O ex-presidente dos EUA Donald Trump perdeu na justiça sua tentativa de contra-processar a jornalista E. Jean Carroll, que o acusa de estupro que teria ocorrido na década de 1990.
Em decisão divulgada na sexta-feira (11), o juiz distrital Lewis Kaplan disse que as tentativas contínuas de Trump de adiar o caso de 2019 processando a acusadora eram “fúteis” e de “má-fé”.
Há três anos, a ex-colunista da revista americana Elle E. Jean Carroll processou Trump, então presidente dos EUA, acusando-o de estuprá-la em um provador da loja de departamento Bergdorf Goodman, em Nova York, em 1996.
Trump foi acusado de estupro em 2019
O caso de E. Jean Carroll, hoje com 78 anos, foi revelado em reportagem de capa da revista New York, publicada em junho de 2019, com a manchete “Isto é o que eu estava usando há 23 anos quando Donald Trump me atacou num provador da Bergdorf Goodm.”
Trump negou as acusações e disse que nunca conheceu Carroll, apesar de ela ter divulgado uma foto dos dois num evento.
In next week's cover story, E. Jean Carroll shares for the first time her violent encounter with Donald Trump. The coatdress she was wearing that day has hung in her closet ever since; she wore it again for the first time for her portrait with New York https://t.co/yPaLsRoVcH pic.twitter.com/Tx2HAzt1mi
— New York Magazine (@NYMag) June 21, 2019
Em novembro de 2019, Carroll processou Trump por difamação após as declarações que ele fez em resposta às alegações de estupro.
As falas de Trump, segundo a jornalista, fizeram com que ela “sofresse danos reputacionais, emocionais e profissionais”.
Carroll originalmente entrou com seu processo no tribunal estadual, mas o caso foi para a esfera federal em setembro de 2020, depois que o Departamento de Justiça (DOJ) fez uma intervenção para substituir a equipe jurídica pessoal de Trump por advogados do governo.
No ano passado, o DOJ indicou que continuaria representando Trump, apesar do presidente Joe Biden ter criticado anteriormente a medida para financiar seu litígio.
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Trump perde em tentativa de processar acusadora de estupro
Em resposta ao processo de difamação movido por Carroll, Donald Trump entrou na Justiça contra ela.
Na decisão do juiz Lewis Kaplan, o ex-presidente foi impedido de processar a jornalista — estratégia jurídica usada, de acordo o magistrado, para prolongar ainda mais o processo.
“As táticas de litígio do réu, qualquer que seja sua intenção, atrasaram o caso por período maior que o necessário”, escreveu o juiz Kaplan.
“Conceder permissão para processar sem considerar a futilidade da emenda proposta desnecessariamente tornaria uma situação lamentável pior, abrindo novos caminhos para um atraso significativo”.
Em um comunicado divulgado após a decisão, a advogada de Carroll, Roberta Kaplan, observou que o juiz afirmou que este caso “poderia ter sido julgado e decidido – de uma forma ou de outra – há muito tempo”.
“Minha cliente E. Jean Carroll e eu não poderíamos concordar mais”, disse Kaplan.
À agência Reuters, Alina Habba, advogada de Trump, declarou: “Embora estejamos decepcionados com a decisão do tribunal, estamos ansiosos para litigar esta ação e provar diante da corte que as acusações não têm absolutamente nenhuma base na lei ou nos fatos”.
Friends, stand by for news about Carroll v. Trump . . . pic.twitter.com/qcQTwdQvxw
— E. Jean Carroll (@ejeancarroll) March 11, 2022
Em batalha digital, Trump patina com nova plataforma
Paralelamente à acusação de estupro, Donald Trump também trava uma batalha para ascender sua rede social, a Truth Social.
Erros de cadastro e acesso marcaram a primeira semana da plataforma, lançada oficialmente em 21 de fevereiro. Os deslizes tecnológicos não foram o único problema.
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicou um posicionamento apontando que a plataforma criada por Trump pretende claramente servir a uma posição política, portanto, requer atenção do governo e da imprensa dos EUA.
E uma empresa de painéis solares britânica chamada Trailar acusou a Truth Social de copiar sua logomarca tão logo o aplicativo ficou disponível na Apple Store. Os dois logotipos usam blocos formando a letra T.
A RSF afirma que todas as plataformas online e mídias sociais devem ser obrigadas a observar a neutralidade política, ideológica e religiosa, conforme definido na Parceria Internacional sobre Informação e Democracia, criada a partir de uma iniciativa da organização em conjunto com governos de 45 países.
Todos devem ser livres para dizer o que quiserem na arena pública online, mas a arquitetura dela deve ser livre de preconceitos. Este é um pré-requisito essencial para uma arena de informação democrática.
A entidade destaca que a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores de Trump foi marcada na rede social conservadora Parler, serviço fundado por um aliado do ex-presidente.
Isso mostra que alimentar os cidadãos com notícias e informações ideologicamente tendenciosas representa um sério perigo para a democracia.
E é isso que Trump pretende fomentar com a Truth Social, alerta a entidade.
No anúncio do lançamento da plataforma, a TMTG declarou que o objetivo era “criar um rival para o consórcio de mídia liberal – “liberal” aqui significando “partido pró-democrático” – e enfrentar as big techs que “usaram seu poder unilateral para silenciar vozes opostas na América”.
“Esta é uma tendência que temos visto ultimamente”, disse Vincent Berthier, especialista em tecnologia da RSF. “Esse tipo de plataforma oferece aos internautas a possibilidade de ingressar em uma comunidade homogênea de pessoas que pensam como eles.”
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