Londres – O grande homenageado deste fim de semana na cerimônia do Oscar, O Poderoso Chefão, não só é uma obra-prima cinematográfica que continua atual aos 50 anos de idade.
Muito mais do que uma produção que elevou a outro patamar os filmes de máfia e gângsters, a trilogia é até hoje revisitada por suas muitas lições, que podem servir tanto para a vida pessoal ou profissional.
Suas cenas revelam segredos sobre poder e liderança, planejamento, lealdade, família, formação de equipes, a arte de negociar e como atingir seus objetivos – ainda que em alguns momentos abordando os aspectos mais sombrios da natureza humana.
O que o Poderoso Chefão tem a ensinar
A série dirigida por Francis Ford Copolla inspirada no livro de Mario Puzo estreou em 1972, com Marlon Brando no papel de Don Vito, o chefe da família mafiosa Corleone, em Nova York. Em 1974 e em 1990 foram lançadas as continuações da franquia.
A franquia foi indicada a dez Oscars e venceu em três, incluindo melhor filme e melhor ator para Brando. Para comemorar os 50 anos, o filme está sendo relançado nas telonas, remasterizado em 4k.
Das diversas lições, o canal The Culture Mafia selecionou em um vídeo as dez que considera mais marcantes:
- Nunca deixe que seus subordinados assumam posição contra você
- Crie alianças de longo prazo
- Pense conforme as pessoas em torno de você
- Nunca odeie seus inimigos
- Cerque-se das pessoas certas
- Nunca deixe ninguém saber o que você está pensando
- Nunca seja descuidado
- Faça ofertas que não podem ser recusadas
- Leia a linguagem corporal do interlocutor
- Grandes homens não nascem grandes, eles se tornam grandes
Entenda cada um deles.
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Nunca deixe que seus subordinados assumam uma posição contra você
Uma das cenas icônicas da trilogia é a de Michael, novo chefão sucessor do poderoso Don Vito Corleone, advertindo seu irmão Fredo a nunca tomar partido de ninguém contra a família e suas ordens.
Por ser mais velho que Michael, Fredo sempre se ressentiu por não ter sido escolhido como o novo líder pelo pai, depois do assassinato do irmão mais velho Sonny. Mas o filme mostra que a escolha fazia sentido: Fredo era um mulherengo, mais fraco e menos inteligente que os irmãos, incapaz de agir sem ser influenciado.
No início de O Poderoso Chefão II, Fredo aparece como o subchefe de Michael, mas mesmo assim mina a sua autoridade e é percebido pelos inimigos como o elo fraco da organização criminosa chefiada pelo irmão.
Fredo acaba por trair o irmão aceitando secretamente ajudar a família do gangster rival Hyman Roth em troca de compensação. Pouco depois, é feito um atentado contra a vida de Michael. O filme nunca revela qual assistência Fredo forneceu e o que recebeu em troca.
Depois que Michael percebe que Fredo é o traidor dentro da família, ele o confronta e o cumprimenta com o beijo da morte. Em seguida, diz a seu assassino pessoal “que nada deve acontecer com Fredo enquanto a mãe deles estiver viva”.
A lição para os dias de hoje é que se você está em uma posição de poder ou liderança, é essencial exibir para as pessoas de fora uma frente unida, que não mostre externamente sinais de dúvida quanto à sua orientação.
Você não pode se dar ao luxo de atuar com alguém que está intencionalmente minando sua liderança. Mas é claro que deve permitir internamente que todos da equipe possam discutir o curso das ações, cabendo a você persuadi-los com boas respostas às perguntas e inseguranças que possam ter.
Embora às vezes dê até vontade, evite a todo custo os métodos do Poderoso Chefão. No final da parte II, após a morte da mãe, Fredo é executado pelo assassino pessoal do irmão enquanto ambos pescam num lago.
2. Crie alianças de longo prazo
Uma das principais habilidades do Poderoso Chefão Don Vito Corleone era a de colecionar pessoas em dívida com ele e assim criar alianças com pessoas que podiam protegê-lo e beneficiá-lo no longo prazo.
Ao longo do filme, ele constrói uma rede de pessoas que lhe deviam favores em todas as esferas, desde o pequeno comerciante local até os mais poderosos do país.
