A coalizão global de jornalismo ambiental Covering Climate Now faz um alerta: “a era da emergência climática, todo ano é um ano de tudo ou nada.”
A CCNow lembra que o papel dos jornalistas é chamar a atenção do público para o que precisa ser feito e como as transformações podem ser alcançadas, bem como cobrar responsabilidades de governos, corporações e outros que detêm poder para realizar mudanças – inclusive no Brasil.
Para ajudar na tarefa, a rede fez uma lista de importantes acontecimentos relacionados às mudanças climáticas este ano e dicas para cobrir o tema. Alguns fatos referem-se aos Estados Unidos, onde a organização está sediada, mas podem ter reflexos globais.
Retrocesso da democracia e mudança climática
É possível neutralizar a emergência climática sem neutralizar a crise global da democracia?
Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump e seus seguidores, ainda abraçando a Grande Mentira de que a eleição de 2020 foi roubada, estão ameaçando retaliação e violência contra funcionários do sistema eleitoral e tentando mudar as regras de votação para as próximas eleições.
Se eles prevalecerem, “não há chance de o governo dos EUA adotar as ações climáticas necessária para evitar uma catástrofe global”, escreveu o diretor executivo do CCNow, Mark Hertsgaard em artigo publicado no The Guardian.
As muitas associações entre o clima e as crises da democracia em todo o mundo exigem cobertura de alto nível da imprensa.
E representam uma oportunidade ideal para repórteres especializados em clima colaborarem com seus colegas em editorias como política e internacional.
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Direito de protestar
Outra pedra angular da democracia, o direito de protestar, também está ameaçada. Os legisladores que pressionam as leis propostas no Reino Unido para restringir os protestos admitiram que foram motivados em parte pelas recentes manifestações do grupo Extinction Rebellion.
O mesmo parece estar acontecendo nos EUA, onde os advogados que defendem os protetores de água liderados por indígenas que protestam contra o oleoduto da Linha 3 em Minnesota dizem que muitas das acusações contra seus clientes eram excessivamente agressivas e pretendiam enviar uma mensagem clara.
Dezenas de leis que restringem o direito de protesto foram promulgadas nos EUA desde 2017, e há muitas outras pendentes .
O jornalismo ambiental deve alertar o público sobre tais medidas e pressionar governos sobre a justificativa para elas.
Política climática dos EUA na pauta do jornalismo ambiental
Se o mundo quiser “manter 1,5°C vivo”, como prometeu a cúpula da COP26 em novembro passado, os maiores emissores do mundo devem acelerar drasticamente a transição dos combustíveis fósseis.
Os meios de comunicação podem ajudar destacando o que os governos em Washington, Pequim, Nova Délhi, Bruxelas e Brasília estão – ou não – fazendo.
Nos EUA, isso significa foco sustentado no esforço do presidente Joe Biden para aprovar o Build Back Better Act e quaisquer iniciativas relacionadas que surjam.
Os legisladores de ambos os partidos – especialmente os republicanos, cuja oposição cerrada bloqueou a legislação climática até agora – devem ser pressionados sobre o que eles apóiam para salvar os jovens de um planeta inabitável.
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Alta no preço da energia solar
Também vale a pena quem se dedica ao jornalismo ambiental acompanhar um processo na Suprema Corte dos EUA que pode destruir a autoridade da Agência de Proteção Ambiental de regular as emissões de gases de efeito estufa.
A maioria conservadora de 6 a 3 do tribunal preocupa os defensores do clima, sinalizando que a Lei do Ar Limpo, a base da regulamentação ambiental dos EUA por 50 anos, possa estar em perigo.
Enquanto isso, autoridades da Califórnia e da Flórida querem tornar mais cara a instalação de sistemas solares nos telhados. Sim, você leu certo.
Com os incêndios florestais recordes e o aumento do nível do mar já atingindo dois dos estados mais populosos dos EUA, alguns burocratas parecem achar que o excesso de energia solar é uma coisa ruim.
Matérias consistentes investigando como as empresas de serviços públicos persuadiram os reguladores a abraçar essa ideia absurda são fundamentais.
Jornalismo ambiental de soluções
Outra prioridade para 2022 deve ser o jornalismo de soluções – que, para ser claro, não é torcida ou ativismo, mas simplesmente contar a história inteira: tanto explicando um determinado problema quanto examinando possíveis soluções.
Uma grande oportunidade será o leilão do Departamento do Interior dos EUA de 480.000 acres em seis áreas de arrendamento na costa de Nova Jersey – a maior área já oferecida em um único leilão – para o desenvolvimento de energia eólica.
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Ciência do clima
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas lança em 28 de fevereiro a segunda parte de seu Sexto Relatório de Avaliação.
O foco será nos impactos, adaptação e vulnerabilidade das mudanças climáticas. No segundo trimestre deste ano, a terceira parte do documento, contendo respostas e soluções para as mudanças climáticas, será lançada.
Jornalismo ambiental de olho na COP27
Seguindo as promessas dos países na COP26, os jornalistas que acompanham a crise ambiental deveriam estar se perguntando: os governos estão melhorando seus planos de ação climática o suficiente entre agora e a COP27 em novembro para manter o 1,5 graus Celsius vivo?
Mais de 100 países se comprometeram em Glasgow a reduzir as emissões de metano, o que a ciência nos diz que teria o efeito mais rápido e maior na desaceleração do aumento da temperatura global.
Enquanto os principais emissores – China, Rússia e Índia – não assinaram, os EUA e a China divulgaram uma declaração conjunta para aumentar a cooperação sobre mudanças climáticas, inclusive sobre metano.
Os governos também devem ser responsabilizados por seus compromissos da COP26 para acabar com o desmatamento e abandonar o carvão.
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