era filho do jornalista Marco Antonio Islas Parra.
“Há alguns minutos executaram meu filho Marcos Ernesto com quatro tiros perto da minha casa…”
Apesar de Parra não estar no momento atuando na imprensa, a Federação Internacional dos Jornalistas listou o crime como sendo ligado ao seu trabalho no passado.
Na Índia, morte acidental do jornalista a serviço
A Índia tem sido palco de uma sequência de violações à liberdade de imprensa, com atos praticados por insatisfeitos com a cobertura da mídia independente e ações do próprio governo, como assédio judicial e operações policiais em redações.
Em novembro, o repórter Budhinath Jha, 22 anos, foi encontrado morto no distrito de Madhubani, em Bihar, no nordeste da Índia. Ele investigada clínicas ilegais na região.
Mas o caso do indiano Rohit Biswal, que morreu no dia 5 de fevereiro, aparenta não ter sido um crime direcionado, embora exponha os riscos da profissão no país.
Ele trabalhava no jornal local Dharitri e estava fotografando cartazes colocados por rebeldes maoístas no distrito de Kalandhi, em Odisha.
Segundo o jornal The Indian Express, um artefato explosivo improvisado explodiu, matando o jornalista no local.
Os rebeldes costumam esconder bombas nesses cartazes, que são desarmadas por esquadrões antibomba. Mas Biswal chegou antes e acabou atingido.
Steven Butler, coordenador do Comitê de Proteção dos Jornalistas (COPJ) para a Ásia, cobra das autoridades indianas responsabilização dos culpados pela morte do jornalista.
“O assassinato de Rohit Biswal […) demonstra os perigos contínuos que os jornalistas enfrentam ao cobrir atividades maoístas.”
A luta contra a impunidade
As entidades de defesa da liberdade de imprensa protestam contra a impunidade dos crimes contra jornalistas. Segundo o Comitê para Proteção dos Jornalistas, 81% dos casos não resultaram em punição nos últimos dez anos.
As exceções acontecem quando o crime gera grande repercussão. Esse foi o caso do atentado contra a mexicana Lourdes Maldonado, assassinada com tiros no rosto na porta de sua casa em janeiro.
Duas semanas antes do crime, Maldonado havia vencido uma ação trabalhista contra uma emissora de TV de propriedade de um ex-governador, que negou ligação com o atentado.
Ela foi a terceira profissional de imprensa morta nas primeiras três semanas de janeiro. O crime desencadeou um movimento contra a impunidade, com protestos em várias cidades do país e nos Estados Unidos.
Na semana passada, a Secretaria de Segurança e Proteção ao Cidadão (SSPC) do México declarou em entrevista coletiva que foram presas três pessoas que seriam responsáveis pelo assassinato da jornalista. Entretanto, o mandante segue desconhecido.
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