Apesar de liderar uma organização criminosa, fazia as pessoas entenderem que era um homem de palavra e que qualquer acordo firmado seria mantido até o fim.
Também buscava firmar acordos de mútuo interesse, ajudando com prazer quem o procurasse, pensando no futuro.
Portanto, o que podemos aprender com Don Vito é que ao invés de tentar constantemente extrair algum tipo de benefício ou apenas usar as pessoas para alcançar um objetivo imediato, mude essa ideia e pense em como você pode ajudar sem necessariamente receber algo instantaneamente em troca.
Isso ajuda a construir conexões de longo prazo e uma poderosa networking, tão essenciais nos dias de hoje.
Por último, lembre-se sempre que Don Vito, ao contrário dos outros chefões da época, nunca utilizou a violência em suas abordagens iniciais para firmar suas alianças ou acordos. Era só seu último recurso.
3. Pense conforme as perspectivas das pessoas em torno de você
“Tente pensar como os outros ao seu redor pensam”, ensina Michael no filme.
Os Corleone, tanto o pai Vito como o filho Michael, eram muito bons nisso. Eles procuravam analisar os problemas colocando-se na perspectiva não só de seus inimigos, mas também das pessoas em torno deles.
Eles buscavam e usavam as informações a respeito de quem interagiam para prever e evitar potenciais crises e perdas desnecessárias.
Nos dias de hoje, em ambientes cada vez mais competitivos, é fundamental agir como os Corleone. Procure ver as coisas das perspectivas das outras pessoas, para prever como vão reagir e assim escolher o melhor caminho a ser tomado.
Os Corleone e os inimigos
4. Nunca odeie seus inimigos
“Não é pessoal. São estritamente negócios”.
Essa é uma das falas mais marcantes de Michael em O Poderoso Chefão, para explicar aos interlocutores suas decisões, às vezes contrárias a amigos e até parentes.
Era outra regra básica seguida pelos Corleone, de maneira a evitar que as emoções ou o ódio pelos inimigos influenciassem suas decisões, como ensina Michael em outra cena:
“Nunca odeie seus inimigos. Isso afeta o seu julgamento”
Mesmo sem ter que lidar com os tipos de inimigos mafiosos dos Corleone, volta e meia vamos nos deparar com pessoas que irão ao extremo para atingir seus objetivos, mesmo que isso signifique não jogar de acordo com as regras.
Nessas horas, todos temos que lembrar de não ser tão sensíveis e de não considerar tudo como um ataque pessoal. Esse erro pode levar você a fazer opções das quais vai se arrepender mais tarde.
Mas isso não quer dizer que os Corleone gostavam dos inimigos. A ideia é deixar as emoções de fora e tomar decisões com raciocínio racional e lógico, sem buscar obter revanche.
Mas como nem os Corleone eram de ferro, é claro que de vez em quando umas cabeças de cavalo apareciam na cama de alguns inimigos – sinal mafioso de que a morte estava próxima.
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5. Cerque-se das pessoas certas
“Você está fora, Tom. Você sempre foi um ótimo conselheiro. Mas não para estes novos tempos de guerra.”
Com essa fala, Michael destitui o conselheiro Tom Hagan das funções que exercia há muitos anos no momento em que aumentam os conflitos com as outras famílias mafiosas.
Essa foi outra lição aprendida com Don Vito, que sabia como e quem usar em cada situação.
O Poderoso Chefão sabia quando enviar o refinado Tom Hagan para negociar polidamente em reuniões formais. Ou quando usar o bruto Luca Brazi quando não se conseguia chegar ao objetivo com base na conversa.
Ele tinha a qualidade de saber escolher as pessoas certas para as funções certas nos momentos certos.
E é o que deve nos guiar hoje na formação de equipes. Pense nas capacitações das pessoas que você vai precisar para atingir os objetivos que precisa alcançar.
E certifique-se de que eles serão capazes de trabalhar de forma eficientes juntos, como faziam os comandados de Corleone.
6. Nunca deixe que o adversário saiba o que está pensando
Nas cenas do funeral de Don Vito Corleone em O Poderoso Chefão, imagine se o filho Michael demonstrasse sua raiva e começasse a gritar contra Barzini, o rival mafioso responsável pela morte de seu pai.
