Em um padrão que vem se repetindo na América Latina, mais um jornalista de um veículo de comunicação local que denunciava corrupção e crimes em sua região foi assassinado, desta vez na Guatemala.

A nova vítima da onda de ataques foi Orlando Villanueva, proprietário e repórter do Noticias del Puerto, um site e página do Facebook que informa sobre notícias e política local em Puerto Barrios, leste do país.

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), ele foi morto a tiros em um complexo esportivo público na cidade de Puerto Barrios, capital da região de Izabal.

Escalada de crimes contra jornalistas na região

Ao menos 14 jornalistas já foram assassinados na América Latina em 2022. A maioria dos casos (8) foi registrado no México, país que vive uma vertiginosa escalada de violência contra comunicadores e deixa em alerta entidades defensoras da liberdade de imprensa em todo o mundo. 

Mais jornalistas morreram até agora na região do que na guerra na Ucrânia, onde cinco perderam a vida. 

Um dos casos aconteceu no Brasil em fevereiro, e em circunstâncias semelhantes à do guatemalteco. Givanildo Oliveira mantinha um site de notícias na periferia de Fortaleza e foi assassinado a tiros quando caminhava na rua, em um crime que chegou a motivar uma manifestação oficial da Unesco cobrando apuração. 

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Jornalistas assediados por reportagens críticas 

Segundo o CPJ, a morte do jornalista Orlando Villanueva é um exemplo de como profissionais de imprensa são assediados por forças de segurança da Guatemala.

O crime aconteceu no dia 8 de março e  foi divulgado pelo organização na semana passada, com um pedido de apuração rigorosa. 

Em Izabal, muitos já foram processados ​​criminalmente por reportagens sobre manifestações e questões ambientais, conforme documentou o CPJ.

Villanueva cobria a política local e suposta corrupção em Izabal, e o Noticias del Puerto publicou recentemente reportagens sobre crimes, questões de segurança e protestos sociais na área.

Em 29 de outubro de 2021, o jornalista disse durante uma transmissão ao vivo no Facebook que policiais e promotores públicos tentaram invadir sua casa depois que ele denunciou a violência policial durante um protesto de mineiros.

A Associação Guatemalteca de Jornalistas, um grupo de defesa da imprensa local, disse ao site de notícias independente Prensa Comunitaria que Villanueva alegou ter sido intimidado por promotores locais em Izabal.

A associação, no entanto, não forneceu mais detalhes sobre a natureza da intimidação ou as razões para isso.

No atentado que matou o jornalista, um menor também foi ferido e transportado para um hospital local, de acordo com a mídia local. 

A polícia nacional da Guatemala abriu uma investigação sobre o crime contra o jornalista, disse o porta-voz da polícia Jorge Aguilar em mensagem ao CPJ.

“As autoridades guatemaltecas devem conduzir uma investigação confiável sobre o assassinato do jornalista Orlando Villanueva e determinar se o crime foi ligado ao seu trabalho”, disse Natalie Southwick, coordenadora do programa América Latina e Caribe do CPJ, em Nova York.

“A imprensa deve poder reportar livremente e com segurança em regiões como o departamento de Izabal, que se tornou um lugar cada vez mais perigoso para jornalistas que cobrem questões ambientais e sociais nos últimos anos.”

Pelo menos seis jornalistas foram mortos na Guatemala em conexão direta com seu trabalho desde 1992, segundo os registros do CPJ.

14º crime contra jornalista na América Latina 

A guerra na Ucrânia e os crimes contra jornalistas no México fizeram o número de profissionais de mídia assassinados disparar em 2022.

Antes do fim do primeiro trimestre do ano, o mundo já contabiliza quase a metade do total de jornalistas mortos de 2021.

Na América Latina, ao menos 14 profissionais morreram em circunstâncias relacionadas ao exercício da profissão.

O diretor e editor do site mexicano Monitor Michoacán, Armando Linares, foi o oitavo jornalista a morrer em consequência dos atentados letais sofridos pelos profissionais de imprensa do país neste ano.

Outros quatro países da região contabilizam assassinatos de jornalistas em 2022: Haiti (3), Brasil (1), Honduras (1) e Guatemala (1).

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