Isso estragaria seus planos de retribuir com a mesma moeda.
Esse é um princípio que continua muito importante nos dias de hoje, devido à vantagem do elemento surpresa.
Revelar os planos apenas no momento apropriado garante uma vantagem nas negociações, se a outra parte não souber quais são suas reais intenções ou objetivos.
O filho mais velho de Don Vito Corleone, Sonny, nunca entendeu essa regra básica. Ele revelava suas intenções e isso o fez fracassar, permitindo que os adversários roubassem as oportunidades ou criassem obstáculos para fazê-lo fracassar.
Já Michael era um mestre nisso. Em O Poderoso Chefão III, ele deixa a audiência atônita tentando descobrir o que ele estava tramando, o que só era revelado no momento da execução de suas ações.
7. Nunca seja descuidado
“Eu passei minha vida não sendo descuidado. Crianças podem ser descuidadas, mas não os homens.”
Esse foi um dos principais ensinamentos de Don Vito durante o preparo de Michael para sucedê-lo.
O cuidado com os detalhes, que podem fazer toda a diferença e levar ao fracasso, principalmente em questões consideradas desimportantes ou inconsequentes.
Don Vito Corleone buscava compreender cuidadosamente as consequências de cada ato.
Ao longo da história, ele calculava cuidadosamente cada movimento e analisava as intenções das pessoas antes mesmo de encontrá-las.
Mas o filme mostra um momento em que até o Poderoso Chefão foi descuidado.
É verdade que devido à sua idade avançada, Don Vito estava fadado a cometer um erro, quando não garantiu que sua segurança fosse mantida e sofreu um atentado.
E isso reforça a importância da lição: o descuido quase destruiu tudo o que havia construído.
8. Faça ofertas que não podem ser recusadas
O Poderoso Chefão Don Vito fazia ofertas com grande probabilidade de serem aceitas, baseadas em três pontos.
Em primeiro lugar, buscava entender o que o interlocutor queria e as coisas que consideravam mais valiosas.
Em segundo lugar, oferecia benefícios para as duas partes ou que não prejudicassem os interesses de ambos.
Por último, mantinha a reputação de ser correto no que combinava e de não trair a confiança de quem fazia acordos com ele.
É claro que o fato de ser um Poderoso Chefão da máfia que poderia fazer uso da violência davam a Don Vito uma vantagem adicional para evitar recusas, mas com esses três mandamentos você também pode se tornar um mestre das negociações.
9. Leia a linguagem corporal do interlocutor
“Eu tenho uma fraqueza sentimental pelos meus filhos e os mimo como você pode ver. Mas eles falam quando deveriam ouvir.”
Nessa fala, Don Vito Corleone demonstra a importância de ser a pessoa que recebe as informações, ao invés de fornecê-las.
E isso se aplicava às pistas reveladas pela forma com que os interlocutores se comportavam ao conversar com eles.
Isso dá a vantagem de entender as intenções da outra parte e, mais importante ainda, o que elas gostariam de esconder de você.
Além disso, se você estiver ativamente prestando atenção na linguagem corporal do outro, além de perceber essas pistas, estará se policiando para não fornecê-las.
10. Grandes homens não nascem grandes, eles se tornam grandes
Em outra cena marcante, o Poderoso Chefão revela ao filho Michael sua essência:
“Trabalhei minha vida toda e me recusei a ser uma marionete tola dançando nos cordões puxados por aqueles figurões.”
Don Vito Corleone nasceu com quase nada e o pouco que tinha foi tirado dele.
Mas ele não deixou que as circunstâncias o destinassem ao fracasso.
Essa talvez seja a principal lição: são as dificuldades e os obstáculos que fazem aparecer nossas melhores qualidades.
Os grandes homens também tiveram que superar situações difíceis. A diferença é que eles não ficaram reclamando das dificuldades. Trabalharam, demonstraram seu valor e se tornaram grandes.
Don Vito Corleone, apesar do caminho imoral, é um exemplo de quem se redimiu e se reinventou para se libertar do papel secundário que lhe era reservado pelo destino para se tornar o Poderoso Chefão.
Sua história rendeu um filme que já nasceu grande e vai se tornando maior ainda à medida que o tempo passa.
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